quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Não há mal que sempre dure...






Não há mal que sempre dure, dizia minha mãe.
Coisa incrível, poderia ser a maior das crises e lá vinha ela com esse ditado. Não há mal que sempre dure.
Espero mesmo. Aliás essa frase está sendo mais importante que toda a filosofia, dos pré-socráticos até os dias de hoje, em minha vida.
A vida é interessante, muitas fases vão e vem, dias de tempos amenos e tranquilos alternando com os de enormes tempestades...
Nunca me preocupo muito em filosofar durante o tempo bom. Vivo, aproveito e estou bem, mas sempre penso, isso sim, que ao contrário de quando mais jovem, sou feliz e estou sabendo. Mas não filosofo, não fico buscando explicações, fórmulas e entendimento para momentos agradáveis.
Já quando começa o terremoto, toco a maquinar, a colocar o cérebro em alerta, para buscar um por que, e quase nunca tem, para tanta desarmonia e confusão...
Os filósofos não me respondem. A fé, cega e irracional, me sustenta, mas sem respostas racionais.
Cada dia é novo desafio, passar da manhã à tarde, depois a noite e as madrugadas insones razoavelmente ilesa é uma tarefa enorme, titânica, me segurando aqui e ali, lendo algo que me encante quando consigo , recebendo um recado afetuoso ou um olhar amigo. Tudo isso faz a diferença. Parece um tão pouco e é tanto, pois consegue me manter viva.
Acabei de crer que não tenho vocação para depressão, no máximo uma melancolia, leve, delicada, mas deprê mesmo tive uma vez, anos a anos atrás e tratei de espantar bem rápido ( deve ter durado umas 2 semanas).
Mas confesso, tenho, nessas horas de tempestade, uma enorme vontade de não sair da cama, de ficar o dia todo em silêncio, em não ver ninguém. Só que não consigo, dura pouco essa pensamento e quando vejo já estou blogando, postando, entrando e saindo, correndo atrás de soluções.
E nesse corre-corre lembro da angular frase de minha mãe, não há mal que sempre dure.
E assim trato de escovar os cabelos, tascar um perfume e correr atrás da vida, das decisões, das pessoas e das coisas.
Estranho isso, certa teimosia, certa obstinação em estar viva e fazer parte de tudo.
Hoje mesmo, sem dormir mais que 2hs, dramas familiares acontecendo, medos, incertezas, pendências, contas e sei lá mais o que, o dia prometia ser uma bomba...Não, negativo, tratei de arrumar a casa e cara, pois tenho amigos para jantar.
Vou cozinhar, ajeitar, temperar e ouvir outras histórias que não são as minhas.
E assim vou, acreditando em minha sábia mãe, que tinha certeza de que nada é para sempre.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mãe possível




O possível em geral passa longe do ideal.
Fiz o que foi possível, não o ideal.
Ideal seria se tivesse podido dar a vocês pai e mãe, juntos, para sempre. Não foi assim, eu e seu pai tivemos um lindo casamento, por lindos anos, mas acabou. E optamos por não viver de aparências, por manter o respeito que sempre tivemos um com outro. Mas por outro lado demos a vocês muitas famílias, biodiversas, mas famílias.
Ideal teria sido não ter que sair para trabalhar e ficar com vocês e assar bolos, ir ao Ibirapuera todas as tardes de sol, andar de bici e ir às aulas de judô. Mas não deu, tive que trabalhar, 8, 10, 12hs para mantê-los em boas escolas, terem bons médicos e se alimentarem corretamente.
Bom seria de pudessem, anos e anos atrás, terem entendido minhas escolhas, minhas opções e buscas, até mesmo por um novo marido para me ajudar a educá-los. Mas isso também não deu certo mas, trouxe de presente uma pequena irmã. E um dia deu certo, pois trouxe Gil, avô oblíquo de Sofia e Laura, onde me apoio e os apoio. E com ele, mais irmãos.
Ideal teria sido ter os avós, Rosino, Marcella, Dida e Linão, todos vivos, mais Conchinha, Dulce, Buda e tantos outros que, cumpridas suas missões, deixaram, com nossas memórias, amor, afeto e muitos risos...Todos partiram e choramos juntos, não era o ideal.
Ideal seria Eva, Julie e Minnie aqui, para sempre, correndo atrás de nós, nos amando sem condições, fazendo de todas as nossas chegadas em casa, uma festa. Não foi assim...Nossos cães foram embora, deixando o silêncio, a ausência, as saudades, mas a memória de tão lindos dias...

Fui e tenho sido sua mãe possível, Rafael e Dani. Longe, muito longe do ideal.
Os amei desde o primeiro momento que os vi e os amarei para sempre. Mas esse meu amor, talvez não ideal, também é feito de cobranças, de discussões, de mal entendidos e algumas mágoas. Só que é também incondicional, marcado a ferro e fogo pela vida e seus caminhos.
Deixo, desde 36 anos atrás, completos amanhã, para sempre, meu colo e afeto, meu carinho e apoio, minha força e medos, minha esperança e fé, para vocês.
Fui a mãe que pude, cruzei meus limites, recuei em posições e sonhos, não me arrependo jamais.
Vosso legado é meu amor, eterno, sem fim, sem medidas nem freios.
Não foi o ideal, sei disso, foi o possível. E muitas vezes, o impossível.


Para Rafael e Daniel, meus filhos, que nasceram 36 ano atrás, me trazendo, para sempre, a primavera.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ame-ou ou Deixe-o



Sempre falo aqui dos anos 60/70com lindas recordações: Woodstock, Beatles, Stones, Mary Quant, contracultura, hippies, Easy Ryder...
Usávamos flores nos cabelos e sonhávamos com San Francisco...
Em 1970 fomos campeões do mundo, comemoramos cada vitória do time na Rua Augusta, nosso reduto mais que célebre, a cara de festas e jovens dessa cidade. Ali, entre motoqueiros em suas Harleys, moçada, gente alegre, música éramos os melhores do futebol do mundo.
E esse era o clima geral.
Mas toda a fábula que se preze tem bruxas, malfeitores e o mal, senão não é fábula.
E havia o mal, aliás Mal, com letra maiúscula.
Tinha nome, Emilio Garrastazu Médici, general, presidente do Brasil, por obra e graça da
" Redentora" como diria Stanislaw Ponte Preta.
Torturas, perseguições, corrupção, um governo quase absoluto, acima da lei e da ordem, pelo menos aquelas conhecidas e aprovadas. Era a lei do cão.
Nós, jovens, fomos perseguidos por nossas roupas, cabelos e posturas, gente com algum sonho democrático então, era tratada à pau. Literalmente. Foi o tempo do Doi Codi, da Oban e outros aparatos medonhos.
Mas tinham os números: seu partido de apoio, ARENA, em 2 eleições durante o governo desse cavalheiro, conseguiu estrondosas vitórias.
Vamos lá, em 1970, fez 19 senadores contra 3 do então MDB. Em 1972 quase todos os prefeitos e vereadores Brasil afora. Nesse período todas as manifestações populares e reinvindicações de trabalhadores foram proibidas. Em contrapartida o consumo de bens duráveis e automóveis teve um estouro. Todos podiam comprar tudo.
O governo Médici, através de maciça propaganda, passou a associar o patriotismo com o apoio ao regime militar. E slogans foram criados: Ame-o ou Deixe-o, afinal vivíamos o " milagre brasileiro" com a construção da Transamazonica, a rodovia Santarém-Cuiabá, graças ao Plano de Integração Nacional. O país vivia um momento de baixa inflação, consumo fácil e enormes incentivos à produção industrial e agricultura.
Esses dados, incríveis, encobriam a " bunda" ( sorry) descoberta desse governo terrível.
E mesmo assim, com o terror, a oposição massacrado ou amordaçada, as pessoas sendo mortas ou exiladas, os dados de aprovação popular do General Médici bateram quase os 80%. Não, não digam que foram manipulados, pois foram corroborados por orgãos internacionais sérios de direitos humanos, infelizmente.
Pois é. Deu no que deu quando a festa terminou.
Isso tudo me deixa muito triste, pois sinto, cada vez que levanto uma crítica a esse governo que aí está por 2 mandatos, me trazem dados, números, estatísticas e índices de aprovação.
Hoje a imprensa começa a sofrer perseguições, hoje a oposição jaz destruída diante de tanto progresso e estabilidade (?).
Isso sem contar a imensa sorte do nosso guia em poder trocar 7 dos 11 minstros do Supremo, por aposentadoria ou morte, podendo indicar gente de sua confiança...
A Câmara Federal mais se assemelha aos coros de igreja, repetindo o amém e agora, nessas eleições, o último reduto de resistência, o Senado, que inflingiu as poucas derrotas que esse governo sofreuu, CPMF por ex, vai ser diluído e entrar no coro.
A história não se repete, mas esse filme já vimos.
Os pobres poderes desse país se renderam. O povo, idem. De novo. Parece que vamos virar o México da América do Sul.
Temos um país estável, com números esplendidos, com todo mundo carregando seus cartões de crédito ou crediário das casas Bahia, enfim, o paraíso em terra. Pergunto, para quem?
Nós, nisso me incluo, a " zelite", como diz João Ubaldo, que não contamos com Bolsa família, gás, leite, merenda, etc., que pagamos nossos impostos, extorsivos e sem nenhum retorno, que não temos mais dinheiro pra pagar um bom plano médico ou formação academica para filhos e netos e tb não contamos com um sistema de saúde e educação decentes e que ainda ousamos " criticar" o governo do guia, somos chamados de reaças, direitistas, tucanos, inimigos do povo.
Por obra de graça dos números vão eleger a Sra Dilma. Nada contra, é um direito de qualquer cidadão que preencha requisitos mínimos, se candidatar a cargos eletivos nesse país.
Mas a graça é que, justamente uma desconhecida, sem história, ou estórias para contar, saída as alas do PDT e com experiência quase que nenhuma vai ter votação estrondosa. Na verdade pouco importa quem é Dilma, poderia ser a Marisa Letícia, ou algum obscuro funcionário do partido, o resultado seria o mesmo. Quem se elege é a continuidade desses números, é a tranquilidade de alguns setores, beneficiados as custas de outros, em continuar tudo como está.
No andar da carruagem só está faltando o governo mandar imprimir os tais adesivos de novo: Ame-o ou Deixe-o.
Por essas e outras é que vou renovar meu passaporte.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Luiza e o Teto

Luiza minha filha é brava.
Nos dois sentidos: nervosa, meio selvagem e corajosa, intrépida.
Não há nenhum obstáculo capaz de detê-la se resolve fazer alguma coisa.
Esse final de semana juntou-se a outros jovens para um trabalho voluntário numa ONG chamada " Um Teto para Meu País" (http://www.umtetoparameupais.org.br/).

Esse grupo nasceu no Chile, fundado em 1997 por um grupo de jovens sensibilizados com a situação de pobreza e miséria em que viviam milhões de pessoas e traçaram programas de construção de casas emergenciais visando, a partir disso, introduzir planos de reabilitação social. Essa ONG surgiu no Brasil em 2006 em São Paulo e já envolve centenas de jovens e comunidades carentes, tendo já sido entregues mais de 200 casas na região de Guarulhos, Suzano, São Paulo e Itapeva.
Pois assim foi que Luiza saiu daqui na sexta-feira a noite, depois do seu trabalho, em assessoria de imprensa, que lida com clientes potencialmente voltados ao consumo de bens de luxo e despencou, com outros jovens para a divisa de Osasco com SP.
Nessa primeira etapa a meta era entrevistar o maior número de pessoas da comunidade para depois, tabulados e analisados os dados, serem selecionadas as famílias em maior necessidade para receber a casa emergencial de 18mts quadrados. Sim, não está errado, 18mts quadrados, de madeira.
A menina que sai sempre linda, perfumada e cheia de estilo nos seus finais de semana para passeios, baladas e cinema com os amigos transformou-se.
Ontem, na volta desse voluntariado, encontrei uma linda moça melancólica, séria e perplexa depois de 2 dias dentro de uma favela situada à beira das 2 Marginais...
Andou entre a tristeza, a miséria extrema, colocou no colo crianças picadas por insetos e seminuas, ouviu relatos de violência doméstica, desemprego, familias de 8 pessoas vivendo com metade de um salário mínimo, fome, medo e abandono. Entre esgotos, barracos construidos sobre esgotos, andou ao lado de ratos, sujeira e infecção.
E como seu olhar agora amadurecido diante da dor do mundo, Luiza me falou do carinho e generosidade com que foram recebidos, cafés e bolos oferecidos, talvez os únicos das famílias, e dos abraços, dos agradecimentos e da muita esperança de mudança. E nenhum registro de violência ou tensão contra esses jovens caminhando entre os barracos.
Luiza se fez a mesma pergunta que os de bom coração sempre fazem: por quê?
Por quê uma vida tão abaixo da dignidade?
Importante nisso tudo, Luiza, apesar da indignação e horror, decidiu que não adianta só falar, falar, que dá para fazer um trabalho, de formiguinha, para tentar amenizar essa imensa injustiça.
Um pouco de cada um, algumas horas, um pouco de ajuda financeira, divulgação, enfim, tem como ajudar e só querer.
Depois que tomou seu banho quente ( estava muito suja, pois ficaram essas 48hs alojados numa espaço comunitário sem acesso a banho) e jantou, ainda conversamos muito tudo o que ela viu e ouviu.
Ali, naquele instante percebi uma menina que cresceu, que olhou o seu lindo quarto e prato de comida quente com outros olhos. Vi a esperança renascida em outro jovem coração, esperança de um mundo melhor e mais justo.
E como Luiza é brava, sei que vai continuar esse e outros trabalhos e tenho certeza, conseguirá alguns resultados. Coragem e temperamento não lhe faltam.
Fiquei pensando em tudo que escutei, em tudo que conheci e li pela vida e mesmo em momentos tão complicados como o que atravesso, voltei a acreditar que o sonho de mudar, de melhorar, de alterar o planeta e as pessoas é sempre possível, pelo menos enquanto existirem os jovens.

Para Luiza, que redimensiona o que chamo de " problemas".

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Bia menina


Recebi e-mail, sempre uma delícia, da Bia. Bia Puccini.
Menina incrível, ela possui um interessante dom de me mandar recados, carinhos e delicadezas em momentos que me sinto muito, muito fragilizada.
Sabe os versos do poeta Chico: "Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu..", pois então, ando meio assim.
Bia é pessoa rara, ainda mais nos tempos bicudos de hoje. Sensível, perceptiva, com um sorriso desproprocionalmente enorme para seu rosto fino e comprido, mãe do Pedro e mulher do Fernando, outro ser singular, ela está sempre "ligada", olhando e entendendo.
Nos conhecemos faz tempo, ela era quase menina e acho que nos gostamos de cara! Tem quase a mesma idade dos meus filhos e talvez eu sempre a tenha enxergado com o mesmo olhar maternal de carinho.
Nessas coisas da vida, ora de dor, decepção, mágoa e desilusão, ora de prazer, alegria e afeto, sei que criamos um vínculo estreito, mesmo que pouco nos encontremos.
Bia tem uma mágica, a de fazer com que me emocione e saiba que não estou tão só como me sinto.
Leitora atenta, muitas vezes me manda um retorno aos meus pobres textos, e isso me norteia e ajuda.
Bia, esse blog é prá você, menina.
Ontem tava tão triste, com o coração tão machucado e encontrei teu e-mail carinhosíssimo, me chamando pra uma conversa, um café e um olhar.
Não sei como você faz isso, como descobre, mesmo à distância, que to precisando de colo, de afeto, de atenção. É um dom esse seu e sei, aqui no meu cantinho, que devo recebe-lo como presente da vida, do destino, de Deus.
Vamos nos ver, trocar coisas, deixar nossos laços, que são do mais puro cetim, mais estreitos.
beijo enorme

Nil

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Envelhecer...







O tema é velhice...
Protestos virão, principalmente dos amigos que compartilham da mesma geração/idade que a minha. Mas vamos ver, se não somos jovens e estamos mais maduros, certamente estamos mais próximos da " velhice " do que da juventude.
Dizem haver recompensas na velhice, uma certa tranquilidade e sabedoria que, sinceramente, ainda me custa um pouco descobrir. Acho que a gente se acostuma e com olhar de Poliana busca esse melhor que dizem existir.
Não gosto muito, pelo menos ainda, desse meu momento.
Algumas limitações físicas ( da idade e do tipo de vida que andei levando), a pele não tão viçosa, a flacidez, a memória que anda me dando uns tombos, o sono que me pega em horas erradas ( não aguento mais festas madrugada à dentro, mas também não consigo dormir mais do que 5,6 hs), acho isso tudo muito esquisito.
Sei que vou me adaptar, afinal a gente se acostuma com tudo nessa vida, mas sinto enorme nostalgia do meu lindo e elástico corpo, minha mente acuradíssima, meu pique sem fim, da minhas intermináveis esperanças e sonhos. Sinto falta do ruído e movimento que provocava, das paixões, das gargalhadas, de poder pensar num futuro distante.
Agora, uma coisa maravilhosa me aconteceu que só seria possível agora: ser avó.
Tenho 2 netas, Sofia e Laura e mais um(a) a caminho.
Laura, a mais nova, só agora começa a registrar minha presença no mundo. Sofia, entretanto, já é dona do meu coração.
Com ela volta a alegria, a despreocupação da infãncia, a memória dos filhos, hoje adultos e cheios de preocupações.
Voltam as papas, as sopas, os macarrões cabelo de anjo, as maçãs raspadas na colher e os abraços, ternos, desinteressados, o olhar de um afeto tão puro e genuíno que chega a doer...
E quando ela cerca meu pescoço com seus bracinhos, sinto que sou abraçada pela luz, pela transparência de um cristal, por um ser diafáno e intocado pela maldade e tristeza do mundo...
Com ela volto a dançar Xuxa, a brincar de massinha, a colorir ursos, a contar histórias de fadas e bruxas. E quando ela dorme, serena e largada em minha cama, fico olhando espantada e enternecida diante de tanta beleza e inocência.
Fiquei 2 semanas sem ve-la, por essas coisas do destino, fatos complicados, mágoas e coisas mal resolvidas. Fiquei 2 semanas sem Luz. No escuro. Fiquei assim, devolvida à minha velhice, às minhas angústias, sem a benção do meu anjo.
Ontem a reencontrei. E quando me viu e timidamente soltou a mão de sua mãe e veio em minha direção foi como se uma brisa suave soprasse em meu coração tão machucado...
E nesse abraço entendi a beleza dos anos passarem, do tempo ir sempre pra frente e se por acaso me cobrou preço alto, também me deu minhas netas. Me deu Laura e Sofia.
E passei a tarde revezando o colo entre uma e outra.
E entre risos, cuidados e abraços percebi que é maravilhoso envelhecer, principalmente pelo enorme presente que me foi dado, minhas netas. Laura. E Sofia.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pro dia nascer feliz...




Pro dia nascer feliz
Essa é a vida que eu quis
O mundo inteiro acordar e a gente dormir
( Cazuza- Pro Dia Nascer Feliz)

Pro dia nascer feliz tem que ter fotos das netas, anjos e belas, na porta de minha geladeira, assim, logo cedo, sou obrigada a abrir um sorriso descomunal!
Tem que ter um tanto de frio com sol, ser ameno, sem extremos, sem compromissos marcados.
Tem que ter a filha em casa, acordando com o rosto despenteado pelos sonhos recém sonhados. Segura, longe de violência e medo.
Tem que ter café quente na caneca, flores recebidas de presente nos vasos, a arara do Tozzi na parede, o manacá da serra florindo no jardim.
Tem que ter o miado do gato Jimmy, do vizinho , reclamando a tigela de leite e o galo, que canta e não sei onde, e que espanta os sortilégios da noite que terminou.
Tem que saber que quem sai, vai voltar e quem chega, vai chegar de coração aberto, com afeto e com jeito de ajudar.
Tem que encontrar fotos nos e-mails, beijos mandados idem e saudades compartilhadas.
Pro dia nascer feliz, mesmo sem eu ter dormido, tem que ter tudo isso. E mais.
A esperança de que esse dia será melhor que ontem, que o de amanhã virá, que de algum modo vou esquecer as dores e tristezas e farei alguns, poucos, planos.
E nesses humildes planos não estarão poder, dinheiro ou coisa que o valha. Só harmonia, paz e serenidade e quem sabe, alguma outra idéia para esse blog.

Boa semana, que começa hoje, quarta-feira!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Desilusão ...





Desilusão, desilusão
Danço eu, dança você Na dança da solidão
( Paulinho da Viola)

Feliz do homem que não espera nada, pois nunca terá desilusões.

( Alexandre Pope)


Pois é, estou, ou estamos, carecas de saber isso, mas colocar em prática na vida são outros quinhentos...
De alguma maneira estou sempre me batendo com isso. Essas últimas semanas bati o recorde. Ok, talvez meu nivel de expectativa também estivesse mais alto que o normal, mas a verdade é que a coisa ficou feia. O negócio é que, racionalmente tenho muito claro que tudo que faço, penso ou sinto é assunto meu. Se me entrego, ajudo, afago, acolho e me desdobro ninguém tem nada com isso, mesmo que usufrua. O emocional, entretanto, segue sendo o de uma criança tola, quase que o de uma "pedinte" de atenção e reconhecimento. O pior, isso é de doer, não é nem conseguir algum tipo de contrapartida, mas ainda ser acusada de " não fazer, não ajudar", ou ser chata e exigente.
Nos muitos anos de estudo de astrologia, ocultismo, religiões orientais, encontrei a resposta para esse sofrimento, mas não consegui, ainda, me libertar dele.
Aquele telefonema que não veio no dia do meu niver daquela pessoa que gosto tanto, que dei colo em momentos terríveis, que fui amiga, confidente, ombro, muitas vezes deixando para trás muito de mim mesma, foi uma imensa desilução. Como tenho esse temperamento medonho de checar, falar o que sinto, ainda fui atrás, sinalizei e deixei a coisa pior ainda, pois a pessoa sequer registrou a pisada de bola. Ou se registrou pode ter me mandado um recado oblíquo, avisando que temos parâmetros diferentes do que é "gostar de alguém". Duas vezes desilusão.
Aí, noutro momento dessa fatídica semana, surgiram eternas reclamações. Posso falar mil " sim", mas um único " não" desencadeou reações terríveis, de acusação, de críticas ferozes, vindas justamente de pessoas que sabem ou deveriam saber quem eu sou.
É, não fiquei bem com isso. Me segurei em outros tantos afetos, amigos, carinhos e delicadezas para conseguir, se não digerir, pelo menos conviver com essas atitudes e até mesmo escrever aqui.
Me coloco assim, de cara e coração abertos. Sou ainda tola, ainda tenho expectativas, ainda espero afeto e atenção, mas acho que aos poucos posso mudar, ser mais " zen", mais equilibrada no sentido de aprender a me bastar, a me gostar, sem necessidade de "feedbacks" ou reações externas.
É um longo caminho, sei disso, mas o mais difícil, nesse momento, está sendo tentar, sem muito sucesso, esquecer e tirar esse pêso do meu coração, me livrar dessa tristeza e desengano profundos...
Minha mãe, em sua sabedoria, sempre tinha a frase certa para os momentos complicados. Ela diria, com certeza de que " cada um dá o que tem", portanto bobagem ficar " tirando leite das pedras". Isso aí.
Começo meus 56 anos com esse propósito. Mudar meu jeito não vai dar, vou ser sempre assim, pronta para ajudar, só não devo mais esperar que a recíproca seja verdadeira.
Achi que vou sofrer menos e quem sabe assim possa aplicar, de fato, tantos e tão belos ensinamentos que me foram dados um dia.


Encerro com uma frase do queridíssimo Chico Xavier:

A desilusão é a visita da verdade.



Boa semana.







quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Indoor Girl




Ela subiu os degraus da escada quase correndo. Sem receio.
Explico, era muito estabanada, mas o subir e descer dessa escada era feito tantas vezes que ela achava ser capaz de fazê-lo com segurança total, mesmo se estivesse com os olhos vendados e de costas!
Ao chegar ao piso superior viu-se diante de duas, igualmente atraentes, opções.
A esquerda o quarto com uma imensa cama forrada de fofos edredons e travesseiros, a TV e o aparelho de DVD sufocado sob o pêso de inúmeros filmes. Ali a luz do final do dia era filtrada pelas cortinas das 2 imensas janelas que davam para a rua. A luminosidade era boa, delicada e transmutava o lugar num quase ninho dourado.
Ela voltou a cabeça e olhou para a segunda alternativa. A direita o estreito corredor levava a um outro comodo, esse travestido em escritório onde, numa apoio de madeira clara reinava o seu super, mega e moderno computador. Ali também havia luz, mas ao contrário da do outro quarto, essa era quase inexistente, com a cor do começo do escuro, apontando para a chegada da noite.
Ela pensou, por segundos: recostar, como gato preguiçoso, na cama e assistir um filme, ou o computador, para escrever alguma estória no blog?
Ali, parada diante da questão ela sorriu. Como se enganavam com ela!
Certo, adorava festas, receber, cozinhar para um batalhão se fosse o caso, os almoços barulhentos de domingo, tudo isso era muito prazeroso.
Todos a enxergavam como alguém de gostava do movimento.
Ela também pensou assim um dia, antes de assumir, lentamente, quem realmente era.
Buscara trabalhos com o público, lojas feéricas, gente entrando e saindo, telefones tocando, restaurantes, fábricas com máquinas loucas tecendo o dia inteiro...Isso foi um dia.
Aos poucos, com medo da reação alheia, portanto bem aos poucos, foi se afastando de tudo. Do ruído, dos carros, do trânsito, dos shoppings, de muita gente e da frenética cidade.
Ainda recebia, mas em sua casa. Ali criava, inventava festas, mas dentro do seguro círculo delimitado pelas paredes que a acolhiam e preservavam do resto do mundo. Era feliz ali, entre filmes, livros, passos silenciosos no carpete, textos ou olhando os vasos e a rua pela janela.
Difícil explicar isso.
Alguns bem próximos vez em quando perguntavam se estava deprimida, se estava bem. Estava ótima, mas era difícil entenderem.
Lembrou que sempre fora assim, criança solitária passeando pelo imenso jardim de sua infância, entre fadas e duendes que existiam apenas em sua imaginação.
E agora, tantos anos depois, voltava à sua essência.
Ainda amava as pessoas, muito, mas preferia o silêncio. O pensar, o olhar para o mar, o cochilar no meio da tarde, a música de Caetano e Tom no MP3 e Lana Turner na tela.
Era uma " indoor girl", concluiu sorrindo. E era feliz.
Fez aniversário outro dia. Ganhou lindos presentes, o mais significativo foi o do companheiro, que apesar de energético, cheio de vida e que vivia sempre em movimento, aprendera a amar essa estranha criatura. E entendê-la.
Dele ganhou um lindo pijama e dois filmes de DVD.
No pijama, um vermelho coração aplicado com a palavra LOVE. No filme, ah! que delícia! A amada e sempre bela Lana Turner!

Bom final de semana.

Para Gil e sua incrível e maravilhosa percepção, com amor!