domingo, 15 de julho de 2012

Memórias entre gansos...





Dizem que os criminosos sempre voltam ao local do crime. Acredito. Anos e anos viciada em literatura policial isso se tornou uma verdade indiscutível: ou rastros ficam ou o assassino volta.
Mas o caso aqui é menos sinistro, embora fale de " retorno".
Anos e anos se passaram desde que perdi minha mãe e mais outros tantos ( uma enormidade!) de minha infância.
 E foi então que retornei a uma paisagem tão querida, dos dias vividos numa meninice tão feliz e privilegiada com meus pais, avós, tios tão amados e de quem sinto tanta falta: Serra Negra e Águas de Lindóia...
E se pretendi descansar, garanto que o fiz, pois dias de inverno nessas serras são relaxantes e amenos, sem o sol abrasador e extenuante do verão.
 Mas, também garanto, remexi muitas e fortes emoções, de beleza, de saudades, de memórias tão delicadas das paisagens que vi e vivi numa primeira de muitas vezes ao lado de minha mãe que amava esses lugares.
Os hotéis que nos hospedavam eram ainda os mesmos, as praças e lagos das brincadeiras de criança, os cavalos e bodes em charretes coloridas e se fechasse um pouco os olhos, me era possível ouvir o riso e chamamento de mamãe.
Me senti longe e perto, me senti menina e muito, muito madura e ali, entre o frio e o azul sem nuvens do céu de inverno dialoguei longamente com minhas mais caras lembranças, de dias tão belos e que pareciam ser para sempre.
E recebi, na pousada em que fiquei, de um jovem casal suíço-italiano que se apaixonou por essas mesmas serras, tanto carinho e acolhida que me sustentaram a vivência de tais emoções e sentimentos.
O chef Bruno Bianchi e sua "lasagna alla italiana" inesquecível, ao lado de Bárbara e do pequeno Diego, seu " bambino" lindo e alegre, criaram essa Locanda da Oca Bianca, em Serra Negra de onde ia e voltava nessa viagem ao passado.
E finquei amarras para o futuro...De um dia desses poder fazer o mesmo que minha mãe fez:  levar minhas 3 netas para um lugar tão lindo e inesquecível nos sonhos de criança.
Não há dor nesse rememorar. Nem tristeza.
Saudades e alegria. Rasgos de infância, cenas, momentos bons que me apoiam nas horas de medo e solidão.
E lá, no meio da serra, entre lagos, gansos ( ocas), hotéis antigos e novos amigos, sei que voltei melhor.
E sinto que ainda voltarei para, quem sabe, deixar lembranças parecidas para minhas netas quando não mais estiver aqui.
Boa semana.

Locanda Oca Bianca
Rua Nove, 280  Serra Negra, 13930-000
(0xx)19 3842-1447

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Invisível!

Faz tempo que não publico nada, estava como o cachorro do filme publicitário " sem assunto"... De fato assunto tem, mas ânimo andava em falta. Esse tempo quieta e quase " invisível" me trouxe o assunto de hoje, exatamente o que faltava para que eu escrevesse: in-vi-si-bi-li-da-de. É doido isso, se pensar muito decolo sem volta, mas vou tentar permanecer no aqui e agora. Lentamente, se a gente bobear, vai ficando invisível e isso, muito claro pra mim, vem do " não olhar" do outro...Como se existisse um mecanismo entrelaçado, um vai e vem que não deve ser rompido. Nesses meses de mudança e pós mudança de casa fiquei, sem escolhas outras, dentro de casa, ajeitando, arrumando, marcando com minha marca (!) meu novo território. Tinha que voltar a me sentir " em casa", criar meu canto, seguro e conhecido. Tarefa árdua, quem mudou sabe. Fiquei, portanto, quieta na rotina inexorável das pequenas coisas, sem valor aparente ou relevância. "Indoor"... Aos poucos fui percebendo que estava me tornando " invisível" e, pior, comecei a acreditar nisso, quase me movendo com cuidado e delicadeza próprios dos fantasmas e almas penadas... Não havia mais desejo, nem vontade, nem buscas nem qualquer outro sentimento que me conectasse. Fazia e pronto. E não havia mais ninguém, nem dentro de casa, que parasse um segundo sequer, para perguntar o que eu queria, sentia ou esperava. Funções eram exigidas e cumpridas. As horas viraram dias, que viraram semanas e meses! E tal como os fantasmas, passei a viver do passado, do que tinha ficado para trás, dos sonhos não concluídos e senti, como eles, a enorme tristeza de ser invisível para aqueles que amo tanto...E fantasmas, creiam, são alimentados por tristeza e saudades. Um dia, tempos atrás, percebi que não era ainda chegado esse tempo, havia vida a ser vivida, aos trancos e barrancos, mas vida. E com algumas suaves " marteladas", ás vezes não tão suaves, exigi meu direito indiscutível e intransferível ao mundo visível. Cortei os cabelos, em cada mecha meu pálido fantasma particular ia se diluindo... Abri o armário e coloquei meu amado chapéu de côco meio inglês, meio Chaplin e com todo o estrondo possível re-entrei (?) no mundo quase novo que me cercava. E aprendi,mesmo com o descaso ou cansaço dos olhos que me olham e por estarem acostumados não me enxergam com nitidez, que não sou invisível. E pretendo continuar assim por muitos e muitos anos! Boa semana!