quarta-feira, 20 de abril de 2011

Céu de Abril...





Fiquei pensando no que escrever aos meus pacientes leitores como mensagem de Páscoa.
Certo, já sabemos, renascimento, ressurreição, transmutação, milagres, tudo permeado a muito bacalhau ( pra quem gosta, irgh!) e chocolate.
O que quero deixar para vocês é um lindo céu de abril, e são sempre lindos os céus desse mês...
Nos preparamos para o outono, damos adeus aos excessos do verão, com seu " tudo muito": calor, sol, movimentação, etc..
Abril é tempo de contemplar e esperar, de aprender a ser paciente para enfrentar um novo morrer de folhas e princípio do frio e depois, bem lá na frente, encontrarmos nova primavera.
Tempo em que tiro minhas agulhas e novelos coloridos e fofos, para começar a criar cachecóis inusitados e cheios de alegria, quase serpentes iluminadas e psicodélicas.
Esse é meu momento de reflexão, de pensar no "como" vai ser meu inverno, que amo muito e que me mantém sempre esperançosa de poder passá-lo em Buenos Aires amada...
Meu espírito começa a sonhar com as manhãs geladas e as media-lunas quentes.
Quero deixar, com muito carinho, um pouco do sentido já conhecido da Páscoa, de realmente re-viver coisas, pessoas e sentimentos, mas também o lindo azul que entra pela minha janela.
Que seus dias sejam sempre assim, azuis, mornos, serenos e de paz.
Que a sonhada serenidade que tanto falamos e almejamos, nasça sob esse firmamento.
Sem mais dramas, dores, sustos ou preocupações. Ou que, caso continuem existindo, sejam suportáveis e com data pra terminar.
Mergulho nesses dias de abril, com imensa felicidade, mesmo com tanto para não ser feliz...
E compartilho com vocês, com enorme afeto.

Boa Páscoa.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Desejos





E um dia, inevitável, somos colocados diante de nossos sonhos e desejos.
Ou do que andamos fazendo com eles...
Outra noite, incrível e inesquecível, voltei no tempo e junto a algumas mulheres fantásticas, minhas velhas ( não no sentido " idade"...rs) amigas do ginásio, lembrei dos sonhos que tive, que tivemos tantos anos atrás...
Éramos meninas quando nos conhecemos e viramos adolescentes juntas.
Aprendemos as análises sintáticas e as equações do primeiro e segundo grau juntas. Fizemos pesquisas, trabalhos e montamos peças de teatro. Nos metemos em brigas, fumávamos escondidas e amávamos a Rua Augusta e a Galeria Ouro Fino. E os Beatles e os Rolling Stones.
Não viramos adultas juntas.
Esse foi o grande hiato em nossas vidas. Teve um momento que nos separamos, os caminhos se abriram em leques e fomos em busca do nosso destino.
Algumas de nós casaram, descasaram, tiveram filhos, outras também seguiram carreiras acadêmicas em áreas diversas, outras saíram do país e como pioneiras criaram famílias fora. Algumas quebraram paradigmas e outras, em batalhas silenciosas, enfrentraram preconceitos e regras.
Algumas de nós se apaixonaram por política, outras pela medicina, outra pelas leis, ou por viagens ou pela literatura e astrologia.
Algumas de nós, nascidas em berço esplêndido, conheceram a " dureza" e dificuldades do mundo...
E sentamos, noite dessas, como se não tivesse passado mais de 40 anos e num círculo mágico estávamos frente a frente. Com nossas melhores lembranças e com as, um dia meninas, que fomos um dia.
E numa mágica feita pela vida e coração, a conversa e o riso correram sem dificuldades, como se retomássemos um conversa de " ontem" e não de tantos anos atrás.
E ali, na casa generosa da amiga que nos reuniu, falamos de nossas experiências, boas e ruins, contamos casos, falamos de grandes dores, perdas, apresentamos nossos filhos e vida, tudo com leveza e humor.
Não éramos um grupo de " senhoras" reclamando do mundo, nem sempre justo e bacana, nem das coisas que tivemos que passar, mas sim um grupo cheio de sonhos e desejos, como o de 40 anos atrás!
Claro que não são os mesmos sonhos, pois alguns realizamos e outros descobrimos que não faziam muito sentido, mas nenhuma de nós perdeu o comprometimento com o bom, o belo e o cheio de felicidade. Ainda amamos a vida e seus mistérios, somos mais pacientes, mais tolerantes, menos afoitas e inconseqüentes.
Cada uma de nós, com quilos a mais, cabelos nem tão escuros e brilhantes e peles não tão lisa, adquirimos nova beleza, feita de serenidade e uma enorme dignidade.
E descobrimos, magia encantadora, que ainda somos meninas em nossos corações e afetos, que ainda usamos as saias azul marinho pregueadas e os livros embaixo do braço, como eternas aprendizes da vida.
Conseguimos, tantos anos depois, perceber que, de muitas maneiras, alteramos o mundo, grande ou pequeno e que nossos projetos, todos eles, pessoais ou coletivos, nos tornaram pessoas melhores, mulheres melhores e especiais.
Nesse encontro trocamos risos, lágrimas, memórias e visões e, claro, chocolates, afinal é Páscoa!
Vivemos uma linda Páscoa, no sentido mais delicado dela, o de renovar, de renascer na fé e esperança. E em nossa eterna amizade.
Beijo enorme, meninas!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Carta para a amiga





A amiga está com problemas.
Não vem ao caso, aqui, os motivos, mas sim sua enorme tristeza...
Não é amiga qualquer, mas dessas que " fecham" comigo, está lá quando acho que vou baquear, somos mães de nossos filhos, meus e dela que viram nossos.
Está na minha vida faz tempo.
Mas ela tem um mecanismo, comum, mas que sempre acho estranho. Ela some, se esconde quando fica mal, deprimida. Cria uma espécie de couraça, barreira, fica indisponível.
Tá certo, isso me parece meio coisa de bicho, que se isola num canto para lamber as patinhas feridas...Mas é pouco eficiente.
Também ajo assim de vez em quando, mas acabo, pela enormidade de minha aflição que não suporto, abrindo aos 4 ventos e em prosa e verso, as minhas angústias. E " blogo"..rs..
Minha amiga não " bloga", nem aparece, nem veio ver minha/nossa neta nova...
Começo agora, ainda hoje, a operação " saca-rolhas"..vou ligar até que atenda, tocar a campainha até que abra a porta, pois sei, soube, sinto, que suas dores chegaram a ponto complicado.
O quero nesse blog? Não sei bem, acho que apenas avisar a ela, a todos que me lêem, a mim mesma, que sozinha fica pior...
As dores, como as alegrias, existem para ser compartilhadas. Não somos seres solitários, não somos máquinas, nossa frágil humanidade pede isso. Juntas somos mais fortes.
Ando meio triste também, amiga, ando precisando sentar com você, com nossas xícaras de café forte e sem açúcar que amamos e chorar um pouco.
Sempre fizemos isso, mesmo ainda jovens, filhos pequenos e com os maridos do momento.rs..
Sua dor é minha dor, sei que vale o mesmo prá você.
Não está sozinha, mesmo que todas as decisões que tenha que tomar sejam inexoravelmente suas, ainda assim te ofereço apoio, suporte e vou concordar sempre com o que fizer ou não.
Só não vale desistir, largar mão, se fechar dentro de um quarto ou no trabalho. Não resolve.
Gente como nós, com toda a nossa trajetória, não é de entregar os pontos tão fácil.
Como disse o poeta " a vida é prá valer, a vida é prá levar"...
Te digo, vai passar, como sempre tem sido.
Não sei se riremos disso um dia, pois tem certas coisas que nunca tem graça, mas sei que riremos de outras coisas, muito mais interessantes e bacanas.
Te cuida, me cuida.
beijos
Nil

PS- não vi seu e-mail sobre o trabalho no U2, andei arisca do Gmail...não teria ido de qlq forma, ando precisando de coisas mais tranquilas..rs...de qlq modo, querida, obrigada.



terça-feira, 12 de abril de 2011

Correr


Correr com lágrima, com lágrima, com lágrima nos olhos
Não é definitivamente pra qualquer um... ( Lobão-Bernardo Vilhena)

Não é metáfora, embora também possa ser...
Tenho uma imagem, real, dura, gravada a ferro e fogo em mim, de uma situação dessas.
Queria socorro, ajuda, salvar uma vida que me era muito cara, e corri com lágrimas nos olhos.
Talvez nunca tenha sentido tamanha sensação de impotência como nesse episódio.
Correr, embora seja uma mercuriana regida duplamente por Hermes,o que tem asas nos pés, sempre me foi estranho.
Corro com a cabeça, com as palavras, com as idéias e pensamentos.
Não sei correr com as pernas...
Me atrapalho, troco os passos errados, tropeço e em geral caio.
E tenho medo de cair, como diria Noriel Vilela e Seus cantores de ébano..rs( lembrei da canção " Leva eu"...rs)
Só sei que corri, como nunca correra antes, em pânico, em desespero, atrás de ajuda e de, estranho, poder dividir com alguém a perda iminente.
Nessa corrida não cheguei a lugar algum, não encontrei ninguém que me socorresse, corri e permaneci sozinha.
Ao me deparar com a inexorável solidão, voltei. Correndo. E ali, sozinha, secando as lágrimas, driblei uma crise.
A perda, adiada em horas, não aconteceu, não ali.
Uma coisa essa sensação.
Correr com lágrimas nos olhos, como se por dentro de uma névoa, através dela e o lá, o depois, não se sabe bem o que é.
Concordo com Lobão, não é, definitivamente prá qualquer um, aliás não deveria ser p´ra ninguém.
Não sei bem o que trouxe de volta a esse momento. Talvez Freud explicasse.
Não sei mesmo, apenas compartilho, quem sabe para nunca mais ter que correr assim.



domingo, 10 de abril de 2011

E agora?





O domingo que, sempre esqueço, começa a semana e não termina, traz a ressaca emocional de dias trágicos e assustadores.
Ecos de Realengo-RJ vão durar muito tempo, embora em alguns dias a mídia mude de assunto, provavelmente por conta de outra tragédia ou notícia nova!
Médicos, terapeutas, pessoal de segurança, sociólogos, gente especializada enfim, ocupou os jornais buscando explicações para algo tão medonho que parece pesadelo: crianças, jovens abatidos por um ser totalmente enlouquecido.
Parece que somente com algumas explicações, lógicas, sensatas, será possível retomarmos a sensação de segurança. Será?
Já ouvi e li de " um tudo"...
Desde teorias envolvendo os Iluminati, Al Qaeda, testemunhas de jeová, bullying, homossexualidade até o capitalismo. Essa foi de lascar! Contrabandear convicções político-ideológicas a uma doidice dessas me parece no mínimo simples demais!
O moço que provocou essa desgraça todo era, sorry mirabolantes explicações, doido!
Louco é louco, em qualquer lugar do planeta, do Oiapoque ao Chuí e isso não tem como prever.
Todos nós, nisso me incluo, sofremos, em algum momento da vida, algum tipo de dor ou sofrimento, rejeição, injustiças ou humilhações. Nem todos fomos " populares" na escola! Muitos tiveram problemas em casa, com pais ou mães fora dos padrões dos manuais, famílias destruídas, etc, etc. Perdas de todos os tipos, muito enterraram filhos, sonhos, sobreviveram a tragédias, foram obrigados a recomeçar. Penso que as situações descritas acima são conhecidas por enorme fatia da população.
E nem por isso saímos resolvendo à bala, nos vingando, destruindo e assassinando outros que nada a tem a ver com isso...
O que perturba nessa tragédia é isso, sermos obrigados a lidar com a loucura, com o que não tem nem lógica nem razão e ainda assim sairmos atrás de respostas que não existem. E caso existam, certamente não nos trarão nenhum alívio ou devolverão nossa despreocupação e segurança.
Dizem os antigos que " com louco não se discute", interessante não?
Sei que a semana foi horrível, chorei muito, pelos pais, mães, amigos, pelas crianças.
Olhei Helena, minha neta de 40 dias de vida linda e tranquila, ressonando nos meus braços, ou Sofia e Laura com suas graças de semi bebês, cercadas de tanto amor e cuidados e tive medo.
Tenho medo.
Medo do que não posso prever, evitar, sequer imaginar.
Para pessoas como esse moço, desesperado, desequilibrado, alheio a qualquer código de amor e conduta, nada disso conta.
E nem grades, nem portões, nem câmeras, nem aparatos militares nos manterão distantes de gente assim.

Boa semana.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Tempo de rever







O "Eclesiastes 3" ensina: " Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu".
Disso não duvido, embora, tema desse blog de hoje, não me seja, mesmo aos 50 e muitos anos, muito claro para mim qual o tempo de cada coisa.
Qual o tempo, ou momento se preferirem, de párar, de desistir, de largar mão, de deixar?
Será que não ando me perdendo em coisas, fatos, situações que não tem saída, não tem jeito nem solução? Por teimosia, por orgulho ou mesmo pelo estranho hábito de lutar por aquilo?
Sim, a gente se acostuma a lutar, mesmo com dores, agonias e tristeza...A luta em si acaba sendo mais importante que o motivo pelo qual lutamos...
E belo dia descubro que não queria muito aquilo, que não era bem isso e ainda assim me vejo numa batalha sem fim! Doido,não?
Penso, muitas vezes, que sabedoria deve estar diretamente relacionada à minha, nossa, capacidade de " discernir", separar o tal joio do trigo, investir e recuar nos momentos exatos.
Será que aquele meu lindo projeto de conseguir vender A e com isso conseguir B, vale mesmo a pena? Será que as dores, decepções, angústias e arrependimentos compensarão no final?
Ou o final será o meu? Desgastada, sem pique, sob uma pilha de escombros que não quis e que acabei provocando, sentirei o tão esperado gosto da vitória? Não sei dizer, mas intuo que não, que o tão almejado projeto me trouxe a um lugar muito, mas muito mesmo, distante de quem sou e do que quero. Isso sem contabilizar o quanto sofri e perdi nisso...
Tenho esse péssimo desvio, o de ser obstinada, cabeça dura, enfiar algo na cabeça e nem Cristo renascido conseguir me fazer párar.
A verdade é que ando sentindo que não está valendo muito tanta garra, se perco em algum instante, a percepção de que o algo passou, que foi, que mudou.
Ou seja, preciso, urgente, me ligar, me manter viva e atenta para a passagem do tempo sobre todas as coisas...
Tenho, nesses anos, brigado muito por tantas e tantos, quase um guerreiro profissional, resta agora dirigir, com mais inteligência, minha coragem para o que de verdade quero e vale a pena.
Por via das dúvidas coloquei o Eclesiastes 3 como papel de parede do meu monitor, quem sabe assim, ao ler e reler todas às vezes que sento diante do computador, essa maravilhosa sabedoria um dia " entre " em minha mente e coração.

domingo, 3 de abril de 2011

Corrente





"Os que sonham de dia são conscientes de muitas coisas que escapam aqueles que sonham apenas à noite." (Edgar Allan Poe)


Recebi e-mail, super simpático, de amiga criando uma corrente de " receitas".
É aquilo, vem nomes na lista, você envia aos dois primeiros a sua receita, coloca seu nome e a coisa vai crescendo em progressão matemática.
Não deixa de ser interessante, saber do que gostam as pessoas, se de doces, salgados, massas, aves, carnes ou da altíssima gastronomia.
Fiquei pensando, então, em criar um outro tipo de corrente, onde as pessoas iriam contando, a conhecidos ou estranhos da lista, seus sonhos.
Sim !Uma corrente de sonhos!
Seria bem legal saber que aquela pessoa que você acha que conhece faz tanto tempo, sonha em escalar o Everest ou mesmo ter uma pousada numa praia de nudismo, logo ela, tão certinha, tão comum...
Ou uma outra, totalmente desconhecida, ter sonhos parecidos com os meus, prosaicos.
Foi aí que fiquei pensando, qual seriam meus sonhos? Nessa corrente teríamos direito a 3 escolhas.
Isso me tomou algum tempo, pois devo ter milhões de sonhos, mas na medida que ia listando, a maioria me pareceu bem descartável!
Ok, dinheiro é ótimo, bens também, saúde nem se fala, mas isso não faz parte de sonhos, mas de empenho e cuidados, portanto não servem.
Foi então que cheguei a algum lugar, e conto para vocês os meus sonhos:

1-Poder viajar, Ouro Preto, Paraty, Juquehy, Londres, Paris, Roma, Istambul, não importa, mas simplesmente " poder" ir, mesmo que por um singelo final de semana.

2-Escrever, escrever, escrever, sempre. Conseguir me livrar dos momentos de "branco" terrível e achar sempre as palavras certas para contar minhas estórias.

3-Nunca deixar de me emocionar, de sentir e expressar isso. Pode parecer bobagem, mas para um virginiano como eu, passar por grandes pressões, dores, mágoas e desilusões, acaba me levando a " fechar", como forma de proteção e sobrevivência. E é esquisito ficar assim, meio alheia a tudo e a todos.

Não sei se minha corrente pode dar certo, vou ver se ponho em prática.
O que sei é que é um exercício divertido esse, pensar no quê faz a gente sonhar...
Páre um minuto, pense, o que te faz sonhar?
Um jipe? Um relacionamento? Uma casa na praia? Sossego? Todos os discos dos Beatles remasterizados? Um quadro de Picasso? Um curso no exterior? Rafting?
Se você vai conseguir não sei dizer, mas de qualquer modo estar em contato com seu sonho, certamente, vai te tornar mais forte, mais ousado e com mais pique prá viver.
O que não é pouca coisa, concorda?!
Bom domingo.

sábado, 2 de abril de 2011

O quê em quem...





Pois é, já fui acusada de procurar o mordomo inglês como marido, sabe não? Aquele tipo que é impecável, perfeito, educado, silencioso e cumpre, com maestria, suas funções.
Claro que algumas dessas qualidade são muito atraentes, mas não é bem isso o que sempre procurei.
Em algum tempo, bem atrás, tive o ideal de amor romântico e o achei num quase menino. Lindo, loiro, olhos azuis, culto, filho de alemães, bom filho e sério. Acho que o amei, ou nos amamos, por toda a nossa adolescência. Em siléncio, sem nos tocar, nem que olhássemos mais que 1 minuto para os olhos do outro. Tímidos e reservados, mas amigos. Ríamos muito, amávamos Led Zeppelin e os Beatles, tomávamos pileques que curávamos nos amanheceres de Solemar e dançávamos " soltos". Vivemos em bando esse amor, todos percebiam e nós apenas ríamos dos comentários.
Um dia, final de adolescência, fui buscá-lo em seu apartamento de praia, ele abriu a porta e me recebeu nú, sim nú! O já então homem me sinalizou, da forma mais óbvia possível, que não éramos mais os dois meninos brincando de amor. E saí, chocada, perplexa, pela beleza do corpo de homem dourado de cabelos loiros e pelo desastre de ver ali, no exato instante, meu amor romântico, tão delicado, morrer...
Depois tive um amor-filhos-família-rock-música e parecia ter encontrado naquela pessoa a resposta derradeira às minhas buscas. Éramos muitos e um, por muito tempo. Até que um dia acordamos sem nos reconhecer, parecia que todo aquele lindo projeto de comercial de margarina não fazia mais sentido!
Daí amei sem ser amada, para o outro bastava isso, bem confortável, não? Eu o amei por anos e anos e recebi dele uma certa displicência que acabou me legando um vazio imenso. Hoje somos o que sempre deveríamos ter sido, bons amigos.
Foi então que desbundei de vez, busquei muito, amei muito, amei sem perguntar se alguém queria esse amor, entrei em escolhas complicadas, situações no mínimo discutíveis, já que passavam bem longe de qualquer possibilidade de ser feliz.
Esses amores passageiros também se revelaram, como pude concluir, meio transversais de algum caminho que tinha perdido.
Sei que não quero o amor romântico, nem o família, nem os dos " años locos", nem os que tive que dividir com outra pessoa, nem muito menos o tipo " Alfred-mordomo".
Prefiro o amor-afinidade-delicadeza-presente-cúmplice-junto.
E agora, percebo, nesses anos de desesperada busca do amor que essa é tarefa para toda uma vida, que exige atenção, diária, incessante e uma percepção de tantas e incontáveis sutilezas que, caso não se tenha, faz cair todo um projeto num segundo.
E queria muito que a recíproca fosse verdadeira. Que meus longos silêncios, meu isolamento, minha cara de estar " pensando o tempo todo", pudesse ser compreendida sem crises, sem neuras, sem cobranças.
Posso perfeitamente entender o outro e até mesmo " suportar" as diferenças e esquisitices. E mesmo assim sei que posso continuar amando e colocando nele o meu coração, tão velho de guerra e ás vezes tão cansado, magoado, mas que insiste em ter esperanças.

Bom final de semana.