quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Coisas de Juquehy 4- O Pássaro Chinês



Não,não imaginem nenhuma ave rara, multicolorida ,saída de algum conto chinês e que possua algum poder sobre um imperador ou suas concubinas.Não, nada disso.
É muito mais divertido e certamente sintomática essa historinha de um dos dias de verão em Juquehy.
Já é fato, relatado em prosa e verso e até na literatura de cordel, a magia e poder de transformação exercida pelos netos na vida dos avós.
Meu avô, o velho Bento, era temido e exercia verdadeiro terror em seus 11 filhos, quando esbravejava com sua voz de trovão! Foi o melhor e mais complacente dos avôs, chegando ao cúmulo, para quem o conhecia como pai feroz e intolerante, de achar graça e sinal de inteligência quando eu,sua neta, aos 4 anos, o chamei de " velho puto" ( ele ficou encantado ao ver que eu havia usado a "concordância" correta entre o substantivo " velho" e o adjetivo " puto", segundo ele sinal de um intelecto privilegiado!). Meu pai, que sempre amou os silêncios e a paz e reclamava de minha intempestividade ao me movimentar sem parar, adorava a gritaria e agitação dos meus filhos, gêmeos de doer no quesito comportamento ( eram tão arteiros e barulhentos que foram apelidados de " Metralhinhas" por um tio exausto)
Pois então, coisa parecida foi o que sucedeu nas areias da praia desse verão.
Estou voltando do mar, ainda com a visão meio conturbada pela água e sol no rosto, quando veja que nosso guarda-sol tem a companhia de um desses vendedores ambulantes que zanzam negociando suas tranqueiras. As amigas, ao me verem chegar, caem na risada e apontam o objeto que estava sendo negociado, com atenção e muita seriedade, por meu marido, melhor, pelo avô da Sofia.
Um pássaro MEDONHO, de plástico, aliás são 2 pássaros, de plástico em tons berrantes de amarelo e vermelho, pousados num poleiro preso numa base mais medonha ainda e que, acionado um botão de liga-desliga, começam a assobiar, trinar e, pior, abrir os bicos, sacudir as caudas e girar as cabeças! O treco é tão feio, tão brega que chega a ser kitsch!
As pessoas dos guarda-sóis vizinhos não continham o olhar de ironia e riso, pois os tais passarinhos, coisa de chinês, tranqueira da 25 de março, eram muito, muito cafonas!
As duas amigas, conhecedoras dos meus enjoamentos com coisas de decoração, quase caiam das cadeiras de tanto rir e o melhor da cena era o encantamento do Gil, meu marido, diante dos prodígios musicais executados pelos bichos!
Perguntei a ele se realmente pretendia adquirir aquele pavor, já imaginando com terror onde seria colocada ( por mim no fundo de um armário até ele esquecer e depois prá lata de lixo!) tal aberração e insulto ao bom gosto.
Bem sério ele me responde, vai ficar no nosso salão, é para Sofia, nossa neta vai amar!
Acabou o meu argumento, ok, Gil, você venceu! Melhor, Sofia, a neta de 2 anos, venceu!
Escrevo esse blog e tenho em meu campo de visão o medonho objeto, ali, numa mesinha antiga, linda, de mármore, que era de minha mãe. Sofia ainda não o viu, mas estamos ansiosos para ver a sua reação diante dele! Certamente ela vai enlouquecer e encantada vai acompanhar, com sua carinha alegre e cheia de graça, a canção assobiada pelos bichinhos!

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