segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O que foi e o que virá...




Tomei emprestada uma frase do queridíssimo Homero (http://homeroeu.blogspot.com) artista e pessoa da melhor qualidade para iniciar esse blog:

"Se você puder, brevemente, dar um recado ao ano que vem, peça a ele que mostre pra gente, o valor que gente tem."

Isso aí, sem isso não dá.
E valor, penso eu, é muito além do que a palavra diz.
Anda na moda o tal " agregar valor" como instrumento para se vender melhor alguém, algo ou idéia. Nada disso.
Falo do básico, do simples e, portanto, vital.
Esses meses que o calendário determinou que representaram o ano de 2010, foi duro, foi de confrontos, de medir implacavelmente a diferença entre " ser e ter".
Perdemos algumas ilusões sobre muitas pessoas, que na hora H trataram de colocar um pé enquanto corríamos e tentaram nos derrubar, mas saltamos no ar e mesmo com o susto, permanecemos em pé.
Perdemos certa inocência que fazia com que usássemos, vez ou outra, aquele lindo par de óculos de lentes cor-de-rosa, mas é certo que corrigida essa miopia, pudemos enxergar tantas outras belezas que não supúnhamos existir.
Percebemos que esse ano não deu para comprar quase nada, nem roupas, nem os filmes, livros e músicas que amamos, mas ainda assim com o nosso pouco, conseguimos dividir com outros que não tem quase nada. Descobrimos, então, que ser feliz passa longe de shoppings, viagens, bens de consumo e aquisições.
Muitas imagens, que criamos com nossa destemperada fantasia, se trincaram durante o trajeto. Não existiam, não eram para ser levadas a sério. Saímos mais fortes, portanto, pois já não é mais possível colocarmos nossas estacas em terrenos movediços.
Muitos de nós perdemos nossas casas, literalmente, nosso chão, mas acreditem, não nos perdemos de nós mesmos.
Sou uma dessas, termino esse espaço contido no calendário, 2010, sem saber para onde vou, nem se vou ou se fico. Zerada, em todos os sentidos.
A casa, num sentido simples, não tem mais endereço certo, nem CEP, nem localização conhecida. Não sei onde será. Mas tenho a " casa" vivida e experimentada, dentro de mim. Os cheiros bons dos temperos, as panelas fumegando, as flores desabrochando em vasos, o colo, o abrigo, o conforto e as fotos de família e os risos, tudo dentro de mim. E assim será, sempre, onde quer que eu vá.
Perdemos pessoas, únicas e insubstituíveis, como sempre são as pessoas que amamos.
E ainda assim, depois de enterrarmos nossos mortos, seguimos lidando com a vida, com os desafios e com mais uma gota no imenso cálice das saudades...
Agora é sair de 2010, colocá-lo no acervo da memória, catalogar as lições aprendidas, registrar os erros e não comete-los mais, mesmo que seja para cometermos outros, novos.
E abrir o peito para essa convenção que se chama " Ano Novo".
Vou procurar vislumbrar 2011 como nova oportunidade, mesmo que dependendo de todos os feitos e desfeitos de 2010,2009,2008...
E me manter firme e lúcida. E feliz. E com esperanças.
Temos muito afeto para compartilhar, muitos abraços e beijos para trocar, muita gente para ajudar e muita ajuda a receber.
E que, enfim, gente sempre seja o mais importante e legal do mundo.
Gente que ri, chora, empreende, salta, ousa, inventa, parte e fica.
O que te desejo? Coragem, força, fé e muita humildade.
Lindo 2011.

Nil

Ps- Dedico esse texto para Luiza, minha filha, que me deu esperanças com seu lindo trabalho no " Teto para o meu País".

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Certo e errado





Tem o certo. Tem o errado. E tem todo o resto.(Cazuza)

Verdade,
O que é certo? Não matar, não roubar é indiscutivel, mas tirando isso fica a dúvida.
O que é errado?
Será que a gente sabe mesmo a diferença?
Olho para trás e vejo a maneira como fui criada, os valores recebidos, uma grande rigidez em relação a certos conceitos como " respeito" e obediência.
Evidente que achava, quando adolescente, tudo isso muito errado..rs...
Questionava os posicionamentos de meus pais por achar que eram inflexíveis e autoritários demais. "Não" era "não", nunca sim nem talvez. E esses " nãos" vinham com grandes explicações.
Hoje relembrando tudo percebo que eles não tinham " culpas", portanto não precisavam justificar perante filhos, mundo e eles próprios, o que achavam certo ou errado.
Agora, aos 55 anos, acho que meus pais estavam certos...
Minha geração, filha de Woodstock, do flower power e das liberdades, parece que encontrou enorme dificuldade em educar seus filhos.
Calma, fizemos coisas bem legais, temos ótimo diálogo, não existem mentiras nem medos entre nós, os criamos com muita música, arte de todos os tipos e literatura, enfim formamos seres bem bacanas.
Mas em alguns momentos essa " igualdade" como indivíduos que permeou as relações, resvala para a falta de respeito, desconhecimento de hierarquia, e eles acabam acreditando que tudo podem, inclusive serem mal educados e invasivos.
Vejo com muita clareza a imensa dificuldade que tive como mãe, ao impor regras, limites e cobranças. E vejo hoje que nossos filhos também se perdem um pouco com isso.
Vamos deixar algo bem claro, respeito é bom e eu gosto. E isso sei que exemplifiquei o tempo todo, não os invado, não palpito onde não sou chamada e se por acaso decidem algo que sei que vai dar errado, alerto e ponto, sem mais tarde cobrar a minha " sabedoria". Ou seja, os respeito como pessoas e filhos.
E quero a contrapartida.
Sou amiga, sou confidente, apoio, ajudo e participo. Mas tenho meu espaço como ser, como gente, como alguém que vive e pensa e quero ser vista assim.
Uma mãe que viveu a década de 70 como adolescente é, certamente, muito mais maleável, paciente, tolerante e sem preconceitos, mas ainda é mãe, com todas as prerrogativas ( deveres e direitos) do cargo!
Tem o certo, tem o errado e tem todo o resto, disse o poeta Cazuza.
Verdade, vamos apenas esclarecer que nesse " resto" cabem o respeito, a boa educação e muito afeto. Sem abusos nem grossuras.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Toninho

Nunca tive irmãos.
Fui filha única até hoje sem entender bem porquê. Dizia minha mãe que como meu pai era muito velho ( quando nasci ele tinha 51 anos), havia o receio de que ela ( com 26 anos) ficasse viúva com muito filhos para criar..
Outra conversa dizia que minha mãe se tornara estéril. Nenhuma dessas "lendas", entretanto, pode aliviar o fato de que nasci e cresci como filha única.
Há em mim uma imensa curiosidade e fascínio pelo que é uma relação entre irmãos.Não conheço, acho, esse sentimento. Irmão deve ser alguém muito próximo, alguém com quem se pode desenvolver todo um código secreto, uma espécie de confraria onde tudo se pode falar, pois o outro há de entender. Pode ser uma fantasia minha, pois em minhas observações durante a vida tenho visto irmãos que se odeiam, que tentam prejudicar uns aos outros, que não tem sequer a menor afinidade, mas ainda assim prefiro a idéia de que ter irmão é uma coisa linda!

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Eu deveria ter uns 8, 9 anos quando o conheci. Não me lembro com muita clareza do momento, às vezes tenho a sensação de que ele sempre esteve lá.
Dos primeiros tempos não tenho muito a contar, memórias de crianças mais se assemelham a um quebra-cabeças feitos em aquarela, lindas peças cheias de imagens, cenas, sons e cheiros em suaves tons diluídos em água...
Mas ele, Toninho, foi o mais próximo de um irmão imaginado...
Era mulato, pobre, eletricista, encanador, um faz tudo, com estória de vida triste e solitária. Mãe hanseniana, naqueles tempos essas pessoas eram isoladas em clínicas distantes, foi criado num colégio interno, que naqueles tempos mesmo recebendo crianças carentes, formavam e educavam com competência.
Ele entrou na minha família através de um tio, Walter, especialista em gente.
E foi meu amigo, meu companheiro, uma das únicas pessoas em quem meus pais confiavam a casa e a filha única quando viajavam.
Culto, informado, leitor assíduo e cinéfilo de carteirinha, passávamos os finais de semana vendo filmes e jogando. Nunca ouvi dele um palavrão ou gíria, prezava a língua e suas regras e era incapaz de um comentário, sobre qualquer assunto, que não tivesse o mínimo de lógica e fundamento.
Contador de histórias, a maioria inesquecível, companheiro de copos e apaixonado por crianças e animais, Toninho foi meu amigo, meu irmão.
Estranho, nos últimos anos, quando ele aparecia aqui para nos socorrer com algum vazamento, pane elétrica, eu abria meu coração, chorava, reclamava dos problemas, medos, falava das minhas preocupações com os filhos, com as netas. Ele, capricorniano típico, me ouvia impassível e após alguns minutos de reflexão opinava de maneira prática e criteriosa sobre o melhor a fazer. Seu julgamento, baseado nesses anos de convívio com todos nós, lhe credenciava, através da inteligência e percepção, a "enxergar" soluções e encaminhamentos.
Era digno, honesto, sério e só assumia suas emoções escancaradas quando tomava umas biritas a mais e telefonava para dizer o quanto gostava de mim, de nós, que éramos sua família e chorava ao telefone de saudades de todos que já haviam partido. Embriagado, abria o coração sensível e delicado.
Uma das minhas tias, Dulce, linda e intuitiva, costumava dizer que Toninho tinha a " alma de príncipe". Tinha mesmo, aprisionada num corpo e num meio que nada tinham a ver com sua real essência.
Toninho foi embora no último sábado. Meses atrás sofreu um AVC e nunca mais se recuperou. Penso que esses meses que se manteve vivo, mas sem reagir mais, foram necessários para que ele deixasse as " roupas" usadas nessa vida e passasse a usar aos de príncipe, que eram suas por direito. E também para que nós, que eu me acostumasse a ser, mais uma vez, filha única, sem irmãos.
Meu caro amigo-irmão, a sua saída, assim, deixou um imenso vazio.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Notas esparsas...

De tudo um pouco do que andei pensando.



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Dilma

Estou tranquila para comentar isso, não faço parte da tietagem sem noção.
Dois atos prá lá de elogiáveis da próxima presidente: trocar o Celso Amorim da Chancelaria, em meu modesto ponto de vista isso representa um avanço incrível ! Esse cabra não dá!
A outra, sua atitude firme e digna ao criticar em entrevista ao Washington Post, a posição do governo brasileiro de se abster em votar a condenação de Irã por violações de direitos humanos.
Pelo menos parece que vai existir um pouco mais de bom senso e menos espetáculos pirotécnicos e conversas pusilânimes na política externa do futuro governo. Ponto prá Dilma!

Ps- quem sabe ela não tem outro momento de inspiração e aposenta, de vez, o Marco Aurélio Garcia!
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Corinthians

Pessoal, não adianta me mandar piadinhas, provocações, comentários maldosos e jogos de palavras. Não fomos campeões do Brasileirão, mas continuamos com aquela qualidade que nenhum torcedor, de nenhum outro time tem: paixão. E fidelidade.
Vi sãopaulinos, vascaínos, palmeirenses e muitos outros, torcerem para o Fluminense. Deve ser porque não tem seu próprio time para torcer.
Sorry, nós temos. Somos um bando de loucos, lembram!!???kkkkk

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Um Teto

Esse final de semana minha filha, Luiza, foi ajudar a levantar casas para famílias carentes de uma comunidade em Suzano-SP, com o pessoal da Ong " Um Teto para meu país".
Ela tinha churrasco de formatura organizado pelo centro acadêmico numa linda chácara alugada, além de toda a programação normal da turma ( baladas, cines, etc).
Luiza escolheu o teto, está envolvida nesse lindo trabalho, mesmo tendo que carregar painéis de 200kg e aprender a martelar e colocar portas e dobradiças. Voltou quebrada, suja e imensamente feliz.
Bom ver isso, bom perceber quando o " amar o próximo " sai das páginas de livros ou de debates filosóficos e entra nas nossas ações do dia-a-dia.
Lu, tô orgulhosa de você!


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Embú das Artes

Ah...que delícia...
Um lugar mágico, as construções dos jesuítas, as casas, as lojinhas de móveis, o pessoal passeando com calma, muitas crianças e um domingo de sol.
E mais, um chopp gelado e música agradável permeando tudo. A simpática Paula, com sua voz delicada nos encantou no dia tão sem problemas que passamos por lá.
Embú é lindo.Vá mesmo, com tempo e coração aberto.


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Dores

Essas persistem, ali estão, seguem firmes. Mágoas, tristezas e decepções...
Mas como não tem como, vou lidando, vou buscando em cada notícia lida, passeio, atitudes de pessoas queridas e amores, não deixar que elas ocupem mais espaço que já ocupam...
Minha opção? Ainda é a pela felicidade, pelas pequenas alegrias, pelos momentos, fugazes, de me sentir feliz e perceber que faço parte dessa incrível aventura que é a vida!

Boa semana

sábado, 4 de dezembro de 2010

Alianças




Esse tema, alianças, tem sido recorrente.
Desde às eleições, quem apoia quem, enfim, aquela coisa esquisita que se viu, mais algumas coisas que andaram acontecendo por aqui, me fizeram pensar, e muito, sobre alianças.
Alianças instáveis, como são todas as alianças.
Treco complicado.
E tem a ver com posicionamentos, opiniões, escolhas e no meu caso com o terrível hábito que tenho de falar o que penso. Deveria, isso sim, manter a boca mais fechada e deixar o barco correr, pois não há uma única vez em que não saia prejudicada ou magoada com isso.
A discute e ofende B, quase saem às vias de fato, isso em minha casa num pretendido almoço familiar de domingo. Procuro colocar panos quentes ( mas que mania!), B para não degringolar ainda mais o dia vai embora, deixa o campo de batalha depois de devolver as ofensas. A continua vociferando, peço calma, peço que páre. A saiu batendo a porta, ameaçando e, agora sim, transfere sua raiva contra mim.
A e B fazem as pazes em regulamentares 24hs.
B agora serve de intermediário, pois A não fala mais comigo!! Pode?
Em questão de horas a confusão e aparente aliança se deslocou, mudou seu epicentro e eu, além do desgosto e aborrecimento de uma cena patética e grosseira entre 2 adultos, passo a ser a vilã dessa comédia grotesca.
Quero quer que A e B imaginassem que eu fosse um ser passivo, sem voz nem temperamento. Que assistisse impávida e colosso como o Brasil, minha casa, meu espaço, minha paz, minha tranquilidade serem invadidas, arrasadas por motivos que sequer me diziam respeito.
Ou seja, queriam um " inglês" cheio de fleugma e distanciamento, mesmo diante de um terremoto acontecendo!
Não dá, sinto muito.
Sei que já faz algum tempo que isso tudo aconteceu e sigo sendo punida.
Meu crime ?Não aceitar a agressão e o desrespeito de A, que não foi só contra B, mas contra mim e todos que aqui estavam.
O que me consola? O que disse acima: todas as alianças tendem a ser instáveis. Variam, mudam, se alteram, ao sabor das conveniências do momento.
Muito chato e estranho isso tudo.
A dificuldade que existe em se respeitar o outro, ou outros, a imensa falta de humildade para se pedir desculpas, a grandeza em se reconhecer erros e exageros...
Mais fácil tranferir e congelar a raiva, usar pretextos absurdos e irracionais para não voltar atrás e deixar o dito pelo não dito.
Não há de ser nada.
Todas as alianças são instáveis, questão de tempo e eu que aprenda a me calar, me omitir, fugir de " bolas divididas" e quando a coisa ferver, eu que pegue minha bolsa e saia porta afora.
Mais sábio e muito menos doloroso.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

El tiempo





El tiempo pasa y nos vamos poniendo viejos y el amor no lo reflejo como ayer. Y en cada conversación, cada beso, cada abrazo, se impone siempre un pedazo de razón. ( El Tiempo pasa- Pablo Milanés)

E agora o amor tem mesmo outra cara. Ou outro jeito. Antes fundamentado em paixões intensas, em sensações físicas e muita expectativa, agora vive de pequenos gestos, quase imperceptíveis...

Delicados, quase invisíveis.
Não há espaço para ostensivas demonstrações de carinho ou afeto, mas a cumplicidade, o reconhecimento do outro, com suas virtudes e defeitos.
E amamos até mesmo os defeitos. Tudo que antes incomodava agora aprendemos a conviver e relevar e isso nos dá um bom parâmetro.
Não é mais o príncipe num cavalo branco, nem o salvador da pátria que espero.
Quero o braço e o colo, a palavra, mesmo não dita, melhor sentida, quero o olhar de compreensão.
E nesses anos, longos anos, de tantos amores e buscas, quero alguém ao meu lado que tenha a paciência de me suportar, de me animar, de me roubar da terrível sensação de ser só.
É um amor feito mais de longos silêncios do que de declarações enfáticas.
De movimentos sutis, não de arroubos espetaculares.
O tempo passa, disse o poeta Milanés, passa mesmo, como tudo, mas nesse caso o ganho é enorme, incalculável, pois desonera o outro de ser o fiel depositário da minha felicidade.
Somos dois e somos um, o tempo todo.
Somos dois, com identidades ( que já conhecemos), com gostos ( nem sempre parecidos), com opiniões ( muitas vezes opostas), com manias ( que achamos graça e fazemos piadas),
somos duas pessoas.
E somos um quando algo nos ameaça, quando algo busca interferir ou quando sonhamos nossos sonhos.
E quem olha de fora pensa que algo não vai bem, pois atingimos o direito de ficarmos sós, em nossas coisas, textos, livros e filmes.
E é justamente isso que nos torna tão próximos, tão incrivelmente unidos.
Shakespeare tem uma frase que me agrada : " o que o tempo te tira, eu te acrescento"
É isso.
Nesse incrível relacionamento que vivo estou sempre sendo " acrescentada" em algo por esse amor, por esse afeto, simples e direto, sem frescuras, sem romances tropicais nem desfechos de novela.
Tudo faz sentido, mesmo com o tempo passando e nos " poniendo viejos".

Para Gil, sem maiores explicações.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Chegamos!





There are places I remember all my life,
Though some have changed,
Some forever, not for better,
Some have gone and some remain.

All these places had their moments
With lovers and friends I still can recall.
Some are dead and some are living.
In my life I've loved them all. ( In My Life- Lennon/McCartney)


Chegamos, minha querida!
E não foi fácil, você sabe.
Quis te contar ainda ontem, mas cheguei tarde, a emoção era muita, tive que ter um tempo para organizar meu coração.
Você se lembra do começo, não? Todo mundo pensava que seria mais um menino, menos você! Tinha como liquida e certa a chegada de uma garota. Você sabia, sempre me conheceu bem, que eu queria uma filha para completar a vida depois dos 2 lindos garotos que já tinha...
E os primeiros anos? Aquela criaturinha tão diferente de nós, com seus olhos e jeito oriental e ao mesmo tempo tão parecida com as mulheres de nossa família, com você: teimosa, cheia de opinião, temperamento forte e festeira!
O amor entre vocês foi desde sempre. Uma conhecia a outra, uma mimava a outra e ambas se uniam para me arreliar!
E tanta coisa aconteceu, os anos se passaram, dias bons e ruins, tantas dores, perdas, separações e nossa menina enfrentando com valentia e coragem os altos e baixos. Dias de tudo e outros de muito pouco...
Mas você estava ali, tal como fizera com os meninos, ajudando, aparando os golpes, acolhendo e nos fazendo acreditar que tudo passa.
O tempo só as uniu. E depois, quando o teu tempo estava para terminar, foi a nossa garota que ajudou a te cuidar, a te enfeitar, a ler prá você. E me ajudou a me preparar para a tua partida.
E ela foi forte, mais do que nós duas juntas. Enfrentou a morte, a tua morte , com dignidade, com coragem e não fugiu de situações que eu mesma não poderia suportar.
Chegamos, minha mãe.
Graças a tudo, à vida, ao destino, àquele que tudo sabe e enxerga dentro de nossos corações. chegamos aqui!
E graças à você que a amou, que acreditou, que pagou anos de faculdade para manter nossa menina estudando. E que ensinou a ela, depois de ter me ensinado, que a vida é isso, é luta, é sonho, é foco, é beleza e bondade. E que o conhecimento é a maior herança que se pode juntar!
Luiza está formada, pronta para alçar voos que um dia, eu e você, imaginamos!
E sei, nesse voar ela te levará junto e te mostrará novos caminhos, novos sonhos e projetos e mais uma vez, um dia, quem sabe, ela poderá passar tudo que recebeu de você para alguém...
Sei que está feliz, minha mãe. Sei que, como eu, sente o peito leve e o coração sem susto.
Você viverá para sempre na nossa Luiza, pois muito do que é dela é seu, veio de você.
O teu amor, sempre incondicional, que deu a todos nós, nos trouxe até aqui. Mesmo sem tua presença física, mesmo com tantas saudades, mesmo com a aparente distância, te sentimos em nós.
E vim correndo te contar, mãe, que estou feliz e sei que você também!

Para minha mãe e Luiza, mulheres da minha vida.









sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Carta ao Paul





Querídissimo Paul

Não, eu não vou ao seu show no próximo domingo...
Uma pena, fiquei muito triste com isso.
São aquelas coisas da vida que não temos como controlar e nem muito menos alterar.
Esperei por você por mais de 40 anos e na hora H não rolou...
A vida tem dessas ironias mesmo e acabo me conformando.
Quero te dizer, embora sinta que já sabe, que meu afeto e admiração são os mesmos dos primeiros tempos. Sua voz, sua presença e beleza, seu talento e suas canções serão sempre a trilha sonora da minha vida.
Lembro quando o ouvi , acho que em 64 ou 65 e ali, naquelas músicas incríveis, estava a chave de minha futura rebeldia, minha busca, meus sonhos mais particulares!
A aprendi a dançar twist e rock com você, rodopiar no Twist and Shout, no I´m Down, no Please, Please me e no I want to hold your hand...
E a paixão estava selada para sempre.
Namorei com Hey Jude e chorei muito com Michelle...
Depois do final dos Beatles você continuou me emocionando com My Love, com Mull of Kentire, com Hope of Delivrance e mais recentemente com o maravilhoso àlbum Chaos and Criation in the Backyard que tem duas canções inesquecíveis : A Certain Softness e Too Much Rain...
Paul, não deu para ir ao seu show. Ando meio pobre, ando meio sem pique físico para enfrentar um estádio lotado para te aclamar.
Saiba, entretanto, que estarei lá de um outro jeito. Como estive no programa do Eddie Sullivan em 1964, no Budokan, Japão, em 1966, no Royal Albert Hall, nos estúdios da Abbey Road...
Com você sou sempre jovem, sempre menina, sempre adolescente querendo mudar o mundo...
E isso nem a falta de grana ou de preparo físico foram capazes de me tirar.
Me sinto muito orgulhosa de uma coisa e te conto aqui, meio em segredo.
A paixão que sinto por você compartilho com outra pessoa.
Tenho uma filha, Luiza, linda de viver. Essa garota de 22 anos é sua fã tão ou mais apaixonada que eu. Virou mundos e fundos e estará lá, no Morumbi, levando alegria e emoção. .
Minha filha foi gerada e criada te ouvindo. Estudou inglês por obra sua, aprendeu a amar tudo que foi lindo em décadas tão distantes dela, por você.
Não é fantástico?
Querido Paul, obrigada por tantas e tão belas canções. Por dar sentido a toda uma geração, única e inimitável. Fizemos todo o trajeto com você ao nosso lado. Fomos felizes e sofremos. Desafiamos, lutamos, quebramos paradigmas, viramos o mundo de cabeça pra baixo. E perdemos tanta gente querida nesse caminho, inclusive George e John.
Saiba, meu amado beatle, que te devemos muito, muito além da tua música: a magia encantadora de sermos jovens para sempre.

Te desejo um maravilhoso show. Nesse horário vou fazer um brinde à vida e à arte que nos deu você, Paul McCartney, para sempre.

de sua fã

Nil


http://www.youtube.com/watch?v=LvSAlQ4cPgs ( lindo...lindo...)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Gosto muito...





Gosto muito de inúmeras coisas, quando gosto, gosto assim, muito.
Já odiar não sei bem como...Aliás sei, mas dura tão pouco que acabo me esquecendo como é.
Existe hoje, nesse enorme planeta, uma única pessoa que não gosto nada. Ser desprezível, arrogante, hipócrita, mas não chego a odiar, afinal já tá tão judiado, quase caquético que deleguei à vida a justa punição que ele merece.
Dentre as muitas coisas que gosto muito, além do rock, o blues, macarronada, saladas, sapatos, perfumes, livros, amigos, bichos, plantas, jazz, ópera, escrever,está a minha cidade.
Alimentei, anos e anos, a fantasia de ir-me embora dela.
Ah! muito caótica, barulhenta, insegura, suja, congestionada, dura e implacável. Bastavam, entretanto, 2,3 dias, por exemplo em Curitiba, limpa, organizada, serena, para perceber o quanto amava Sampa.
Curitiba, Buenos Aires, Granja Viana, Santos, não importa qual, nem o tamanho, não dá. Não dá para viver sem SP.
Nasci em Pinheiros, fui adolescente nos Jardins e mulher madura no Brooklin.
Cada dia aqui é uma nova vivência, uma surpresa. Sabiam que aqui, ao lado de uma das maiores avenidas da cidade, a Roberto Marinho, antro de crackeiros, um dos meus vizinhos tem um galo? Sim, galo! E ele canta, trazendo no começo e final dos dias, a sensação incrível de se estar num sítio!?Pois é, Sampa...
E onde ter o tanto que tenho aqui? O MASP, a Benedito Calixto, av. Paulista, a Ponte Estaiada, o Mercadão, Viaduto do Chá, o Centro Velho, o Mosteiro de São Bento, os centros de compras específicos: Ceagesp, 25 de Março, São Caetano, Bom Retiro, Brás, Largo 13, Pari?
Onde compro flores ou tomo um ótimo café com pãozinho quente as 3 da manhã??
Qual lugar tem revistas inteiras dentro dos jornais apenas com os roteiros do programas culturais e gastronomicos para todos os bolsos?
Onde encontraria um descendente de italianos, depois um de chineses e agora um de árabes para me casar e formar família?
Pois é, somos mix, somos tudo, somos de todo mundo. Sampa é grande mãe, a maior capital nordestina do Brasil e agora, graças a certas jogadas marqueteiras, querem nos transformar em racistas, elitistas e outras " istas" que nem vale a pena citar.
Não é verdade. Não aqui.
São Paulo carrega esse ônus por ser moderna, por ser poderosa, por ser rebelde e conto que já fui maltratada em algumas cidades desse Brasil pelo fato de ser paulista(na).
O preconceito de verdade que existe é contra nós, mas reafirmo sem medo de errar, nenhuma outra cidade acolhe e dá tantas oportunidades para quem a adota e briga por ela.
Coreanos,bolivianos, nigerianos, além das velhas e enormes colonias ( japoneses, chineses, judeus, árabes, espanhóis, italianos, portugueses) que ajudaram a construir essa cidade, todos encontram aqui trabalho e dignidade, todos acabam virando paulistas.
Gosto muito da minha cidade, tenho orgulho dela. É sofrido, a concorrência é grande, as coisas não são fáceis, mas são possíveis.
Não gostaria de ver um abismo ser criado, por conta de politicagem rastaquera, entres todos os brasileiros.
Por outro lado estou tranquila, sempre amarei Sampa de todo o coração e contarei para as netas o quanto são privilegiadas por terem nascido aqui.

Bom final de semana.

http://www.youtube.com/watch?v=btn7E8yYvaM
Sampa, por Caetano, o mais paulista dos nordestinos!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Abrindo velas !




Algumas pessoas nascem com algumas " marcas". Ou sinas, se preferirem.
Tenho uma tia que foi, a vida toda, " perseguida" por àguas. Sim, estouros de encanamentos, de caixas d àgua, todos os tipos de vazamentoe até ressaca de mar em seu apartamento da praia, enfim, qualquer que fosse o lugar que morasse sempre acontecia algo desse tipo. Ela, após muitas vivências acabou se acostumando e se tornou meio " expert" nesse tipo de problema.
Comigo são as mudanças. Não, não falo aqui das mudanças interiores, mas daquela básica mesmo, de catar as coisas e mudar de casa.
Andei fazendo as contas e cheguei a esse dado: em 55 anos já me mudei 16 vezes! Só dentro de meu bairro 8!
Tenho, modéstia a parte, enorme " expertise" nisso.
Sei a logística ideal, por onde começar e terminar e a estranha capacidade de em muito pouco tempo deixar o lugar que moro com a minha " cara". Já fui de lugares menores para maiores, delícia, e vice-versa, terror puro!
Já me mudei sozinha, com os 2 filhos e uma cachorra pastor, gravidíssima (e mais os 2 filhos), empregada com família e além da pastor, outro cão enorme, com marido e sem marido.
Já mudei com caríssimas trasportadoras e com caminhão de aluguel, com Kombi, enfim, desse riscado eu conheço.
Há em mim um paradoxo. Amo, como boa virginiana, meu " chão" firme, a estabilidade, o certo e o conhecido, mas também, graças ao meu Gêmeos no ascendente e Lua em aquário adoro a novidade, achar novos espaços e descobrir como ocupá-los. Amo chegar onde moro e saber onde está tudo, mas também me encanta reorganizar tudo, novas paredes, novas janelas com nova vista!
Agora nesse ano da Graça de Nosso Senhor de 2010, coisa que imaginava ser de outra maneira, devo me mudar de novo. Um lugar menor (olha aí o terror de novo) com menos espaço, mas dentro do que nossa realidade anda permitindo.
Ainda não sei direito, mas sinto, como Mary Poppins, que o vento está mudando e logo, logo deve surgir um novo lugar...
Fico angustiada? Sem dúvida, já não sou a mesma, fisicamente, das mudanças anteriores, dessa vez sei que vou precisar de mais ajuda. Mas esse parece ser o meu destino, minha " marca".
Vai haver tensão, isso é certo, moro com 2 taurinos e um leonino que odeiam mudar, qualquer coisa. Eles optam pelo certo, pelo conhecido, pelo menor distúrbio possível. Coitados, pois tem o karma de viver comigo!
Não há de ser nada.
Minha cabeça já começa a traçar a logística, o como, o por onde e, como sempre acaba dando certo.
Aí me pergunto, será que realmente eu é quem gosto de mudar e acabo provocando isso ou a vida, justamente por saber o que iria me acontecer, me deu essa qualidade? O ovo ou a galinha?
Como estudiosa de astrologia tendo a achar que nascemos com as " ferramentas" necessárias para nossas vivências.
E me agrada muito a idéia da reencarnação.
Vai ver que em outra vida fui cigana, ou melhor ainda, pirata, sem porto definitivo, apenas navegando pelo prazer de navegar e poder descobrir tantas e tão diferentes coisas mundo afora!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Gentileza gera gentileza !





Anda " rolando" pelo Facebook, ou feissebuque..rs..a frase acima: " Gentileza gera gentileza".
Impressionante! Em minutos ela é compartilhada por muitas, muitas pessoas!
Acho que todos sentimos falta disso.
E são tantas as formas de se ser gentil e também de não se ser...
Um bom dia, um por favor, um me desculpe, uma xícara de café que chega às nossas mãos, a atenção de alguém ao escutar nossas estórias, lamúrias, opiniões, mesmo sendo chatas, o ceder a vez no trânsito, o retornar uma ligação em nossa secretária eletronica ou e-mail pessoal, evitar temas polêmicos com gente idem, estender a mão aos estranhos, olhar no rosto de todos que nos servem, de frentistas de posto de gasolina, caixas de supermercado a garçons e policiais, sorrir, sorrir muito, tudo isso é muito gentil.
Não adianta ter rapidez para tecer comentários mordazes, usar a ironia, as respostas cortantes e na bucha ou alusões sobre fatos desagradáveis que todos querem esquecer, apenas para não " perder a piada"...Essas atitudes podem até mostrar uma mente ágil, um intelecto privilegiado, mas passam bem longe da gentileza e delicadeza.
Isso se cultiva, se aprende, se treina e é preciso usar, o tempo todo.
Já vivi situações quase extremas, salvas no último segundo por um pequeno gesto, uma atitude sutil ou um sorriso ou olhar ameno. Em contrapartida já passei também pelo horror das discussões, grossuras, malcriaçãos e brigas iniciadas por motivos tolos. Indelicados.
Todos temos nossas opiniões, certezas, gostos, times, fés, enfim, todos nos achamos, em alguns momentos, sábios e donos da verdade. Mas isso tem cura com uma atitude de respeito e carinho pelo outro. Ou outros.
Durante muitos anos foi moda esse negócio de " sermos nós mesmos ", falarmos o que nos dava na cabeça, um tempo de mega inflação de egos.Os terapeutas de então estimulavam essas " sinceridades". Ser malcriado ou grosso era sinônimo de ser " bem resolvido". Péssimo resultado.
Isso sem contar aquele pessoal que vem com a esfarrapada conversa de " temperamento", de " gênio", esses então se vêem no " direito" de passar por cima de qualquer outro que não tenha tido a sorte de ser do mesmo jeito.
Fico pensando, concordo que não é fácil aguentar a cara enfezada do gerente do banco, do segurança do shopping, os xingamentos no trânsito, do amigo ou filho ou namorado que está de mau humor, mas garanto que é mais desarmar essas caras feias com uma palavra delicada, com um sorriso do que revidar na mesma moeda.
Gentileza gera gentileza. Tenho certeza disso.
E se não formos gentis acabaremos nos transformando em " pessoas gangorras", conhecem?
São aquelas que quando chegam em algum lugar todo mundo se levanta e sai de fininho.
Muito chato, não?

Boa semana.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Herrar



Tá aí, acho que descobri o óbvio. Ululante.
Como é difícil esse negócio de " pedir desculpas"...
Não só o abrir a boca e soltar a frase feita " me desculpe", tem que ser de verdade, de dentro do coração, tem que acreditar...
Primeira dificuldade: achar que errou.
Quem gosta de dar o braço a torcer? Quem quer se perceber sem razão? Até onde suportamos o arranhão causado em nossa imagem tão bem construída e cuidada ao assumir um engano? Duro isso...
Esse olhar para dentro, necessário para nos descobrirmos em erro, requer muita humildade, muito despudor em relação a nós mesmos. Olhar de frente nossa teimosia, nosso mal gênio, nossos impulsos desembestados, nossa arrogância. E dói. E volta a cena, o exato momento ou fato e podemos ver e rever nossa intolerância, nossa grossura, nossa bestialidade como num filme, desagradável, que somos obrigados a assistir mesmo querendo sair correndo. Deletar não dá.
Passado esse processo inicial começa o outro, tão ou mais doloroso.
A retratação.
Com que cara? A de paisagem?Quais palavras iremos usar, como abordar o tema? Como soar verdadeiro nesse pedido de perdão? Com lidar até mesmo com o direito do outro em não quer nos perdoar?
Ah...complicado, hein?
Meu queridíssimo primo Rubens Jardim, o Rubão, poeta de mão cheia, bolou com uma frase conhecida a seguinte imagem : HERRAR É UMANO.
Verdade, e continuando a frase, perdoar é divino. E o caminho para esse estado de divindade passa pelo coração, pela enorme humildade em se reconhecer em erro, em pedir desculpas com o olhar verdadeiro. Mesmo sem obter a redenção, mesmo que aqueles que magoamos demorem um pouco a acreditar em nós.
E vou descobrindo muitas coisas, uma delas bem importante, que ouvi anos atrás do querido e saudoso professor de ocultismo e astrologia Hélio Amorim: o perdão é fundamental, com a gente e com o outro. Somente o dia em que verdadeiramente entendermos o sentido disso começaremos a real evolução espiritual.

Bom final de semana.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sorry






Há dias que eu não sei o que me passa
Eu abro o meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
E acabo discutindo futebol
( Cotidiano nº2- Vinicius/Toquinho)


Pois é, amigos, vai aqui um pedido de desculpas.
Pela tristeza, pelo cansaço, por ficarmos sem música. Ou pelo menos a música que fazemos juntos.
Comentava outro dia, com Nancy, que o repuxo da maré anda forte, nos mantermos em pé cada vez mais difícil!
São fases, eu sei, embora sempre que falo assim me lembro do meu caro amigo Xyko: quando a gente dizia que a solução de determinado problema era apenas " uma questão de dias" ele respondi " sim, uns 2, 3 mil dias...".rs
Momentos de incertezas profundas, chão tremendo, saúde sentindo.
Essa postagem não é sobre o que me aflige, mas, de verdade, um pedido de desculpas.

Paramos as festas, ando fugindo dos encontros e quase não respondo e-mails.
A sensação é a de uma enorme ressaca, física, mental e emocional.

Em especial quero me desculpar com a Lia, Margareth e Dema pelos canos e por desmarcar tantas vezes nossos encontros. Andréa e Rô, pelos atrasos em escrever e em saldar velhas contas.
Com Nancy e Bianca, pelo silêncio no surdo e no violão. Com Newton por não poder falar tanto quanto gostaria sobre esperanças.

Vai passar, pois sempre passa, essa é a única garantia.

Dia desses a gente acorda animado, as nuvens se dissipam, os caminhos se abrem e toca a comemorar! E aí é " party on"!

beijo enorme

Nil

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Morte




"A morte torna a vida maravilhosa.Porque vamos morrer precisamos poder dizer hoje que amamos, fazer hoje o que desejamos tanto, abraçar o filho ou o amigo, temos que ser decentes hoje, generosos hoje, felizes hoje. (Lya Luft)"


Estavam sentados lado a lado. Cada qual numa poltrona, essas forradas com um tecido nobre mas meio puído, ficavam de frente para um antigo aparelho de televisão e eram separadas por pequena mesa de centro de pés de palito.
O televisor ligado num desses barulhentos programas dominicais num volume muitos decibéis acima do agradável, sugeria a quem olhasse os dois personagens que esses acompanhavam os dissabores e humilhações inflingidos aos pobres calouros que se sucediam num palco perante platéia cruel.
Isso porque os dois, homem e mulher, tinham, aparentemente, os olhares voltados para as cenas grotescas.
Mas de verdade eles conversavam e havia um tom de segredo e cumplicidade nessa conversa.
Ele, mais velho, aparência nobre e altiva, usava um solene terno, com colete, azul marinho. Os cabelos, lisos, negros como seus olhos, mostravam já os fios brancos do tempo. Mesmo com o aprumo e elegância era perceptível o desgaste em seu traje, meio velho, meio brilhante pelo uso excessivo. Mas havia naquele homem um inegável traço régio, mesmo decadente, que provava sua origem ancestral de alguma nobreza italiana do norte.
Ela, jovem, muito jovem, quase parecia menina pela pequenez de seu físico, inquieta, usava rabo de cavalo e muitas pulseiras coloridas e cheias de guizos que produziam sons delicados com o movimento de seus braços.
Ela acreditava em signos do zodíaco, em espíritos que deslizam com perfume de lírios, em vidas sucessivas, em livros e poetas. Ele, pensador, acreditava em muito pouco e em tudo ao mesmo tempo, criara teorias evolucionistas, mantinha correspondência com sábios, jornalistas e antigos presidentes.
Ali, naquele dia, ele contava à moça que fora marcado pela morte.
A morte tinha sido, desde sempre, sua companheira. Nascido num Finados, dia 2 de novembro, sofrera, ainda menino, um ataque de catalepsia, chegou mesmo a ser velado na cama dos pais e procurara a vida toda, explicação plausível para tudo isso. Restou uma enorme afinidade com o assunto.
Ela se surpreendia com os relatos desse senhor de escorpião, signo tão ligado com transmutações, mistérios, com o morrer em todos os níveis numa carta astral.
Nesse dia ele, num tom de mestre para discípula, lhe pedia para nunca temer a morte, pois, mesmo sabendo o quanto isso era complicado para alguém tão jovem, ela viveria muitas mortes durante sua existência.
Pequenas, aparentemente insignificantes, mas mortes, de sonhos, projetos e ilusões que teriam de ser sacrificados diante da vida e suas exigências. E que mesmo em tais momentos, que certamente seriam de profundo desencanto e até desespero, nunca pedisse a morte, a morte final. Afinal, completava ele sorrindo, ela vem mesmo para todo mundo, no tempo certo.
Nesse dia ele a fez prometer, solenemente, que seria sempre assim.
E durante muitos e muitos domingos, ele e ela puderam falar sobre tudo a morte. E sobre muitas outras coisas da vida.
O homem velho foi, enquanto viveu, uma espécie de guru, de mentor para a moça. Ele lhe trouxe os filósofos, os cientistas, os escritores e Beethoven e Mozart.
Puderam juntos, ver duas crianças nascerem e crescerem, ver casamentos terminarem, começarem, pessoas virem e irem, mas o afeto que os uniu jamais foi quebrado.
Essa foi uma morte que nunca aconteceu.

E todos os anos, num dia de Finados, a moça, hoje quase um senhora idosa, coloca num vaso pequena flor para ele, não como homenagem respeitosa aos mortos, mas como um pequeno gesto de " feliz aniversário".

Para Rosino Zacchi, sogro, pai, avô de meus filhos, amigo e filósofo, com imenso carinho e admiração.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Last Famous Words





Deu o esperado, não o desejado. Pelo menos prá mim.
Não deixa de ser alívio, pois acabou, de vez, essa chatice que tomou conta dos assuntos nessas últimas semanas. Agora é, literalmente, fim de papo.
A Dona Dilma está eleita, pela escolha de mais de 55 milhões de pessoas.
Alguns dados, entretanto, coloco aqui, para reflexão, como minhas " famosas últimas palavras" sobre o assunto:

- Simplesmente mais de 29 milhões, sim 29 milhões!!!!!! resolveram que essa eleição " não era com eles"...Sorry, minha opinião, sei que vai gerar alguma polêmica, acho uma tristeza, afinal vamos todos viver aqui, nesse Brasil, sil, sil e todos vamos estar aí sim com isso! E afinal a gente lutou tanto para poder votar...

-Quase 7 milhões anularam ou votaram em branco. Ok, tem gente que errou, não sabe ler, não entendeu como vota, mas teve muita gente que protestou ou errando de propósito ou dando " carta branca" a quem quer que ganhasse. De doer!

-O candidato de oposição, José Serra, recebeu mais de 43 milhões de votos. Isso, portanto, passa bem longe do discurso de alguns setores mais sectários do PT de que os tucanos recebem votos de uma " minoria" privilegiada. Se for assim devemos ter a maior Zelite do mundo!

-Dos votos totais, mais de 135 milhões, Dona Dilma recebeu, 55. Se a matemática não foi alterada pelo politicamente correto nem metade do país escolheu essa dona.

- Dos governadores a oposição do PSDB governará 8 estados ( 64, 2 milhões de brasileiros), ou seja, 47,5 do eleitorado. São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Tocantis, Alagoas, Pará, Roraima e Goiás. O DEM, Santa Catarina e o Rio Grande do Norte. Muita gente, portanto.

-A vitória do atual governo, entretanto, fez com agora tenham controle sobre o Senado. Roça, pessoal, agora a coisa ficou mais feia ainda!

Esses números são para que todos, principalmente o governo, pensem um pouco, se não for pedir o impossível.
Graças a Deus não existe unanimidade, ela é sempre burra como dizia Nélson Rodrigues e o PT vai ter que continuar convivendo com gente que não vota nele, sequer os apoia e que certamente tem alguma voz nesse país.
Lamento, entretanto, demais, o "guia" ter escolhido uma pessoa tão antipática, tão sem experiência, tão chata, sem carisma, sem perfil, ou com um meio arrevezado, para sucede-lo. Por outro lado, fiquei pensando, se escolhesse alguém mais competente e experimentado não conseguiria " mexer os fios" do boneco com tanta facilidade para fazê-lo se mover.

Dona Dilma não representa " as mulheres " no poder. Não para mim. Sua figura grosseira, seus modos de sargento, seu cenho carregado, sua notória grosseria e prepotência no trato com os subalternos passa longe do que é ser feminina e mulher. Ela é o estereótipo de mulheres com poder, quase um jagunço.

Registro aqui meu eterno orgulho aos paulistas e paulistanos pela enorme votação que deram ao candidato da oposição José Serra.
Tenho imenso orgulho de ter nascido aqui, somos duros na queda, somos firmes em nossa vocação para o progresso, para a competência, para continuarmos sendo o que sempre fomos: a vanguarda desse país.
Não é de graça que São Paulo é a capital cultural do Brasil. Biodiversa, eclética, inquieta, terrível e maravilhosa.
Nossa história sempre foi de luta, de rebeldia e é preciso um pouco mais para nos convencer.
Políticas marqueteiras, discursos inflamados e ameaças não surtem efeito por esses lados.

O lema de nossa cidade continua o mesmo " NON DUCOR, DUCO"! ( Não sou conduzido, conduzo)
Parabéns São Paulo! Sou imensamente feliz vivendo aqui.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Nunca antes na História desse país!!

Deu na Folha de SP de hoje, sexta-feira 29/10.
O CNE ( Conselho Nacional de Educação...rs...), a partir de denúncias da famigerada Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, uma das invenções do governo do "guia", está propondo o veto a uma das mais deliciosas obras de Monteiro Lobato, " As Caçadas de Pedrinho", por conteúdo racista!!!!
Na obra, referência maravilhosa da literatura infanto-juvenil desse país tão ignorante, Tia Anastácia é chamada de " negra" e há, segundo essa gente, abordagem " racista" de animais como macaco e urubu!!
Sinceridade? Pensei que já havia visto de tudo nesse país( inho) de merda! Não havia.
Mas que conversa fiada é essa, pelo amor de Deus?
Quando concordo que certas políticas, sem pé nem cabeça, servem apenas para prestar desserviços ao país, me chamam de reaça, tucana, das zelites, enfim.
Onde isso tudo vai nos levar? Certamente a uma estágio avançado de paranóia, sectarismo e burrice, coisa que, aliás, campeia pelos lados do poder.
O ensino público, faz me rir, começa a ser norteado e passa pelo crivo desses grupelhos que, aí sim, precisariam ler e se informar mais e melhor, que decidem o que pode e o que não pode ser lido nas escolas.
Isso tem um nome. Aconteceu na Alemanha nazista, na China durante a revolução " cultural", em Cuba e outros locais tão ou mais progressistas.
Li a minha vida inteira, desde os 5 anos, quando me alfabetizei sozinha. Amo os livros, todos, temos em casa mais de 5 mil volumes, uma parte de meu pai, outro rato de biblioteca e os que fomos comprando pela vida.
Monteiro Lobato foi um marco em minha vida, aprendi a amar a História, a Magia, o Folclore, as Ciências e o Brasil através dos textos lindos desse escritor inesquecivel.
Toda sua obra, completa, está aqui, em minha casa, lida por todos os meus filhos e agora será pelas netas.
Não posso me calar aqui, nesse meu blog, espaço que compartilho com amigos queridos que me dão a honra de acompanhar o que penso e sinto, sobre uma sandice e cretinice desse tamanho.
Nunca houve censura em minha casa, todos os livros, todos, de Monteiro Lobato aos Irmãos Grimm, de Henry Miller à Charles Bukowski, de Eça de Queiroz ao Marquês de Sade, de Marx a Jung, de Kant a Vargas Llosa, tudo, tudo enfim, esteve, está e estará sempre ao alcance das mãos de quem quiser le-los, independente de idade, cor, credo e religião.
Foi assim comigo e será sempre assim em minha vida.
Nunca antes na História desse país, nem mesmo no tempo dos " gorilas" da ditadura, se propos algo tão escandaloso!
Falta cultura, falta vergonha na cara, falta bom senso, falta educação, falta critério.
Sobram a arrogância, o sectarismo, a ignorância em todos os níveis, o abuso.
Triste escola essa pretendida por esse bando de energúmenos.
Triste das nossas crianças sem os macacos e urubus ( sorry, a natureza os fez pretos!), sem Tia Anastácia ( sorry de novo, não é escandinava, é negra sim!), mas triste mesmo é o que virá dessa republiquinha de banana, encabrestada por um bando de imbecis prepotentes.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sweet memories...



Deu na Folha de domingo, acho ( sorry, ando com lapsos de memória..rs).
Uma matéria sobre Mostra No MuBA, Museu de Belas Artes, de 23 croquis de Dener Pamplona de Abreu, primeiro dos chamados hoje " estilistas" brasileiros, costureiro naqueles tempos...
Os desenhos doados pelas filha de Dener, recebeu os comentários uma de suas funcionárias que acompanhou, de muito perto, a trajetória profissional e pessoal de Dener.
Com carinho e orgulho ela fala da personalidade, talento e trabalho sério e bem feito daquele rapaz, culto e refinado, primeiro a perceber nossa " brasilidade " e colocá-la como dado importante e belo num mundo tão apegado aos valores de uma Europa distante...
Ler sobre Dener me trouxe, de volta, minha mãe.
Aquela bela e interessante mulher tinha, em seu quarto imenso do casarão da Avenida Rebouças, um baú, onde dormiam, sonho de menina-criança, além de seu vestido de noiva, lindos vestidos de baile.
De vez em quando, muito de vez em quando, ela permitia que eu abrisse o baú e de lá tirasse aqueles magníficos trajes de gala e os experimentasse...
Havia um excepcional aos meus olhos de menina, lilás, cor insólita, pouco usada naqueles dias, não era moda, com um espetacular bordado em pedrarias no mesmo tom que descia do corpete, pelo seio esquerdo e ia até os pés, formando galhos e arabescos em suave movimento acompanhando as formas do corpo. E luvas acompanhando, acima dos cotovelos, em cetim, no mesmo tom.
E havia outro, preto, saia lembrando um tutu de bailarina, em point d ésprit, corpete de zibelina creme e a cintura marcada com faixa negra de cetim arrematada por lindo buquet de muguets creme.
Era um deslumbramento!
Eram de Dener. Antes dele ser Dener.
Minha mãe o conheceu no atelier de Madame Rosita, ele, muito jovem iniciando seu trabalho.
Ela o descrevia com alguém tímido mas já com o incrível olhar de criador, talentoso, capaz de adivinhar o que ficaria bem na cliente.
Esses lindos vestidos eram desenhos dele e minha mãe os guardou por muitos anos junto carinho e admiração pelo costureiro.
Não sei onde foram parar esses trajes. Nunca mais os encontrei nas coisas de mamãe.
Em minha memória está, entretanto, viva para sempre, a bela figura de minha mãe usando seus lindos vestidos de baile.
E igualmente viva a lembrança de Dener, criativo, provocador, cheio de talento e capaz de nos fazer perder a vergonha de sermos brasileiros!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Num tempo de maior delicadeza





Os últimos dias tem sido marcados por atitudes deselegantes e mal educados vindas, lógico, dos nossos políticos e suas respectivas" entourages" e torcidas. Acusações, denúncias, enfim.
Nem vale a pena comentar, apenas lamentar.
Por outro lado, para contrabalançar, li na Folha, acho que de segunda-feira, uma matéria muito linda. E triste.
O assunto era o seguinte, uma família possui um papagaio.
Isso é muito anterior a nova regulamentação e parece que, como medida de precaução, os donos declararam ao Ibama serem donos da ave, justamente para evitar incorrer em crime ambiental.
A coisa agora está nos tribunais. O Ibama quer porque quer retirar o bichinho e propõe das duas, uma: ou reintegrá-lo à natureza ou sacrificá-lo caso esteja doente.
O papagaio sofre de epilepsia e conta, inclusive, com gaiola forrada para os momentos que entra em convulsão e desmaia. Cuidado amoroso de seus donos, para que não se machuque.
O juiz deu parecer favorável aos donos, baseado, entre outras considerações, no laudo de um veterinário.
Esse médico, ser humano excepcional, coloca em seu parecer não só a incapacidade do papagaio que, após tantos de cuidados e mimos, não saberia como sobreviver sozinho num ambiente selvagem, como também a questão emocional, do afeto, apego por seus donos...Segundo o veterinário existem fortes indícios de que essas aves possuem algum tipo de memória, sendo, inclusive, capazes de sonhar...A dor da separação seria, portanto, muito dolorosa e até fatal.
Ainda existem pessoas nesse mundo que, através de pesquisas, estudos, muita dedicação e amor, nos falam em sonhos de papagaios.
Sonho de papagaio, fiquei pensando...
Como seriam eles? Coloridos, cheios de cores e movimentos, talvez antigas lembranças de árvores em densas florestas, céus azuis, tardes de sol forte, o gosto das papayas e goiabas maduras, o zunzum de insetos, as folhas de onde pingam as gotas das chuvas e guardam a água doce e cristalina que mata a sede...Ou talvez a voz dos humanos, seus sons incompreensíveis e facilmente imitáveis, as mãos que acariciam penas e coçam a cabeça...
Tudo isso é muito lindo e muito triste.
Lindo saber dessa imensa capacidade de sonhar, sonhos são sonhos, de gente ou papagaios e ninguém pode ser feliz sem eles. Sonhar torna tudo mais belo, melhor, mais suportável e elimina diferenças entre aves e pessoas.
Triste pois, justamente um orgão, Ibama que, em teoria, deveria " proteger" vida e natureza, propõe a aplicação fria e cega de seus regulamentos, desconsiderando o que seria, de fato, melhor.
Parece que, aos poucos, não está restando mais espaço para delicadezas, para a sensibilidade, para o olhar sereno em direção ao outro, um outro, qualquer outro, gente ou bicho, que não nós mesmos.
Abro os jornais e lá estão brigas, ataques, agressões sem sentido
Ah, se por um segundo as pessoas conseguissem parar e ver como seus rostos se desfiguram em máscaras crispadas sem brilho nem beleza quando se alteram dessa maneira... Como suas vozes ressoam com metais, sem acordes de suavidade e carinho quando gritam seus pontos de vista, talvez aí pudessem, como os papagaios, sonhar um pouco.
Sonhos bons, de harmonia e tranquilidade. Sonhos para sonhar junto, de um mundo melhor, sem rancores, sem retaliações nem ameaças. Sonhar com um tempo de maior delicadeza.
Sonhos de aves, de bichos, de rios e cascatas.
E ai, quem sabe, descubram o que é realmente ser " humano"...

Bom final de semana.

sábado, 16 de outubro de 2010

E se ???






Luiza, minha filha, escreveu " e se o amor tiver prazo de validade"...
Pois é, fiquei pensando...
Prazos de validade, assunto bom, legal, interessante...
E se tudo o que acontece hoje, vésperas de segundo turno, tiver prazo de validade? Promessas, juras, documentos assinados, posturas e declarações de fé?
Isso, certamente, terá mesmo.
Hoje pessoas são contra ou a favor do aborto, contra ou a favor das privatizações, da educação com cotas, da sustentabilidade, do mundo e das pessoas...
Virou um vale tudo.
Gente conservadora vira liberal e vice-versa. O que querem aqueles que propoem tais perguntas? Seu voto, seu aval.
Daí pra frente vale o ema, ema, ema. Cada um com seus problemas.

Estou fora, aliás faz tempo.
Me recuso a um papel patético e coadjuvante nesse amontoado de mentiras, promessas e comprometimentos...
Aprendi, a duras penas, que revoluções são individuais e dolorosas, como partos. Por favor, NÃO existem soluções coletivas para a existência humana, cada um é deus e carrasco de seu próprio destino.
E posso dizer sem ser de orelhada, pois pari meus filhos e meus sonhos e medos e projetos na raça, sem cirurgias anestesiadas com data marcada.
Ninguém vai nos trazer o paraíso em terra, ninguém.
A luta é nossa, instransferível, diária, exaustiva. O resto é conversa, discurso, balela, bullshit, como dizem os norte-americanos.
A cada dia que nasce, somos, sou e sempre serei, responsável pela minha vida, escolhas, de discos, livros, amigos e caminhos. Não dou a nenhum outra pessoa o poder de me dizer o que me é de melhor ou pior. Isso é meu e eu que use com a melhor sabedoria.
Vivi muito, 55 anos não são 55 dias. Ou são.
E nunca vi, desde os anos dourados que tive o prazer de nascer, passando por todas as crises e mudanças( !) desse país, alguém me trazer alguma resposta ou solução que não estivesse em mim, dentro de mim, arrancada muitas vezes, à ferro e fogo e sob muita dor.
Não suporto mais os e-mails que recebo, de uns e outros, contra ou favor, desse ou daquele caminho.
Fico cada dia mais triste ao perceber, sorry, que isso tudo é um enorme paliativo, distração de momento e tempo, que acaba tirando pessoas, algumas até legais, do grande sentido, da grande pergunta de se estar vivo: quem sou eu?
Fica muito mais fácil entrar embaixo de uma bandeira, time, partido ou pessoa e ressoar como uníssono, do que ouvir a própria voz, nem sempre agradável...
Devo estar ficando velha mesmo...
Mas mesmo assim nunca quis, não é meu e pelo jeito nunca vai ser, pensar em bando, raciocionar com muitos, gente que nem sei quem é...
Não dou esse direito ou poder a quem quer que seja.
Hoje sou uma mulher pobre, sem bens, sem grana alguma, mas me resta o cérebro e coração e disso não há como abrir mão.
Meus erros, acertos, o bom e ruim, os escolhi sozinha. Arco com isso.
E mesmo com tantos anos para trás não me desvio dessa meta, desse único e pessoal projeto: descobrir quem sou eu, como sou, o que quero e sonho, pro que der e vier. Com todos os ônus e os bônus.

Cito Caetano, sempre tão amado.

" Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é "...


Ps- esse blog é para todos que mandam e-mails bomba, denúncia, dados, estatísticas, leis e outros, sobre seus " candidatos" e acreditam que serão felizes com suas escolhas.
ps2- a imagem desse blog é a ' Velhinha de Taubaté"...( que sempre acreditava em tudo.)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tomara

Tomara meu deus, tomara
uma nação solidária,
sem preconceitos, tomara,
uma nação como nós...
( Tomara- Alceu Valença)
Tomara...
Tomara mesmo.

Que Deus, ou sei lá o nome que queiram ou achem melhor, nos mostre caminhos, nos livre de atalhos e descaminhos.
Que Luiza encontre o seu, caminho, destino, trem que nos transporta e lá, no final encontre a luz e a felicidade...
Que Dani, cheio de luz, a enxergue. Tem que abrir os olhos, perceber, a luz tá aí.
Tomara que tudo seja bom. Para Rafa e Tati e Laura, que possam acolher Helena, que está para chegar, com amor e carinho.
Tomara, meu Deus, tomara, que a minha força não fique muito fraca, nem minha esperança empalideça.
Que a passagem dos dias seja apenas a passagem dos dias...Sem medo, sem cobranças...
Tomara que o sol siga nascendo e a noite chegando.
Mesmo que seja duro, difícil, que ainda assim essa sequência seja mantida.
Tomara, tomara, meu Deus, verões em Juquehy, sol, mar, sal e a energia renovada, pulsando, trazendo vida à vida.
Tomara amigos, todos, muitos...colos, abraços, choros, risos, biritas, cartas, olhares e um mágica cumplicidade...
E não quero mais chorar, só de emoção, com Coltrane, com Beatles, com Caetano, Tom, blues e Piazzola. Com Cazuza, Ibrahim Ferrer, com Guimarães Rosa, Shakespeare, Eça e com Vargas Lllosa.
Quero o Nobel da paz pro dissidente chinês preso e torturado, quero o Dalai Lama, quero Chico e Presley, e mais blues...e mais amigos, mais gente...
Tomara, meu Deus tomara, tudo de ruim acabar...
E ficar pra sempre com Nelson Cavaquinho...
"do mal, será queimada a semente, o amor será eterno novamente..."

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Amor





Ele estava impaciente.
As horas passavam e nada dela.
Andando pela casa inteira, ia e voltava até a porta de entrada tentando escutar algum ruído que assinalasse sua chegada.
Certo, sabia que era assim, a moça era meio atrapalhada, sem grandes vínculos com a rotina. Essa característica ou traço de personalidade sempre representou fonte de ansiedade e inquietação para alguém como ele, tão rotineiro, tão apegado a hábitos e manias. Mas a amava, muito, apesar disso...
Desde que a conhecera soube era para sempre e nunca haveria mais ninguém.
Essa mulher representava tudo de bom e lindo em sua vida...
Sua voz, quente e rouca, as mãos delicadas que tinham tantos gestos de carinho, seu cheiro, adocicado, que lembrava braçadas de frésias e lírios, tudo o encantava.
Até mesmo suas pequenas traições, pois ela era dada a paixões repentinas e nesses momentos ele discretamente se afastava, pois sabia que tal estado não era para sempre. Não demorava muito e ele a tinha de volta, magoada, triste e chorosa e encontrava em seu amor incondicional o consolo e a felicidade.
Hoje, entretanto, ela estava demorando. Uma angústia imensa o acometeu, e se algo tivesse acontecido? E se tivesse se acidentado? E se tivesse fugido com o namorado do momento, aquele desconhecido que tomava horas de seu tempo ao telefone?E se? E se?
Sua apreensão aumentava a cada nova conjectura, mal podia respirar e em vão tentou se convencer que poderia passar muito bem sem ela. Afinal das contas todos tem sua vida e não tinha sentido viver apenas para um outro ser. Esse pensar, entretanto, não o consolava. Sabia-se refém desse amor e não haveria, sem ela, motivo algum para estar vivo.
Ainda preso nesse estado de desespero ele ouviu o barulho das chaves na porta. Com o coração aos saltos correu e parou, ao ver a imagem tão querida que, cheia de sacolas, bolsa, guarda-chuva, agendas, entrou sala adentro tornando, nesse segundo, todo o aposento iluminado.
Ela sorriu ao vê-lo, ali, parado e com imenso carinho e palavras de amor e de desculpas pelo atraso, o pegou no colo.
Ao sentir o carinho de suas mãos em seu pêlo longo e macio e sentir os sussurros e beijos, ele, com seus imensos olhos de gato, olhou para o rosto da mulher e soube, naquele exato instante, o que era a felicidade.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Não há mal que sempre dure...






Não há mal que sempre dure, dizia minha mãe.
Coisa incrível, poderia ser a maior das crises e lá vinha ela com esse ditado. Não há mal que sempre dure.
Espero mesmo. Aliás essa frase está sendo mais importante que toda a filosofia, dos pré-socráticos até os dias de hoje, em minha vida.
A vida é interessante, muitas fases vão e vem, dias de tempos amenos e tranquilos alternando com os de enormes tempestades...
Nunca me preocupo muito em filosofar durante o tempo bom. Vivo, aproveito e estou bem, mas sempre penso, isso sim, que ao contrário de quando mais jovem, sou feliz e estou sabendo. Mas não filosofo, não fico buscando explicações, fórmulas e entendimento para momentos agradáveis.
Já quando começa o terremoto, toco a maquinar, a colocar o cérebro em alerta, para buscar um por que, e quase nunca tem, para tanta desarmonia e confusão...
Os filósofos não me respondem. A fé, cega e irracional, me sustenta, mas sem respostas racionais.
Cada dia é novo desafio, passar da manhã à tarde, depois a noite e as madrugadas insones razoavelmente ilesa é uma tarefa enorme, titânica, me segurando aqui e ali, lendo algo que me encante quando consigo , recebendo um recado afetuoso ou um olhar amigo. Tudo isso faz a diferença. Parece um tão pouco e é tanto, pois consegue me manter viva.
Acabei de crer que não tenho vocação para depressão, no máximo uma melancolia, leve, delicada, mas deprê mesmo tive uma vez, anos a anos atrás e tratei de espantar bem rápido ( deve ter durado umas 2 semanas).
Mas confesso, tenho, nessas horas de tempestade, uma enorme vontade de não sair da cama, de ficar o dia todo em silêncio, em não ver ninguém. Só que não consigo, dura pouco essa pensamento e quando vejo já estou blogando, postando, entrando e saindo, correndo atrás de soluções.
E nesse corre-corre lembro da angular frase de minha mãe, não há mal que sempre dure.
E assim trato de escovar os cabelos, tascar um perfume e correr atrás da vida, das decisões, das pessoas e das coisas.
Estranho isso, certa teimosia, certa obstinação em estar viva e fazer parte de tudo.
Hoje mesmo, sem dormir mais que 2hs, dramas familiares acontecendo, medos, incertezas, pendências, contas e sei lá mais o que, o dia prometia ser uma bomba...Não, negativo, tratei de arrumar a casa e cara, pois tenho amigos para jantar.
Vou cozinhar, ajeitar, temperar e ouvir outras histórias que não são as minhas.
E assim vou, acreditando em minha sábia mãe, que tinha certeza de que nada é para sempre.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mãe possível




O possível em geral passa longe do ideal.
Fiz o que foi possível, não o ideal.
Ideal seria se tivesse podido dar a vocês pai e mãe, juntos, para sempre. Não foi assim, eu e seu pai tivemos um lindo casamento, por lindos anos, mas acabou. E optamos por não viver de aparências, por manter o respeito que sempre tivemos um com outro. Mas por outro lado demos a vocês muitas famílias, biodiversas, mas famílias.
Ideal teria sido não ter que sair para trabalhar e ficar com vocês e assar bolos, ir ao Ibirapuera todas as tardes de sol, andar de bici e ir às aulas de judô. Mas não deu, tive que trabalhar, 8, 10, 12hs para mantê-los em boas escolas, terem bons médicos e se alimentarem corretamente.
Bom seria de pudessem, anos e anos atrás, terem entendido minhas escolhas, minhas opções e buscas, até mesmo por um novo marido para me ajudar a educá-los. Mas isso também não deu certo mas, trouxe de presente uma pequena irmã. E um dia deu certo, pois trouxe Gil, avô oblíquo de Sofia e Laura, onde me apoio e os apoio. E com ele, mais irmãos.
Ideal teria sido ter os avós, Rosino, Marcella, Dida e Linão, todos vivos, mais Conchinha, Dulce, Buda e tantos outros que, cumpridas suas missões, deixaram, com nossas memórias, amor, afeto e muitos risos...Todos partiram e choramos juntos, não era o ideal.
Ideal seria Eva, Julie e Minnie aqui, para sempre, correndo atrás de nós, nos amando sem condições, fazendo de todas as nossas chegadas em casa, uma festa. Não foi assim...Nossos cães foram embora, deixando o silêncio, a ausência, as saudades, mas a memória de tão lindos dias...

Fui e tenho sido sua mãe possível, Rafael e Dani. Longe, muito longe do ideal.
Os amei desde o primeiro momento que os vi e os amarei para sempre. Mas esse meu amor, talvez não ideal, também é feito de cobranças, de discussões, de mal entendidos e algumas mágoas. Só que é também incondicional, marcado a ferro e fogo pela vida e seus caminhos.
Deixo, desde 36 anos atrás, completos amanhã, para sempre, meu colo e afeto, meu carinho e apoio, minha força e medos, minha esperança e fé, para vocês.
Fui a mãe que pude, cruzei meus limites, recuei em posições e sonhos, não me arrependo jamais.
Vosso legado é meu amor, eterno, sem fim, sem medidas nem freios.
Não foi o ideal, sei disso, foi o possível. E muitas vezes, o impossível.


Para Rafael e Daniel, meus filhos, que nasceram 36 ano atrás, me trazendo, para sempre, a primavera.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ame-ou ou Deixe-o



Sempre falo aqui dos anos 60/70com lindas recordações: Woodstock, Beatles, Stones, Mary Quant, contracultura, hippies, Easy Ryder...
Usávamos flores nos cabelos e sonhávamos com San Francisco...
Em 1970 fomos campeões do mundo, comemoramos cada vitória do time na Rua Augusta, nosso reduto mais que célebre, a cara de festas e jovens dessa cidade. Ali, entre motoqueiros em suas Harleys, moçada, gente alegre, música éramos os melhores do futebol do mundo.
E esse era o clima geral.
Mas toda a fábula que se preze tem bruxas, malfeitores e o mal, senão não é fábula.
E havia o mal, aliás Mal, com letra maiúscula.
Tinha nome, Emilio Garrastazu Médici, general, presidente do Brasil, por obra e graça da
" Redentora" como diria Stanislaw Ponte Preta.
Torturas, perseguições, corrupção, um governo quase absoluto, acima da lei e da ordem, pelo menos aquelas conhecidas e aprovadas. Era a lei do cão.
Nós, jovens, fomos perseguidos por nossas roupas, cabelos e posturas, gente com algum sonho democrático então, era tratada à pau. Literalmente. Foi o tempo do Doi Codi, da Oban e outros aparatos medonhos.
Mas tinham os números: seu partido de apoio, ARENA, em 2 eleições durante o governo desse cavalheiro, conseguiu estrondosas vitórias.
Vamos lá, em 1970, fez 19 senadores contra 3 do então MDB. Em 1972 quase todos os prefeitos e vereadores Brasil afora. Nesse período todas as manifestações populares e reinvindicações de trabalhadores foram proibidas. Em contrapartida o consumo de bens duráveis e automóveis teve um estouro. Todos podiam comprar tudo.
O governo Médici, através de maciça propaganda, passou a associar o patriotismo com o apoio ao regime militar. E slogans foram criados: Ame-o ou Deixe-o, afinal vivíamos o " milagre brasileiro" com a construção da Transamazonica, a rodovia Santarém-Cuiabá, graças ao Plano de Integração Nacional. O país vivia um momento de baixa inflação, consumo fácil e enormes incentivos à produção industrial e agricultura.
Esses dados, incríveis, encobriam a " bunda" ( sorry) descoberta desse governo terrível.
E mesmo assim, com o terror, a oposição massacrado ou amordaçada, as pessoas sendo mortas ou exiladas, os dados de aprovação popular do General Médici bateram quase os 80%. Não, não digam que foram manipulados, pois foram corroborados por orgãos internacionais sérios de direitos humanos, infelizmente.
Pois é. Deu no que deu quando a festa terminou.
Isso tudo me deixa muito triste, pois sinto, cada vez que levanto uma crítica a esse governo que aí está por 2 mandatos, me trazem dados, números, estatísticas e índices de aprovação.
Hoje a imprensa começa a sofrer perseguições, hoje a oposição jaz destruída diante de tanto progresso e estabilidade (?).
Isso sem contar a imensa sorte do nosso guia em poder trocar 7 dos 11 minstros do Supremo, por aposentadoria ou morte, podendo indicar gente de sua confiança...
A Câmara Federal mais se assemelha aos coros de igreja, repetindo o amém e agora, nessas eleições, o último reduto de resistência, o Senado, que inflingiu as poucas derrotas que esse governo sofreuu, CPMF por ex, vai ser diluído e entrar no coro.
A história não se repete, mas esse filme já vimos.
Os pobres poderes desse país se renderam. O povo, idem. De novo. Parece que vamos virar o México da América do Sul.
Temos um país estável, com números esplendidos, com todo mundo carregando seus cartões de crédito ou crediário das casas Bahia, enfim, o paraíso em terra. Pergunto, para quem?
Nós, nisso me incluo, a " zelite", como diz João Ubaldo, que não contamos com Bolsa família, gás, leite, merenda, etc., que pagamos nossos impostos, extorsivos e sem nenhum retorno, que não temos mais dinheiro pra pagar um bom plano médico ou formação academica para filhos e netos e tb não contamos com um sistema de saúde e educação decentes e que ainda ousamos " criticar" o governo do guia, somos chamados de reaças, direitistas, tucanos, inimigos do povo.
Por obra de graça dos números vão eleger a Sra Dilma. Nada contra, é um direito de qualquer cidadão que preencha requisitos mínimos, se candidatar a cargos eletivos nesse país.
Mas a graça é que, justamente uma desconhecida, sem história, ou estórias para contar, saída as alas do PDT e com experiência quase que nenhuma vai ter votação estrondosa. Na verdade pouco importa quem é Dilma, poderia ser a Marisa Letícia, ou algum obscuro funcionário do partido, o resultado seria o mesmo. Quem se elege é a continuidade desses números, é a tranquilidade de alguns setores, beneficiados as custas de outros, em continuar tudo como está.
No andar da carruagem só está faltando o governo mandar imprimir os tais adesivos de novo: Ame-o ou Deixe-o.
Por essas e outras é que vou renovar meu passaporte.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Luiza e o Teto

Luiza minha filha é brava.
Nos dois sentidos: nervosa, meio selvagem e corajosa, intrépida.
Não há nenhum obstáculo capaz de detê-la se resolve fazer alguma coisa.
Esse final de semana juntou-se a outros jovens para um trabalho voluntário numa ONG chamada " Um Teto para Meu País" (http://www.umtetoparameupais.org.br/).

Esse grupo nasceu no Chile, fundado em 1997 por um grupo de jovens sensibilizados com a situação de pobreza e miséria em que viviam milhões de pessoas e traçaram programas de construção de casas emergenciais visando, a partir disso, introduzir planos de reabilitação social. Essa ONG surgiu no Brasil em 2006 em São Paulo e já envolve centenas de jovens e comunidades carentes, tendo já sido entregues mais de 200 casas na região de Guarulhos, Suzano, São Paulo e Itapeva.
Pois assim foi que Luiza saiu daqui na sexta-feira a noite, depois do seu trabalho, em assessoria de imprensa, que lida com clientes potencialmente voltados ao consumo de bens de luxo e despencou, com outros jovens para a divisa de Osasco com SP.
Nessa primeira etapa a meta era entrevistar o maior número de pessoas da comunidade para depois, tabulados e analisados os dados, serem selecionadas as famílias em maior necessidade para receber a casa emergencial de 18mts quadrados. Sim, não está errado, 18mts quadrados, de madeira.
A menina que sai sempre linda, perfumada e cheia de estilo nos seus finais de semana para passeios, baladas e cinema com os amigos transformou-se.
Ontem, na volta desse voluntariado, encontrei uma linda moça melancólica, séria e perplexa depois de 2 dias dentro de uma favela situada à beira das 2 Marginais...
Andou entre a tristeza, a miséria extrema, colocou no colo crianças picadas por insetos e seminuas, ouviu relatos de violência doméstica, desemprego, familias de 8 pessoas vivendo com metade de um salário mínimo, fome, medo e abandono. Entre esgotos, barracos construidos sobre esgotos, andou ao lado de ratos, sujeira e infecção.
E como seu olhar agora amadurecido diante da dor do mundo, Luiza me falou do carinho e generosidade com que foram recebidos, cafés e bolos oferecidos, talvez os únicos das famílias, e dos abraços, dos agradecimentos e da muita esperança de mudança. E nenhum registro de violência ou tensão contra esses jovens caminhando entre os barracos.
Luiza se fez a mesma pergunta que os de bom coração sempre fazem: por quê?
Por quê uma vida tão abaixo da dignidade?
Importante nisso tudo, Luiza, apesar da indignação e horror, decidiu que não adianta só falar, falar, que dá para fazer um trabalho, de formiguinha, para tentar amenizar essa imensa injustiça.
Um pouco de cada um, algumas horas, um pouco de ajuda financeira, divulgação, enfim, tem como ajudar e só querer.
Depois que tomou seu banho quente ( estava muito suja, pois ficaram essas 48hs alojados numa espaço comunitário sem acesso a banho) e jantou, ainda conversamos muito tudo o que ela viu e ouviu.
Ali, naquele instante percebi uma menina que cresceu, que olhou o seu lindo quarto e prato de comida quente com outros olhos. Vi a esperança renascida em outro jovem coração, esperança de um mundo melhor e mais justo.
E como Luiza é brava, sei que vai continuar esse e outros trabalhos e tenho certeza, conseguirá alguns resultados. Coragem e temperamento não lhe faltam.
Fiquei pensando em tudo que escutei, em tudo que conheci e li pela vida e mesmo em momentos tão complicados como o que atravesso, voltei a acreditar que o sonho de mudar, de melhorar, de alterar o planeta e as pessoas é sempre possível, pelo menos enquanto existirem os jovens.

Para Luiza, que redimensiona o que chamo de " problemas".

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Bia menina


Recebi e-mail, sempre uma delícia, da Bia. Bia Puccini.
Menina incrível, ela possui um interessante dom de me mandar recados, carinhos e delicadezas em momentos que me sinto muito, muito fragilizada.
Sabe os versos do poeta Chico: "Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu..", pois então, ando meio assim.
Bia é pessoa rara, ainda mais nos tempos bicudos de hoje. Sensível, perceptiva, com um sorriso desproprocionalmente enorme para seu rosto fino e comprido, mãe do Pedro e mulher do Fernando, outro ser singular, ela está sempre "ligada", olhando e entendendo.
Nos conhecemos faz tempo, ela era quase menina e acho que nos gostamos de cara! Tem quase a mesma idade dos meus filhos e talvez eu sempre a tenha enxergado com o mesmo olhar maternal de carinho.
Nessas coisas da vida, ora de dor, decepção, mágoa e desilusão, ora de prazer, alegria e afeto, sei que criamos um vínculo estreito, mesmo que pouco nos encontremos.
Bia tem uma mágica, a de fazer com que me emocione e saiba que não estou tão só como me sinto.
Leitora atenta, muitas vezes me manda um retorno aos meus pobres textos, e isso me norteia e ajuda.
Bia, esse blog é prá você, menina.
Ontem tava tão triste, com o coração tão machucado e encontrei teu e-mail carinhosíssimo, me chamando pra uma conversa, um café e um olhar.
Não sei como você faz isso, como descobre, mesmo à distância, que to precisando de colo, de afeto, de atenção. É um dom esse seu e sei, aqui no meu cantinho, que devo recebe-lo como presente da vida, do destino, de Deus.
Vamos nos ver, trocar coisas, deixar nossos laços, que são do mais puro cetim, mais estreitos.
beijo enorme

Nil