sexta-feira, 30 de julho de 2010

Memórias





Tem muito assunto pendente.
Esse silêncio que me impus, ou os fatos me impuseram, não sei bem, foi bom.
Não que consiga organizar idéias, longe disso, mas consigo perceber que um fio une todos os assuntos: memória, lembranças.
Sempre soube que um dos meus maiores medos nessa vida foi o enlouquecer, perder a memória, acho mesmo que escrevi e escrevo para o caso.
Primeiro assunto, o contato com o Louis Albin sobre Cotia. Nessas conversas que, muitas vezes, parecem meio bizantinas, voltaram todas as his-estórias que envolvem esse pedaço de terras. Muitos sonhos, projetos, brigas, facções que se criaram e até hoje persistem e perdas, muitas perdas, principalmente de meu ânimo e alegria. Um dia conto sobre o preço que sei, vou pagar, por conta disso, mas sei, creio, que sairei melhor.
Depois na mesma rota, o aniversário de minha mãe no dia 28/7. Sigo contando o tempo, mesmo estando ele agora muito além da medida formal dos calendários. Imagino como ela estaria, como comemoraríamos, se com uma pizza ou uma festa, mas certamente com muitas risadas e cervejas. E a abraço e deito em seu colo imaginado agora.
Ai Luiza foi para Buenos Aires. Sozinha. Melhor, sem mim. E lá, naquela mágica cidade, onde semeei tantos afetos, aprendi tantas coisas, chorei e ri sem cessar, agora está minha filha e eu, desesperadamente, querendo que ela consiga enxergar tudo o que eu mesma descobri, desde 1978, em inesquecíveis viagens. Como herança, filha, te dou Buenos Aires, a minha Buenos Aires de tantos encantos e lembranças...
E ontem a noticia de outro neto que vai chegar. Ou neta, ainda não sei.
E tudo isso que contei acima se funde e cria um pano de fundo, da memória. E me recordo dos dias que fui mãe, que carreguei vidas em meu ventre.
E vejo a vida delegando tarefas aos filhos que agora fazem seus próprios filhos. E me vejo ocupando outros espaços, cada dia mais, o de mais velha desse grupo e nem porisso mais esperta. Ou sábia.
Apenas tive mais tempo, vi mais coisas e sei que as melhores não passam, necessariamente, pelo mundo formal nem material. São sutilezas, delicadezas, visões fugazes de gente, de afetos, de decisões e escolhas.
Fiz as minhas, ouço imensas críticas sobre. Nem sempre gentis. Fácil falar do que se vê mas não se vive. Mas a vida costuma ser assim e Caetano me conforta " cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é"...
Só sei que tem sido dessa maneira, um trajeto sutil entre dois mundos, o de hoje e o de ontem. Dos fatos cotidianos às suaves memórias. E vou contando aqui esse desenrolar dos dias, esse registro de como me sinto.
Como sempre digo, algumas his-estórias são engraçadas, outras não. Mas a vida tem disso.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Por que que a gente é assim?


Dos muitos males que afligem uma boa parte das pessoas um deles é, particularmente, interessante e recorrente: autoestima, ou falta de.
Tenho visto muitos estragos feitos por isso.
Somos, nisso posso me incluir, constantemente enganados, por nós mesmos, com atitudes que não valorizam o que temos de melhor, quem somos, o quanto somos.
Aceitamos meia-vida, meias verdades, amores escusos, situações oblíquas, remunerações abaixo de nossas qualificações, apenas pelo medo de não sermos amados e pelo não reconhecimento do nosso real valor.
Muito bom, aquele moço ou moça que fala ao nosso coração mas tem outra/o, tudo bem, usamos todos os malabarismos intelectuais etc, para " justificar", entender o amado/a, afinal todo mundo sempre tem alguém e tem que se ter paciência, pois o amor espera, compreende e aceita tudo...Mesmo que vivamos sempre com a sensação de " mentiras", de estar " fazendo uma coisa errada", ainda assim não queremos encostar nosso amado/a contra a parede, motivo? vai que ele/a vai embora....Ou seja, nos sujeitamos a compactuar com a covardia e falta de noção do outro. Por medo, e vamos acabar acreeditando que não merecemos mesmo uma relação inteira e de verdade.
Essa situação vale para tudo, nosso trabalho mal reconhecido, mal pago, mas mesmo assim " justificamos", racionalizamos: o mercado está ruim, recessivo, pelo menos é melhor que nada e vai por aí afora o amontoado de desculpas para nossa falta de amor próprio e imagem.
Nos últimos tempos tenho pensado sobre isso. Será que é realmente tão assustador optarmos por nós mesmos, pelo que queremos ou sonhamos pela vida? Será que vamos continuar jogando nas contas do destino, da sorte, escolhas, ou a falta delas, que são rigorosamente nossas?
Será que tememos tanto a solidão, o desemprego, a incerteza, trocando tudo por exatamente a mesma coisa, mas que, de certa forma, nos dá a sensação de que estamos seguros e felizes?
Não sei.
Sempre penso que nos vemos como meros joguetes do destino, que tudo está fora de nosso controle e além de nossa real atitude. Mas não, não quero me sentir assim.
Preciso errar, arriscar, colocar ponto final em situações que não quero, que não fazem parte de mim.
Tenho medo? Enorme, posso garantir, mas tenho mais medo de viver pela metade, de migalhas, num suave conformismo de que " a vida é mesmo assim".

domingo, 4 de julho de 2010

Triunfo da Vaidade













Ouço muitas vezes , sempre citada pelo Gil, a frase de Nelson Rodrigues: Só os profetas enxergam o óbvio.
Pois é, relendo minha postagem anterior, onde cito o filósofo alemão Niezstche tratando do perigo das " convicções", me senti meio profeta...
Essa Copa, esse final tão melancólico e patético mostrou, de maneira clara, como certas " certezas" são o caminho mais rápido e certeiro para fracassos e problemas.
Não sou especialista em futebol, bem ao contrário, nunca entendi o que é 4,4,2, pouco percebo a diferença entre um volante e um cabeça de área, tudo isso representa um enigma para minha pobre pessoa, torcedora, isso sim, sempre envolvida com os jogos do meu time e da seleção brasileira. Mas enxergo certas " obviedades".
Dunga e Maradona, técnicos das duas mais polêmicas e famosas seleções de futebol do mundo, cairam no mesmo engano.
Acreditaram que sabiam tudo, que estavam certos.
Deu no que deu, ambos despachados, sem pompa nem circunstância, da Africa do Sul, para chorarem as pitangas em casa, na cama, que é lugar quente.
Dunga, com seu modo de xerife grosso, sua falta de tato e delicadeza com a imprensa e os torcedores, optou por fazer o que bem entendia, convocando " famosos quem" como diria o inesquecível personagem criado pelo genial Chico Anísio, Alberto Roberto, supondo-se acima do bem e do mal.
Não convocou jogadores revelados na raça e com belissímos resultados, como Ganso e Neymar, não quis, nem na reserva, um Ronaldinho Gaúcho, mostrando que ali " mando eu" e vocês, 200 milhões de brasileiros, que se acomodem. Fechou os treinos, bateu de frente com todo mundo, incluindo a CBF e apresentou um time jogando feio, sem criatividade e, pior, que me deixava bem insegura todo o tempo. Como confiar num Felipe Melo, num Daniel Alves, num Kaká?
Maradona, com aquela personalidade bem conhecida, falando merda, apostando ficar pelado no Obelisco caso vencesse o torneio convocou gente boa, craques de verdade. Faltou o que então? Faltou técnico, já que ele parecia mais preocupado em fazer " tipo", em dar declarações no mínimo bombásticas do que comandar a seleção argentina. Todos viram o que resultou na última e devastadora partida contra a Alemanha. Não comandou, não substituiu nem na hora certa, nem os jogadores certos, o time bateu cabeça, ficou aparvalhado e levou 4 gols.
Esses são dois bons exemplos de pessoas com " muitas convicções". Gente que não escuta, não enxerga nem tem humildade para rever suas posições e fazer ajustes necessários.
Foi o triunfo da vaidade, ou seja, fracasso total.
A festa acabou, tanto aqui como na Argentina. Nós, brasileiros, temos pelo menos uma qualidade que falta aos " hermanos": não ficamos procurando justificativas nem incensando o panteão das nulidades.
Dunga não volta como herói cansado de batalhas, mesmo que perdidas, mas ainda herói. Voltou para a insignificância de onde nunca deveria ter saído. Que vá dirigir times do sul, para ele está ótimo. Já Maradona, com aquele teatro todo, com jeito abatido e deprimido, deve chegar com banda de música. Tango, logicamente. A cara dos "hermanos" esse drama, essa dor. Que pena.


ps- Ouvi dizer, por pessoa que se diz muito entendida de futebol, que Maradona seria o " homem da Copa". Deus me livre! A saída da seleção argentina ainda teve outro lado bom: não temos o deprimente espetáculo de ver " Dieguito" pelado. Aí seria mais um crime, dessa vez contra a estética e bom gosto!