segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ser feliz!





Deus nos dá pessoas e coisas,
para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos...
Essa... a alegria que el
e quer
(João Guimarães Rosa)



Dificil ser feliz com perdas, ausências, solidões e dificuldades.
Não sei se ando me tornando mais pragmática que o normal mas, ao observar e ouvir relatos de desencontros, relacionamentos que andam balançados, amigos meio deprimidos, vejo que existe algo a mais por trás.
Complicado manter a harmonia quando o banco liga ou devolve o cheque, quando o carro quebra num dia de enchente, o filho chora a noite inteira e não deixa ninguém dormir ou aquele ser tão esperado que não vemos faz tempo, volta e mal olha na nossa cara!
Será que condicionamos esse " estar alegre" a outras tantas coisas que na verdade não fazem parte disso?
Um dia de sol, estarmos com relativa saúde (digo relativa pois, depois de certa idade,nem tudo funciona com perfeição), uma música que gostamos tocando na FM, um lindo vaso de flores recém desabrochadas, aquela macarronada fumegante num lindo prato, não bastam para termos a sensação de alegria?
Fico pensando, quais são os mecanismos, cada vez mais sofisticados e cruéis, que andamos criando em busca disso?
Muitas vezes me parece que vamos jogando, cada vez para mais longe, essa meta. Primeiro queremos o grande amor de nossas vidas, quando surge queremos a estabilidade dessa paixão, depois a segurança profissional ou financeiro para vivermos esse grande amor e quando tudo está razoavelmente completo, achamos que não amamos mais essa pessoa!
Será que perdemos a capacidade de viver a felicidade? E vamos sabotando, sabotando, sabotando cada vez que ela, tadinha, surge em nossas vidas?
Já me peguei em culpa, muitas vezez, quando me senti muito, muito feliz! Era assim, estava completamente bem e harmonica e de repente aquele " sabor de veneno": puxa, meu filho não pode estar aqui comigo, minha filha ainda sofre pelo fim do namoro, meu companheiro anda enfrentando problemas sérios, a casa precisa de reparos, e por aí vai. Pronto, a felicidade,envenenada pela culpa, sumia lentamente! Ok, sei que logo virão aquelas conclusões culpando nossa formação judaico-cristã que nos fez associar a alegria com culpa mas, sinceramente, me parece meio tosca, meio pobre essa explicação.
Ok, como disse no início, não é fácil ser feliz diante das dificuldades, mas, convenhamos, não é impossível. Que tal separarmos um pouco as coisas, como se diz, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa!
Acordei hoje completamente predisposta a ter um dia cinzento, cheio de problemas, sérios, a resolver. Meu primeiro movimento foi o de entrar no vale de lágrimas. Foi então que li Guimarães Rosa na frase acima e decidi que não. Não vou estragar meu dia, nem esse dia lindo de sol.
Problemas? Está certo, vou tentar solucionar, mas certamente eles sobreviverão a mim.
Contas? Pago o que der, o resto rola. Os filhos? Que tal crescer e enfrentarem um pouco suas próprias dificuldades?
Vou atrás da minha alegria, escrever, ler, buscar coisas que me agradam os olhos e o ouvidos, lembrar momentos legais e ser feliz.
Em paz com a vida, como disse Roberto Carlos. Chororo? Só na canção, maravilhosa de Gilberto Gil.
Boa semana.

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