sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Nunca antes na História desse país!!

Deu na Folha de SP de hoje, sexta-feira 29/10.
O CNE ( Conselho Nacional de Educação...rs...), a partir de denúncias da famigerada Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, uma das invenções do governo do "guia", está propondo o veto a uma das mais deliciosas obras de Monteiro Lobato, " As Caçadas de Pedrinho", por conteúdo racista!!!!
Na obra, referência maravilhosa da literatura infanto-juvenil desse país tão ignorante, Tia Anastácia é chamada de " negra" e há, segundo essa gente, abordagem " racista" de animais como macaco e urubu!!
Sinceridade? Pensei que já havia visto de tudo nesse país( inho) de merda! Não havia.
Mas que conversa fiada é essa, pelo amor de Deus?
Quando concordo que certas políticas, sem pé nem cabeça, servem apenas para prestar desserviços ao país, me chamam de reaça, tucana, das zelites, enfim.
Onde isso tudo vai nos levar? Certamente a uma estágio avançado de paranóia, sectarismo e burrice, coisa que, aliás, campeia pelos lados do poder.
O ensino público, faz me rir, começa a ser norteado e passa pelo crivo desses grupelhos que, aí sim, precisariam ler e se informar mais e melhor, que decidem o que pode e o que não pode ser lido nas escolas.
Isso tem um nome. Aconteceu na Alemanha nazista, na China durante a revolução " cultural", em Cuba e outros locais tão ou mais progressistas.
Li a minha vida inteira, desde os 5 anos, quando me alfabetizei sozinha. Amo os livros, todos, temos em casa mais de 5 mil volumes, uma parte de meu pai, outro rato de biblioteca e os que fomos comprando pela vida.
Monteiro Lobato foi um marco em minha vida, aprendi a amar a História, a Magia, o Folclore, as Ciências e o Brasil através dos textos lindos desse escritor inesquecivel.
Toda sua obra, completa, está aqui, em minha casa, lida por todos os meus filhos e agora será pelas netas.
Não posso me calar aqui, nesse meu blog, espaço que compartilho com amigos queridos que me dão a honra de acompanhar o que penso e sinto, sobre uma sandice e cretinice desse tamanho.
Nunca houve censura em minha casa, todos os livros, todos, de Monteiro Lobato aos Irmãos Grimm, de Henry Miller à Charles Bukowski, de Eça de Queiroz ao Marquês de Sade, de Marx a Jung, de Kant a Vargas Llosa, tudo, tudo enfim, esteve, está e estará sempre ao alcance das mãos de quem quiser le-los, independente de idade, cor, credo e religião.
Foi assim comigo e será sempre assim em minha vida.
Nunca antes na História desse país, nem mesmo no tempo dos " gorilas" da ditadura, se propos algo tão escandaloso!
Falta cultura, falta vergonha na cara, falta bom senso, falta educação, falta critério.
Sobram a arrogância, o sectarismo, a ignorância em todos os níveis, o abuso.
Triste escola essa pretendida por esse bando de energúmenos.
Triste das nossas crianças sem os macacos e urubus ( sorry, a natureza os fez pretos!), sem Tia Anastácia ( sorry de novo, não é escandinava, é negra sim!), mas triste mesmo é o que virá dessa republiquinha de banana, encabrestada por um bando de imbecis prepotentes.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sweet memories...



Deu na Folha de domingo, acho ( sorry, ando com lapsos de memória..rs).
Uma matéria sobre Mostra No MuBA, Museu de Belas Artes, de 23 croquis de Dener Pamplona de Abreu, primeiro dos chamados hoje " estilistas" brasileiros, costureiro naqueles tempos...
Os desenhos doados pelas filha de Dener, recebeu os comentários uma de suas funcionárias que acompanhou, de muito perto, a trajetória profissional e pessoal de Dener.
Com carinho e orgulho ela fala da personalidade, talento e trabalho sério e bem feito daquele rapaz, culto e refinado, primeiro a perceber nossa " brasilidade " e colocá-la como dado importante e belo num mundo tão apegado aos valores de uma Europa distante...
Ler sobre Dener me trouxe, de volta, minha mãe.
Aquela bela e interessante mulher tinha, em seu quarto imenso do casarão da Avenida Rebouças, um baú, onde dormiam, sonho de menina-criança, além de seu vestido de noiva, lindos vestidos de baile.
De vez em quando, muito de vez em quando, ela permitia que eu abrisse o baú e de lá tirasse aqueles magníficos trajes de gala e os experimentasse...
Havia um excepcional aos meus olhos de menina, lilás, cor insólita, pouco usada naqueles dias, não era moda, com um espetacular bordado em pedrarias no mesmo tom que descia do corpete, pelo seio esquerdo e ia até os pés, formando galhos e arabescos em suave movimento acompanhando as formas do corpo. E luvas acompanhando, acima dos cotovelos, em cetim, no mesmo tom.
E havia outro, preto, saia lembrando um tutu de bailarina, em point d ésprit, corpete de zibelina creme e a cintura marcada com faixa negra de cetim arrematada por lindo buquet de muguets creme.
Era um deslumbramento!
Eram de Dener. Antes dele ser Dener.
Minha mãe o conheceu no atelier de Madame Rosita, ele, muito jovem iniciando seu trabalho.
Ela o descrevia com alguém tímido mas já com o incrível olhar de criador, talentoso, capaz de adivinhar o que ficaria bem na cliente.
Esses lindos vestidos eram desenhos dele e minha mãe os guardou por muitos anos junto carinho e admiração pelo costureiro.
Não sei onde foram parar esses trajes. Nunca mais os encontrei nas coisas de mamãe.
Em minha memória está, entretanto, viva para sempre, a bela figura de minha mãe usando seus lindos vestidos de baile.
E igualmente viva a lembrança de Dener, criativo, provocador, cheio de talento e capaz de nos fazer perder a vergonha de sermos brasileiros!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Num tempo de maior delicadeza





Os últimos dias tem sido marcados por atitudes deselegantes e mal educados vindas, lógico, dos nossos políticos e suas respectivas" entourages" e torcidas. Acusações, denúncias, enfim.
Nem vale a pena comentar, apenas lamentar.
Por outro lado, para contrabalançar, li na Folha, acho que de segunda-feira, uma matéria muito linda. E triste.
O assunto era o seguinte, uma família possui um papagaio.
Isso é muito anterior a nova regulamentação e parece que, como medida de precaução, os donos declararam ao Ibama serem donos da ave, justamente para evitar incorrer em crime ambiental.
A coisa agora está nos tribunais. O Ibama quer porque quer retirar o bichinho e propõe das duas, uma: ou reintegrá-lo à natureza ou sacrificá-lo caso esteja doente.
O papagaio sofre de epilepsia e conta, inclusive, com gaiola forrada para os momentos que entra em convulsão e desmaia. Cuidado amoroso de seus donos, para que não se machuque.
O juiz deu parecer favorável aos donos, baseado, entre outras considerações, no laudo de um veterinário.
Esse médico, ser humano excepcional, coloca em seu parecer não só a incapacidade do papagaio que, após tantos de cuidados e mimos, não saberia como sobreviver sozinho num ambiente selvagem, como também a questão emocional, do afeto, apego por seus donos...Segundo o veterinário existem fortes indícios de que essas aves possuem algum tipo de memória, sendo, inclusive, capazes de sonhar...A dor da separação seria, portanto, muito dolorosa e até fatal.
Ainda existem pessoas nesse mundo que, através de pesquisas, estudos, muita dedicação e amor, nos falam em sonhos de papagaios.
Sonho de papagaio, fiquei pensando...
Como seriam eles? Coloridos, cheios de cores e movimentos, talvez antigas lembranças de árvores em densas florestas, céus azuis, tardes de sol forte, o gosto das papayas e goiabas maduras, o zunzum de insetos, as folhas de onde pingam as gotas das chuvas e guardam a água doce e cristalina que mata a sede...Ou talvez a voz dos humanos, seus sons incompreensíveis e facilmente imitáveis, as mãos que acariciam penas e coçam a cabeça...
Tudo isso é muito lindo e muito triste.
Lindo saber dessa imensa capacidade de sonhar, sonhos são sonhos, de gente ou papagaios e ninguém pode ser feliz sem eles. Sonhar torna tudo mais belo, melhor, mais suportável e elimina diferenças entre aves e pessoas.
Triste pois, justamente um orgão, Ibama que, em teoria, deveria " proteger" vida e natureza, propõe a aplicação fria e cega de seus regulamentos, desconsiderando o que seria, de fato, melhor.
Parece que, aos poucos, não está restando mais espaço para delicadezas, para a sensibilidade, para o olhar sereno em direção ao outro, um outro, qualquer outro, gente ou bicho, que não nós mesmos.
Abro os jornais e lá estão brigas, ataques, agressões sem sentido
Ah, se por um segundo as pessoas conseguissem parar e ver como seus rostos se desfiguram em máscaras crispadas sem brilho nem beleza quando se alteram dessa maneira... Como suas vozes ressoam com metais, sem acordes de suavidade e carinho quando gritam seus pontos de vista, talvez aí pudessem, como os papagaios, sonhar um pouco.
Sonhos bons, de harmonia e tranquilidade. Sonhos para sonhar junto, de um mundo melhor, sem rancores, sem retaliações nem ameaças. Sonhar com um tempo de maior delicadeza.
Sonhos de aves, de bichos, de rios e cascatas.
E ai, quem sabe, descubram o que é realmente ser " humano"...

Bom final de semana.

sábado, 16 de outubro de 2010

E se ???






Luiza, minha filha, escreveu " e se o amor tiver prazo de validade"...
Pois é, fiquei pensando...
Prazos de validade, assunto bom, legal, interessante...
E se tudo o que acontece hoje, vésperas de segundo turno, tiver prazo de validade? Promessas, juras, documentos assinados, posturas e declarações de fé?
Isso, certamente, terá mesmo.
Hoje pessoas são contra ou a favor do aborto, contra ou a favor das privatizações, da educação com cotas, da sustentabilidade, do mundo e das pessoas...
Virou um vale tudo.
Gente conservadora vira liberal e vice-versa. O que querem aqueles que propoem tais perguntas? Seu voto, seu aval.
Daí pra frente vale o ema, ema, ema. Cada um com seus problemas.

Estou fora, aliás faz tempo.
Me recuso a um papel patético e coadjuvante nesse amontoado de mentiras, promessas e comprometimentos...
Aprendi, a duras penas, que revoluções são individuais e dolorosas, como partos. Por favor, NÃO existem soluções coletivas para a existência humana, cada um é deus e carrasco de seu próprio destino.
E posso dizer sem ser de orelhada, pois pari meus filhos e meus sonhos e medos e projetos na raça, sem cirurgias anestesiadas com data marcada.
Ninguém vai nos trazer o paraíso em terra, ninguém.
A luta é nossa, instransferível, diária, exaustiva. O resto é conversa, discurso, balela, bullshit, como dizem os norte-americanos.
A cada dia que nasce, somos, sou e sempre serei, responsável pela minha vida, escolhas, de discos, livros, amigos e caminhos. Não dou a nenhum outra pessoa o poder de me dizer o que me é de melhor ou pior. Isso é meu e eu que use com a melhor sabedoria.
Vivi muito, 55 anos não são 55 dias. Ou são.
E nunca vi, desde os anos dourados que tive o prazer de nascer, passando por todas as crises e mudanças( !) desse país, alguém me trazer alguma resposta ou solução que não estivesse em mim, dentro de mim, arrancada muitas vezes, à ferro e fogo e sob muita dor.
Não suporto mais os e-mails que recebo, de uns e outros, contra ou favor, desse ou daquele caminho.
Fico cada dia mais triste ao perceber, sorry, que isso tudo é um enorme paliativo, distração de momento e tempo, que acaba tirando pessoas, algumas até legais, do grande sentido, da grande pergunta de se estar vivo: quem sou eu?
Fica muito mais fácil entrar embaixo de uma bandeira, time, partido ou pessoa e ressoar como uníssono, do que ouvir a própria voz, nem sempre agradável...
Devo estar ficando velha mesmo...
Mas mesmo assim nunca quis, não é meu e pelo jeito nunca vai ser, pensar em bando, raciocionar com muitos, gente que nem sei quem é...
Não dou esse direito ou poder a quem quer que seja.
Hoje sou uma mulher pobre, sem bens, sem grana alguma, mas me resta o cérebro e coração e disso não há como abrir mão.
Meus erros, acertos, o bom e ruim, os escolhi sozinha. Arco com isso.
E mesmo com tantos anos para trás não me desvio dessa meta, desse único e pessoal projeto: descobrir quem sou eu, como sou, o que quero e sonho, pro que der e vier. Com todos os ônus e os bônus.

Cito Caetano, sempre tão amado.

" Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é "...


Ps- esse blog é para todos que mandam e-mails bomba, denúncia, dados, estatísticas, leis e outros, sobre seus " candidatos" e acreditam que serão felizes com suas escolhas.
ps2- a imagem desse blog é a ' Velhinha de Taubaté"...( que sempre acreditava em tudo.)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tomara

Tomara meu deus, tomara
uma nação solidária,
sem preconceitos, tomara,
uma nação como nós...
( Tomara- Alceu Valença)
Tomara...
Tomara mesmo.

Que Deus, ou sei lá o nome que queiram ou achem melhor, nos mostre caminhos, nos livre de atalhos e descaminhos.
Que Luiza encontre o seu, caminho, destino, trem que nos transporta e lá, no final encontre a luz e a felicidade...
Que Dani, cheio de luz, a enxergue. Tem que abrir os olhos, perceber, a luz tá aí.
Tomara que tudo seja bom. Para Rafa e Tati e Laura, que possam acolher Helena, que está para chegar, com amor e carinho.
Tomara, meu Deus, tomara, que a minha força não fique muito fraca, nem minha esperança empalideça.
Que a passagem dos dias seja apenas a passagem dos dias...Sem medo, sem cobranças...
Tomara que o sol siga nascendo e a noite chegando.
Mesmo que seja duro, difícil, que ainda assim essa sequência seja mantida.
Tomara, tomara, meu Deus, verões em Juquehy, sol, mar, sal e a energia renovada, pulsando, trazendo vida à vida.
Tomara amigos, todos, muitos...colos, abraços, choros, risos, biritas, cartas, olhares e um mágica cumplicidade...
E não quero mais chorar, só de emoção, com Coltrane, com Beatles, com Caetano, Tom, blues e Piazzola. Com Cazuza, Ibrahim Ferrer, com Guimarães Rosa, Shakespeare, Eça e com Vargas Lllosa.
Quero o Nobel da paz pro dissidente chinês preso e torturado, quero o Dalai Lama, quero Chico e Presley, e mais blues...e mais amigos, mais gente...
Tomara, meu Deus tomara, tudo de ruim acabar...
E ficar pra sempre com Nelson Cavaquinho...
"do mal, será queimada a semente, o amor será eterno novamente..."

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Amor





Ele estava impaciente.
As horas passavam e nada dela.
Andando pela casa inteira, ia e voltava até a porta de entrada tentando escutar algum ruído que assinalasse sua chegada.
Certo, sabia que era assim, a moça era meio atrapalhada, sem grandes vínculos com a rotina. Essa característica ou traço de personalidade sempre representou fonte de ansiedade e inquietação para alguém como ele, tão rotineiro, tão apegado a hábitos e manias. Mas a amava, muito, apesar disso...
Desde que a conhecera soube era para sempre e nunca haveria mais ninguém.
Essa mulher representava tudo de bom e lindo em sua vida...
Sua voz, quente e rouca, as mãos delicadas que tinham tantos gestos de carinho, seu cheiro, adocicado, que lembrava braçadas de frésias e lírios, tudo o encantava.
Até mesmo suas pequenas traições, pois ela era dada a paixões repentinas e nesses momentos ele discretamente se afastava, pois sabia que tal estado não era para sempre. Não demorava muito e ele a tinha de volta, magoada, triste e chorosa e encontrava em seu amor incondicional o consolo e a felicidade.
Hoje, entretanto, ela estava demorando. Uma angústia imensa o acometeu, e se algo tivesse acontecido? E se tivesse se acidentado? E se tivesse fugido com o namorado do momento, aquele desconhecido que tomava horas de seu tempo ao telefone?E se? E se?
Sua apreensão aumentava a cada nova conjectura, mal podia respirar e em vão tentou se convencer que poderia passar muito bem sem ela. Afinal das contas todos tem sua vida e não tinha sentido viver apenas para um outro ser. Esse pensar, entretanto, não o consolava. Sabia-se refém desse amor e não haveria, sem ela, motivo algum para estar vivo.
Ainda preso nesse estado de desespero ele ouviu o barulho das chaves na porta. Com o coração aos saltos correu e parou, ao ver a imagem tão querida que, cheia de sacolas, bolsa, guarda-chuva, agendas, entrou sala adentro tornando, nesse segundo, todo o aposento iluminado.
Ela sorriu ao vê-lo, ali, parado e com imenso carinho e palavras de amor e de desculpas pelo atraso, o pegou no colo.
Ao sentir o carinho de suas mãos em seu pêlo longo e macio e sentir os sussurros e beijos, ele, com seus imensos olhos de gato, olhou para o rosto da mulher e soube, naquele exato instante, o que era a felicidade.