quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Gently Weeps...




Éramos jovens, bem jovens, quase meninos, mas a senha já estava dada. Éramos rebeldes, polêmicos, questionadores e inconformados.
Acho que pela primeira vez um grupo de adolescentes pensou o mundo ao expressar suas angústias e necessidades. Não se pensava no melhor para nós, só nós, mas para o planeta todo que nos parecia insuportavelmente hipócrita, violento e injusto. Negros, mulheres, vietnamitas e até jovens viviam sob um modelo que não fazia sentido. Pelo menos para nós.
Queríamos o amor, livre, sem vínculos oficiais nem preconceitos, queríamos paz, música, muita música e direitos iguais.Queríamos que nossos pais nos respeitassem se quisessem respeito. Éramos assim, naqueles dias..
E havia uma banda de música, The Beatles, que era tudo que queríamos ouvir e ser.
No início as atenções todas se voltaram para Lennon e Paul.
Um, emblemático, rebelde, ácido e poético. O outro, belo, músico perfeito, delicioso e romantico. Essa dupla criou coisas lindas, canções que são a trilha sonora até das gerações que se seguiram.
E havia a terceira força, sutil, suave, mística que, após o final dos Beatles, pode personificar toda uma busca pelo espiritual, pelo que não morre, que tomou conta de uma parte de nós: George Harrison.
George e sua pesquisa por filosofia oriental e seu posicionamento humanitário, nos fez procurar no mapa onde ficava Bangladesh, para quem organizou em Nova York, seu famoso concerto de 1971, usando seu talento como forma de amenizar as dores e misérias de um povo.( sua iniciativa inspirou e inspira até hoje os concertos organizados em benefício de causas, pessoas e ajuda humaniária)
George, com seus riffs inesquecíveis, melódicos, harmonicos, soube falar aos nossos corações e ali plantar uma semente poderosa, de que somos, todos, filhos do mesmo planeta, que somos, mesmo não querendo,responsáveis por tudo de bom ou ruim que nele acontece. E que a música, eterna e emocionante, não preciso de muitos ou complicados acordes, mas tem que conhecer o caminho da nossa alma.
George completaria hoje dia 25 de fevereiro, 58 anos, mas foi embora em 2001...
Nós? Sua geração? Como ficamos? Mais tristes, mais solitários e com a suave lembrança de um Beatle que acabou sendo mais que um Beatle...
Saudades, George, estou como a guitarra de sua linda canção: " gently weep"...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Maravilhosa resposta do Newton !! Sensacional!

Madame.

É com pesar que recebo a notícia do último suspiro do japonês velhinho. E nem poderia ser de outra maneira.
Made in Hiroshima, sobreviveu aos horrores da bomba, em 1945, migrou para o Brasil assim que a guerra terminou, vagou por aí sem destino, até que foi acolhido pelos Salomatos.
Não foram poucas as vezes, me lembro bem, que vocês tiveram que levá-lo consigo a muitos lugares por não ter com quem deixá-lo. Sequelas da radioatividade da Fat Boy foram se manifestando em sua pele, como o recente esbugalhamento do olho, que, daí por diante, teve que andar com um curativo. Também me lembro da dificuldade de sair de seu sono profundo e, nesses momentos, só o bom tratamento dispensado pelo Fessor Giba Boy conseguiam trazê-lo de volta à vigília, ali mesmo, onde ele dormia por se recusar a ocupar o espaço dos transeuntes na garagem. Sim, Madame, o japonês era bravo, digno e humilde!
Sou testemunha de que, na impossibilidade de lhe pagar um plano de saúde, vocês, por várias vezes desembolsaram o que não tinham para dar a ele um conforto em sua sobrevida e, quando o levavam para passear, jamais fizeram da falta de documentos e da decorrente crise de identidade vivida por ele um óbice para que os acompanhasse. Ainda recentemente, quando o Fessor Giba Boy me levou ao aeroporto (em paulistanês da Leste, ereoporto), quando fui visitar a "prenda minha", fez questão de levar o japonês conosco até Congonhas.
Não acredito ter sido distração do Fessor tê-lo feito chegar tão perto das autoridades da ANAC. Havia entre todos nós um pacto de silêncio depois do envolvimento do japonês no acidente aéreo da Gol, em 2006, do qual ele saiu apenas com uma ligeira escoriação no para-choque traseiro. Sinceramente, não acredito que a culpa pela tragédia deva ser posta em sua conta, mas, depois daquilo, o japonês nunca mais foi o mesmo. Lembro-me que, pouco tempo depois do ocorrido, teve uma crise de depressão e ficou algo em torno de uns sete meses sem por os pés na rua. Mais uma vez, o carinho e a atenção dos Salomatos foi decisivo para que, após o tratamento, pudesse ver de novo a paisagem de Sampa, ainda que com a vista opaca e já sem brilho nos olhos.
Agora, Madame, partilho do sentimento de luto pelo passamento do nosso querido japonês e também da propriedade no recurso à frase de nosso "Guia", que não nos privou de seu brilhantismo e de sua criatividade ao vaticinar que "há males que vêm pra bem". O japonês cumpriu com afinco e ternura sua missão terrena. Que descanse na paz de Buda por toda a eternidade. Também o clã Salomatos merece agora um repouso, depois de tantos anos de intrépida dedicação, que jamais poderá ser equacionada (cifrões, nesse caso, não são uma boa medida). Trágica ironia, mas o tempo, a quem o japonês desafiou com tanto garbo, se encarregará de aliviar o vazio e a perda que seu passamento representou.
Aceitem por favor os meus pêsames e os tradicionais

BEJÃOS pro ceis tudo

do velho Major West(ones)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Males que vêm para bem!!! ( para Newton e Nancy)





Tempos atrás (2003)ao comentar o trágico episódio da explosão do foguete brasileiro na Base de Alcântara-MA (que matou 21 pessoas, a maioria deles de São José dos Campos, vinculadas aos ITA), o nosso guia e presidente, Lula, tascou mais uma de suas brilhantes frases fora de hora:" Há males que vêm para bem"!
Não, não se assustem petistas de plantão, não pretendo nesse blog engrossar o coro de detratores de tão inspirado frasista, bem ao contrário, essa colocação hoje me fez muito sentido e pude recordar, com certo apreço e ironia, o criativo presidente.

Não sei se sabem mas possuimos, ou possuíamos, uma perua Subaru Legacy, um belo e confortável veículo: automático, bancos de veludo, ar condicionado, som de primeira, motor feroz e um bagageiro à prova de Nil com suas tranqueiras. Isso nos idos de 1990 e poucos, quando foi fabricada, pois pegamos a bichinha já com alguns sinais de senilidade.
Nesses anos ela mais viveu nas oficinas mecanicas do que aqui com a gente e calculo que isso já tenha custado aos cofres aqui de casa o valor de um carro bom zero km! Claro que com o senso de humor dos amigos logo inventou que éramos, eu e Gil, duas pessoas muito caridosas, pois cuidávamos de um " japonês velhinho"!
Pois bem, hoje, sol do Senegal, 11 hs da manhã, íamos em direção ao Itaim quando o nosso " japonês" deve ter sofrido seu engasgo final, pois nos deixou ali, parados, no início da Ponte Estaiada, não só a pé, como atrapalhando o tráfego!!!
Não sei como não fomos atropelados sob o sol de rachar o asfalto, pelos veículos que ali entram na maior velocidade, ao tentarmos colocar o triangulo sinalizador! ( crianças, não tentem fazer isso! pelo menos naquele local!)
Empurra aqui, vira ali, desvia de carretas, motos e carros, afinal conseguimos tirar o carro para a lateral da avenida e, confortávelmente instalados ao lado de um terreno baldio ( imundo) e o que restou da favela( medonha), aguardamos o guincho que levou, mais ou menos, 1 hora e meia para aparecer. Apenas como detalhe, todos os documentos do Subaru estão vencidos, irregulares, portanto alie-se ao stress o pavor de chamarmos a atenção de agentes do CET ou DSV que por ali transitam todo o tempo! Aí sim a coisa ficaria feia!
Gil, meu marido, tem pavor de mudanças, tudo que é novo geralmente o incomoda, para terem uma idéia, no período entre o Reveillon e a nossa volta das férias em Juquehy, o Subaru ficou aonde? Na oficina, comendo nossos contados tostões! Ou seja, sempre mantendo a carcaça velha, pois agora o Subaru é praticamente uma carcaça... (os faróis estão presos com fita crepe!! pode?).
Hoje,afinal, chegou o dia e foi porisso que me lembrei do Lula! Tem mesmo males que vêm para bem!
Pelo nervosismo, stress, cansaço de ter que empurrar aquele dinossauro pela avenida, mais o sol e a demora do guincho, Gil finalmente decretou o fim da era Subaru!!
Valeu a pena cada segundo derretendo sob o calor sufocante e poluição, cada susto com carretas a 100 por hora e motoqueiros desviando a 2 metros de mim! Valeu a pena o vestido colar no corpo, a sensação de desmaio e sede e até mesmo a adrenalina, que faz o coração disparar a 200 batimentos por minuto, toda vez que surgia um carrinho do DSV!
Me sinto ótima, feliz, quase em estado de graça. Gil teve a sua Epifania!
O Subaru está aqui, na porta, sem nenhuma chance de voltar ao mecânico e apenas aguarda o destino que lhe cabe: ferro-velho!
Não temos mais carro, aliás faz anos que não tínhamos, mas agora é prá valer!
Não é o máximo??

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ser feliz!





Deus nos dá pessoas e coisas,
para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos...
Essa... a alegria que el
e quer
(João Guimarães Rosa)



Dificil ser feliz com perdas, ausências, solidões e dificuldades.
Não sei se ando me tornando mais pragmática que o normal mas, ao observar e ouvir relatos de desencontros, relacionamentos que andam balançados, amigos meio deprimidos, vejo que existe algo a mais por trás.
Complicado manter a harmonia quando o banco liga ou devolve o cheque, quando o carro quebra num dia de enchente, o filho chora a noite inteira e não deixa ninguém dormir ou aquele ser tão esperado que não vemos faz tempo, volta e mal olha na nossa cara!
Será que condicionamos esse " estar alegre" a outras tantas coisas que na verdade não fazem parte disso?
Um dia de sol, estarmos com relativa saúde (digo relativa pois, depois de certa idade,nem tudo funciona com perfeição), uma música que gostamos tocando na FM, um lindo vaso de flores recém desabrochadas, aquela macarronada fumegante num lindo prato, não bastam para termos a sensação de alegria?
Fico pensando, quais são os mecanismos, cada vez mais sofisticados e cruéis, que andamos criando em busca disso?
Muitas vezes me parece que vamos jogando, cada vez para mais longe, essa meta. Primeiro queremos o grande amor de nossas vidas, quando surge queremos a estabilidade dessa paixão, depois a segurança profissional ou financeiro para vivermos esse grande amor e quando tudo está razoavelmente completo, achamos que não amamos mais essa pessoa!
Será que perdemos a capacidade de viver a felicidade? E vamos sabotando, sabotando, sabotando cada vez que ela, tadinha, surge em nossas vidas?
Já me peguei em culpa, muitas vezez, quando me senti muito, muito feliz! Era assim, estava completamente bem e harmonica e de repente aquele " sabor de veneno": puxa, meu filho não pode estar aqui comigo, minha filha ainda sofre pelo fim do namoro, meu companheiro anda enfrentando problemas sérios, a casa precisa de reparos, e por aí vai. Pronto, a felicidade,envenenada pela culpa, sumia lentamente! Ok, sei que logo virão aquelas conclusões culpando nossa formação judaico-cristã que nos fez associar a alegria com culpa mas, sinceramente, me parece meio tosca, meio pobre essa explicação.
Ok, como disse no início, não é fácil ser feliz diante das dificuldades, mas, convenhamos, não é impossível. Que tal separarmos um pouco as coisas, como se diz, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa!
Acordei hoje completamente predisposta a ter um dia cinzento, cheio de problemas, sérios, a resolver. Meu primeiro movimento foi o de entrar no vale de lágrimas. Foi então que li Guimarães Rosa na frase acima e decidi que não. Não vou estragar meu dia, nem esse dia lindo de sol.
Problemas? Está certo, vou tentar solucionar, mas certamente eles sobreviverão a mim.
Contas? Pago o que der, o resto rola. Os filhos? Que tal crescer e enfrentarem um pouco suas próprias dificuldades?
Vou atrás da minha alegria, escrever, ler, buscar coisas que me agradam os olhos e o ouvidos, lembrar momentos legais e ser feliz.
Em paz com a vida, como disse Roberto Carlos. Chororo? Só na canção, maravilhosa de Gilberto Gil.
Boa semana.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Casamentos...


Casamento anda na moda. Calma, não casamento em si, festas, cerimônias, etc, mas o tema.
A última postagem do blog da Luiza, vale a pena conferir: http://issoemaisumpouco.blogspot.com/, trata disso sob o olhar bem humorado da jovem escritora.
Nesses dias de carnaval pudemos num grupo de amigas ( Dina, Andrea,) falar muito sobre e hoje, coincidência, recebi 2 e-mails com o mesmo assunto.
Não sei bem o que pensar sobre casamento, parece entretanto, que gosto de casar, uma vez que estou na terceira experiência.
No primeiro, com alguma pompa e meio circunstância, com direito a juiz, flores e toalhas combinando com o esilo hippie ds época ( anos 70), fui uma noiva produzida, usei flores nos cabelos, vesti branco salpicado de amarelo, afinal estava grávida e teve até lua de mel com balde de champanhe em suite de hotel em Campos de Jordão. Durou 10 anos e me trouxe 2 filhos.
No segundo não teve nenhuma data ou evento marcante, um dia conversamos sobre morar junto e assim foi. Durou outros 10 anos e me trouxe uma filha.
No terceiro nem conversa houve, fomos casando aos poucos, primeiro morando em apartamentos diferentes no mesmo prédio, depois um só apartamento até que alugamos a casa da Rua Flórida e juntamos tudo: discos, livros e filhos de ambos os lados ( e uma cachorra!). Esse já dura 11 anos.
Quando falo com as amigas ou leio algo sobre casamento páro e penso. O que acho realmente do casamento? Não sei dizer, apenas sei que não é fácil.
Esse negócio de conviver com outro, qualquer outro, é tarefa!
O amor? Basta? Não acho, ou melhor, não só ele. Tem que ter química, ter admiração, ter paciência, afinidade, tem que gostar das mesmas coisas, pois um dia a tal paixão diminui e o que fica mesmo são os itens anteriores.
Tem que saber falar e calar, principalmente calar, o que é diferente de " engolir". Tem que suportar o temperamento, os maus humores, as piadas repetidas, não precisa rir, mas tem que ouvir ou fingir que ouve.
Se gosto do casamento? Sim, gosto bastante. Descobri em mim, já faz tempo, uma característica interessante: produzo e sou mais feliz em grupo. Adoro dividir, trocar, delegar, contar com, compartilhar, tanto no trabalho como na vida pessoal. Adoro fazer parte de. Isso, imagino, já me predispõe a conseguir viver dentro de um casamento.
Preciso dos meus momentos solitários, de amigos que não divido, de passeios e programas independentes, mas também preciso do colo, da presença, das chatices, de alguém ao meu lado na cama.
Repito, não é fácil, mas o que é nessa vida?
Temos aqui em casa um casamento feito de altos e baixos, com muitas brigas, discussões, polêmicas, estranhamentos, mas, incrível, somos vistos como uma instituição sólida por todos que aqui convivem.
Fácil não é, gente, mas é sempre muito, muito divertido!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Estilo! Você tem???



a-maneira de exprimir-se, utilizando palavras, expressões, jargões, construções sintáticas que identificam e caracterizam o feitio de determinados grupos, classes ou profissões

b- conjunto de tendências, gostos, modos de comportamento característicos de um indivíduo ou grupo

c-modo pessoal, singular de realizar ou executar algo (falando-se de figuras importantes no âmbito do esporte, do cinema, da dança etc.)
(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
)

De verdade encontrei no Houaiss 15 diferentes significados para o substantivo "estilo"!
É que tenho pensado nessa palavra que anda tão " na moda" e que ouço e leio à exaustão em conversas, artigos, matérias de Tvs, jornais e revistas...
Parece que virou quase mania ( ou falta de vocabulário mesmo), falar em " estilo" e mais engraçado, deram para mudar o nome de antigas profissões acrescentando variações até em outra língua! Quer ver? Seu cabeleireiro, sim, aquele mesmo de tantos anos virou " hair stylist" ( estilista de cabelos)! A vendedora de loja virou " personal stylist" para te atender em suas escolhas. Sem contar que nessa onda surge no mercado de trabalho uma nova profissão: as " estilistas", menininhas recém saidas das faculdades de moda que, aos 20, 21 anos comportam-se como as novas " Chanel" ou, um pouco mais moderno, novas " Karl Lagerfeld"...
Estou meio mal humorada? Sim, com certeza, mas é que o uso indiscriminado da palavra " estilo", torna o que ela representa, pelo menos para mim, quase que um paradoxo.
Conheci, nesses 55 anos, muitas pessoas com verdadeiro estilo, algo sutil, que não se ensina, que não se encontra para comprar e que se detecta a um simples olhar e observação.
Minha mãe, com sua percepção leonina misturando cores, estampas, brincos e acessórios aparentemente diferentes entre si, possuia uma marca quase registrada em seu vestir.
Minha amiga Lia, chic, sóbria em seus blazers bem cortados, criou um jeito próprio: uma clássica com uma pitada de irreverência.
Renato Sprada, lindo, 50 e alguns anos, mantém os mesmos longos cabelos lisos, agora grisalhos, de quando nos conhecemos na década de 70 e é homem para lá de interessante.Charmoso, sempre de preto, ele desperta olhares admirados de muita mulher.
Gil, meu marido, com seu jeito ácido e polêmico, que não abre mão de seus discos de country, quer estejam na moda ou não, é outro.
Poderia citar muitas outras pessoas que, com seu jeito de viver, suas casas, seus objetos, suas escolhas, suas músicas e filmes prediletos mostram " um estilo" inconfundível, um " jeitão" que as torna únicas, quase referências e modelos.
Estilo me parece ser isso.
Ser quem você é, sem modismos, sem concessões a mudanças que não te dizem respeito, sem consumismo tolo, sem perder a noção de que, mesmo correndo o risco de se parecer " fora de moda", se manda um recado, único e pessoal.
Caetano, Chico, Almodóvar, Fellini, Henry Miller, Chanel, Lauren Bacall, Marlon Brando, Paul Newmann, Al Pacino são pessoas com estilo, inteligentes, instigantes, gostemos ou não delas.
Encerro esse blog com uma frase, achei bem legal, que certamente pode ajudar no entendimento dessa palavrinha " estilo", tão maltratada nos últimos tempos:

O estilo nem por sombra corresponde a um simples culto da forma, mas, muito longe disso, a uma particular concepção da arte e, mais em geral, a uma particular concepção da vida.
(Léon Tolstoi
)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Perdão também cansa...


É que os momentos felizes tinham deixado raízes no seu penar, depois perdeu a esperança, pois o perdão também cansa de perdoar ( Toquinho/Vinícius- Regra 3).


Está aí um ponto crucial. O momento, nem antes, nem depois, que o perdão cansa...
Sintomas hão de ter, ou ter tido mas, a palavra, que não poderia ter sido articulada, o olhar que não veio, ou se veio, veio carregado de distancias e desinteresse,o silêncio que durou segundos a mais, ou seja, a ùltima gota, isso é impossível se prever. Mesmo porque outros fatores, externos ou internos, podem interferir.
Vamos ver, a coisa já não anda boa mas, usando a frase do poeta " os momentos felizes tinham deixado raízes", ainda não de todo degringolada, eis que, numa conversa informal, com amigos de sempre, sem grandes compromissos, uma crítica, ácida, feroz, em geral apontando um ponto fraco do outro, transforma o tal momento bobo no último ato de uma ópera. Não tem volta, pois, de novo, como disse o poeta, o " perdão também cansa de perdoar"...
Não dá prá saber, nem da parte de quem vai atirar a pedra fatal e nem do alvo da pedrada.
Em geral, e pude perceber isso olhando para trás ou revendo meus " finais de caso, casamentos, etc, etc", o motivo final é insignificante, tolo mesmo, diante da enormidade que vinha sendo acumulada, em mágoas, ressentimentos, solidão e desamor, que permeava essas relações terminais meses e meses antes desse desfecho patético.
Os amigos ficam com cara de paisagem, sem entender nada e em geral criticam bastante aquele que deu o basta, o chega, por conta do que, sem saber, consideram uma besteira, uma bobagem!
O que quero dizer? Que não temos uma medida, ou melhor, um " medidor" confiável, que nos sinalize que estamos para entrar em rota de colisão! Que o próximo movimento, brusco ou não, se vier, vai detonar, de maneira impiedosa, um relacionamento aparentemente duradouro e feliz ( para os outros, lógico!).
Podemos passar anos e anos suportando tudo, traições, mentiras, frieza, desprezo, distanciamentos, desilusões varidas, mas um dia não suportamos que o outro nos diga que, por exemplo, não suporta mais Caetano Veloso. Pronto! A casa cai!
Foi culpa de Caetano, mesmo sendo ele próprio um artista polêmico e instigante? Com certeza não, mas por baixo dessa reação, aparentemente tão desproporcional deve haver um enorme "iceberg" de insatifações e, sorry, saco cheio!
Complicado viver à dois. Complicado saber até onde se pode ou não pode ir.
Acho que, no final das contas, tudo é questão de amor e desamor.
Como disse São Paulo em sua famosa Epístola aos Coríntios, " o amor tudo crê, tudo espera, tudo suporta".
Se acabar, acabou-se o que era doce.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Coisas de Juquehy 4- O Pássaro Chinês



Não,não imaginem nenhuma ave rara, multicolorida ,saída de algum conto chinês e que possua algum poder sobre um imperador ou suas concubinas.Não, nada disso.
É muito mais divertido e certamente sintomática essa historinha de um dos dias de verão em Juquehy.
Já é fato, relatado em prosa e verso e até na literatura de cordel, a magia e poder de transformação exercida pelos netos na vida dos avós.
Meu avô, o velho Bento, era temido e exercia verdadeiro terror em seus 11 filhos, quando esbravejava com sua voz de trovão! Foi o melhor e mais complacente dos avôs, chegando ao cúmulo, para quem o conhecia como pai feroz e intolerante, de achar graça e sinal de inteligência quando eu,sua neta, aos 4 anos, o chamei de " velho puto" ( ele ficou encantado ao ver que eu havia usado a "concordância" correta entre o substantivo " velho" e o adjetivo " puto", segundo ele sinal de um intelecto privilegiado!). Meu pai, que sempre amou os silêncios e a paz e reclamava de minha intempestividade ao me movimentar sem parar, adorava a gritaria e agitação dos meus filhos, gêmeos de doer no quesito comportamento ( eram tão arteiros e barulhentos que foram apelidados de " Metralhinhas" por um tio exausto)
Pois então, coisa parecida foi o que sucedeu nas areias da praia desse verão.
Estou voltando do mar, ainda com a visão meio conturbada pela água e sol no rosto, quando veja que nosso guarda-sol tem a companhia de um desses vendedores ambulantes que zanzam negociando suas tranqueiras. As amigas, ao me verem chegar, caem na risada e apontam o objeto que estava sendo negociado, com atenção e muita seriedade, por meu marido, melhor, pelo avô da Sofia.
Um pássaro MEDONHO, de plástico, aliás são 2 pássaros, de plástico em tons berrantes de amarelo e vermelho, pousados num poleiro preso numa base mais medonha ainda e que, acionado um botão de liga-desliga, começam a assobiar, trinar e, pior, abrir os bicos, sacudir as caudas e girar as cabeças! O treco é tão feio, tão brega que chega a ser kitsch!
As pessoas dos guarda-sóis vizinhos não continham o olhar de ironia e riso, pois os tais passarinhos, coisa de chinês, tranqueira da 25 de março, eram muito, muito cafonas!
As duas amigas, conhecedoras dos meus enjoamentos com coisas de decoração, quase caiam das cadeiras de tanto rir e o melhor da cena era o encantamento do Gil, meu marido, diante dos prodígios musicais executados pelos bichos!
Perguntei a ele se realmente pretendia adquirir aquele pavor, já imaginando com terror onde seria colocada ( por mim no fundo de um armário até ele esquecer e depois prá lata de lixo!) tal aberração e insulto ao bom gosto.
Bem sério ele me responde, vai ficar no nosso salão, é para Sofia, nossa neta vai amar!
Acabou o meu argumento, ok, Gil, você venceu! Melhor, Sofia, a neta de 2 anos, venceu!
Escrevo esse blog e tenho em meu campo de visão o medonho objeto, ali, numa mesinha antiga, linda, de mármore, que era de minha mãe. Sofia ainda não o viu, mas estamos ansiosos para ver a sua reação diante dele! Certamente ela vai enlouquecer e encantada vai acompanhar, com sua carinha alegre e cheia de graça, a canção assobiada pelos bichinhos!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Coisas de Juquehy 3- O menino e as pulseiras






Mesmo lá, faixa do litoral sem grande urbanização ou apelo comercial, acontece um grande mercado persa nas areias.
Desde o primeiro dia vi o menino, negro, magro, sério, caminhando pelos 3km da enseada de Juquehy, sob o sol atordoante, carregando o seu " display" com pulseiras feitas de fio de sisal e contas. Uma coisa mais que batida nas praias do Brasil inteiro. O produto já não era bom e o garoto concorria, sem nenhuma chance, com outros vendedores em suas quase lojas ambulantes. Essas, cheias de cangas coloridas, biquinis, chapéus, acessórios ultra modernos que, cúmulo do bom marketing de vendas, eram bem expostos, cheios de charme, ainda contavam com espelhos(!) para que o distinto público comprador pudesse melhor avaliar suas aquisições.
Era angustiante acompanhar o menino, em suas idas e vindas, sem conseguir atrair nennhuma atenção para suas humildes pulseirinhas. Meu olhar parecia hipnotizado por ele e cada vez que o via surgir no meu campo de visão era como se o sol ou mesmo o verão inteiro se apagasse e apenas o escuro e o frio cortassem a areia.
E foi assim no primeiro, segundo, terceiro dia.
Até que não aguentei: chamei o garoto qe rapidamente se aproximou do guarda-sol colorido, e perguntei: quanto custa? Ele me disse, 1 é 3 reais, 2 por 5. Com muita atenção perdi alguns minutos escolhendo a pulseira, uma que tinha uma semente de côco como adorno. Ele, sem nenhum sorriso, separou a escolhida e me entregou. A amiga que dividia comigo a mesma sombra disse: vou ficar com outra. Dei os 5 reais ao menino que agradecendo, sério, retomou sua andança pela areia quente.
Fiquei pensando que certamente um garoto de 9,10 anos preferiria mil vezes estar junto a outros meninos de sua idade correndo atrás de bolas, mergulhando nas águas limpas e azuis do mar da paisagem, mas, por obrigação, necessidade e crueldade do destino vendia pulseiras que ninguém queria...
Amarrei a minha pulseira no pulso esquerdo, o lado do coração.
Aqui está ela até hoje, me trazendo a lembrança dos meus dias de verão e de um olhar, triste, melancólico de menino negro e magro que anda pelas areias de Juquehy que tem o estranho poder de escurecer o sol.


( para Bianca, que também usa a outra pulseira)