sábado, 2 de abril de 2011

O quê em quem...





Pois é, já fui acusada de procurar o mordomo inglês como marido, sabe não? Aquele tipo que é impecável, perfeito, educado, silencioso e cumpre, com maestria, suas funções.
Claro que algumas dessas qualidade são muito atraentes, mas não é bem isso o que sempre procurei.
Em algum tempo, bem atrás, tive o ideal de amor romântico e o achei num quase menino. Lindo, loiro, olhos azuis, culto, filho de alemães, bom filho e sério. Acho que o amei, ou nos amamos, por toda a nossa adolescência. Em siléncio, sem nos tocar, nem que olhássemos mais que 1 minuto para os olhos do outro. Tímidos e reservados, mas amigos. Ríamos muito, amávamos Led Zeppelin e os Beatles, tomávamos pileques que curávamos nos amanheceres de Solemar e dançávamos " soltos". Vivemos em bando esse amor, todos percebiam e nós apenas ríamos dos comentários.
Um dia, final de adolescência, fui buscá-lo em seu apartamento de praia, ele abriu a porta e me recebeu nú, sim nú! O já então homem me sinalizou, da forma mais óbvia possível, que não éramos mais os dois meninos brincando de amor. E saí, chocada, perplexa, pela beleza do corpo de homem dourado de cabelos loiros e pelo desastre de ver ali, no exato instante, meu amor romântico, tão delicado, morrer...
Depois tive um amor-filhos-família-rock-música e parecia ter encontrado naquela pessoa a resposta derradeira às minhas buscas. Éramos muitos e um, por muito tempo. Até que um dia acordamos sem nos reconhecer, parecia que todo aquele lindo projeto de comercial de margarina não fazia mais sentido!
Daí amei sem ser amada, para o outro bastava isso, bem confortável, não? Eu o amei por anos e anos e recebi dele uma certa displicência que acabou me legando um vazio imenso. Hoje somos o que sempre deveríamos ter sido, bons amigos.
Foi então que desbundei de vez, busquei muito, amei muito, amei sem perguntar se alguém queria esse amor, entrei em escolhas complicadas, situações no mínimo discutíveis, já que passavam bem longe de qualquer possibilidade de ser feliz.
Esses amores passageiros também se revelaram, como pude concluir, meio transversais de algum caminho que tinha perdido.
Sei que não quero o amor romântico, nem o família, nem os dos " años locos", nem os que tive que dividir com outra pessoa, nem muito menos o tipo " Alfred-mordomo".
Prefiro o amor-afinidade-delicadeza-presente-cúmplice-junto.
E agora, percebo, nesses anos de desesperada busca do amor que essa é tarefa para toda uma vida, que exige atenção, diária, incessante e uma percepção de tantas e incontáveis sutilezas que, caso não se tenha, faz cair todo um projeto num segundo.
E queria muito que a recíproca fosse verdadeira. Que meus longos silêncios, meu isolamento, minha cara de estar " pensando o tempo todo", pudesse ser compreendida sem crises, sem neuras, sem cobranças.
Posso perfeitamente entender o outro e até mesmo " suportar" as diferenças e esquisitices. E mesmo assim sei que posso continuar amando e colocando nele o meu coração, tão velho de guerra e ás vezes tão cansado, magoado, mas que insiste em ter esperanças.

Bom final de semana.

Um comentário:

  1. Ah, Nil... que lindo.
    Adoro seus artigos, um pouco (ou muito) de vc!
    Quando a gente se encontrar pra valer, poderemos dizer que somos amigas de taaantos anos, que nem sei... rs
    Continue assim, linda, plena, verdadeira.
    Grande beijo de Luz

    Telma

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