terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ame-ou ou Deixe-o



Sempre falo aqui dos anos 60/70com lindas recordações: Woodstock, Beatles, Stones, Mary Quant, contracultura, hippies, Easy Ryder...
Usávamos flores nos cabelos e sonhávamos com San Francisco...
Em 1970 fomos campeões do mundo, comemoramos cada vitória do time na Rua Augusta, nosso reduto mais que célebre, a cara de festas e jovens dessa cidade. Ali, entre motoqueiros em suas Harleys, moçada, gente alegre, música éramos os melhores do futebol do mundo.
E esse era o clima geral.
Mas toda a fábula que se preze tem bruxas, malfeitores e o mal, senão não é fábula.
E havia o mal, aliás Mal, com letra maiúscula.
Tinha nome, Emilio Garrastazu Médici, general, presidente do Brasil, por obra e graça da
" Redentora" como diria Stanislaw Ponte Preta.
Torturas, perseguições, corrupção, um governo quase absoluto, acima da lei e da ordem, pelo menos aquelas conhecidas e aprovadas. Era a lei do cão.
Nós, jovens, fomos perseguidos por nossas roupas, cabelos e posturas, gente com algum sonho democrático então, era tratada à pau. Literalmente. Foi o tempo do Doi Codi, da Oban e outros aparatos medonhos.
Mas tinham os números: seu partido de apoio, ARENA, em 2 eleições durante o governo desse cavalheiro, conseguiu estrondosas vitórias.
Vamos lá, em 1970, fez 19 senadores contra 3 do então MDB. Em 1972 quase todos os prefeitos e vereadores Brasil afora. Nesse período todas as manifestações populares e reinvindicações de trabalhadores foram proibidas. Em contrapartida o consumo de bens duráveis e automóveis teve um estouro. Todos podiam comprar tudo.
O governo Médici, através de maciça propaganda, passou a associar o patriotismo com o apoio ao regime militar. E slogans foram criados: Ame-o ou Deixe-o, afinal vivíamos o " milagre brasileiro" com a construção da Transamazonica, a rodovia Santarém-Cuiabá, graças ao Plano de Integração Nacional. O país vivia um momento de baixa inflação, consumo fácil e enormes incentivos à produção industrial e agricultura.
Esses dados, incríveis, encobriam a " bunda" ( sorry) descoberta desse governo terrível.
E mesmo assim, com o terror, a oposição massacrado ou amordaçada, as pessoas sendo mortas ou exiladas, os dados de aprovação popular do General Médici bateram quase os 80%. Não, não digam que foram manipulados, pois foram corroborados por orgãos internacionais sérios de direitos humanos, infelizmente.
Pois é. Deu no que deu quando a festa terminou.
Isso tudo me deixa muito triste, pois sinto, cada vez que levanto uma crítica a esse governo que aí está por 2 mandatos, me trazem dados, números, estatísticas e índices de aprovação.
Hoje a imprensa começa a sofrer perseguições, hoje a oposição jaz destruída diante de tanto progresso e estabilidade (?).
Isso sem contar a imensa sorte do nosso guia em poder trocar 7 dos 11 minstros do Supremo, por aposentadoria ou morte, podendo indicar gente de sua confiança...
A Câmara Federal mais se assemelha aos coros de igreja, repetindo o amém e agora, nessas eleições, o último reduto de resistência, o Senado, que inflingiu as poucas derrotas que esse governo sofreuu, CPMF por ex, vai ser diluído e entrar no coro.
A história não se repete, mas esse filme já vimos.
Os pobres poderes desse país se renderam. O povo, idem. De novo. Parece que vamos virar o México da América do Sul.
Temos um país estável, com números esplendidos, com todo mundo carregando seus cartões de crédito ou crediário das casas Bahia, enfim, o paraíso em terra. Pergunto, para quem?
Nós, nisso me incluo, a " zelite", como diz João Ubaldo, que não contamos com Bolsa família, gás, leite, merenda, etc., que pagamos nossos impostos, extorsivos e sem nenhum retorno, que não temos mais dinheiro pra pagar um bom plano médico ou formação academica para filhos e netos e tb não contamos com um sistema de saúde e educação decentes e que ainda ousamos " criticar" o governo do guia, somos chamados de reaças, direitistas, tucanos, inimigos do povo.
Por obra de graça dos números vão eleger a Sra Dilma. Nada contra, é um direito de qualquer cidadão que preencha requisitos mínimos, se candidatar a cargos eletivos nesse país.
Mas a graça é que, justamente uma desconhecida, sem história, ou estórias para contar, saída as alas do PDT e com experiência quase que nenhuma vai ter votação estrondosa. Na verdade pouco importa quem é Dilma, poderia ser a Marisa Letícia, ou algum obscuro funcionário do partido, o resultado seria o mesmo. Quem se elege é a continuidade desses números, é a tranquilidade de alguns setores, beneficiados as custas de outros, em continuar tudo como está.
No andar da carruagem só está faltando o governo mandar imprimir os tais adesivos de novo: Ame-o ou Deixe-o.
Por essas e outras é que vou renovar meu passaporte.

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