segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Coisas de Juquehy 3- O menino e as pulseiras






Mesmo lá, faixa do litoral sem grande urbanização ou apelo comercial, acontece um grande mercado persa nas areias.
Desde o primeiro dia vi o menino, negro, magro, sério, caminhando pelos 3km da enseada de Juquehy, sob o sol atordoante, carregando o seu " display" com pulseiras feitas de fio de sisal e contas. Uma coisa mais que batida nas praias do Brasil inteiro. O produto já não era bom e o garoto concorria, sem nenhuma chance, com outros vendedores em suas quase lojas ambulantes. Essas, cheias de cangas coloridas, biquinis, chapéus, acessórios ultra modernos que, cúmulo do bom marketing de vendas, eram bem expostos, cheios de charme, ainda contavam com espelhos(!) para que o distinto público comprador pudesse melhor avaliar suas aquisições.
Era angustiante acompanhar o menino, em suas idas e vindas, sem conseguir atrair nennhuma atenção para suas humildes pulseirinhas. Meu olhar parecia hipnotizado por ele e cada vez que o via surgir no meu campo de visão era como se o sol ou mesmo o verão inteiro se apagasse e apenas o escuro e o frio cortassem a areia.
E foi assim no primeiro, segundo, terceiro dia.
Até que não aguentei: chamei o garoto qe rapidamente se aproximou do guarda-sol colorido, e perguntei: quanto custa? Ele me disse, 1 é 3 reais, 2 por 5. Com muita atenção perdi alguns minutos escolhendo a pulseira, uma que tinha uma semente de côco como adorno. Ele, sem nenhum sorriso, separou a escolhida e me entregou. A amiga que dividia comigo a mesma sombra disse: vou ficar com outra. Dei os 5 reais ao menino que agradecendo, sério, retomou sua andança pela areia quente.
Fiquei pensando que certamente um garoto de 9,10 anos preferiria mil vezes estar junto a outros meninos de sua idade correndo atrás de bolas, mergulhando nas águas limpas e azuis do mar da paisagem, mas, por obrigação, necessidade e crueldade do destino vendia pulseiras que ninguém queria...
Amarrei a minha pulseira no pulso esquerdo, o lado do coração.
Aqui está ela até hoje, me trazendo a lembrança dos meus dias de verão e de um olhar, triste, melancólico de menino negro e magro que anda pelas areias de Juquehy que tem o estranho poder de escurecer o sol.


( para Bianca, que também usa a outra pulseira)

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