quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Indoor Girl




Ela subiu os degraus da escada quase correndo. Sem receio.
Explico, era muito estabanada, mas o subir e descer dessa escada era feito tantas vezes que ela achava ser capaz de fazê-lo com segurança total, mesmo se estivesse com os olhos vendados e de costas!
Ao chegar ao piso superior viu-se diante de duas, igualmente atraentes, opções.
A esquerda o quarto com uma imensa cama forrada de fofos edredons e travesseiros, a TV e o aparelho de DVD sufocado sob o pêso de inúmeros filmes. Ali a luz do final do dia era filtrada pelas cortinas das 2 imensas janelas que davam para a rua. A luminosidade era boa, delicada e transmutava o lugar num quase ninho dourado.
Ela voltou a cabeça e olhou para a segunda alternativa. A direita o estreito corredor levava a um outro comodo, esse travestido em escritório onde, numa apoio de madeira clara reinava o seu super, mega e moderno computador. Ali também havia luz, mas ao contrário da do outro quarto, essa era quase inexistente, com a cor do começo do escuro, apontando para a chegada da noite.
Ela pensou, por segundos: recostar, como gato preguiçoso, na cama e assistir um filme, ou o computador, para escrever alguma estória no blog?
Ali, parada diante da questão ela sorriu. Como se enganavam com ela!
Certo, adorava festas, receber, cozinhar para um batalhão se fosse o caso, os almoços barulhentos de domingo, tudo isso era muito prazeroso.
Todos a enxergavam como alguém de gostava do movimento.
Ela também pensou assim um dia, antes de assumir, lentamente, quem realmente era.
Buscara trabalhos com o público, lojas feéricas, gente entrando e saindo, telefones tocando, restaurantes, fábricas com máquinas loucas tecendo o dia inteiro...Isso foi um dia.
Aos poucos, com medo da reação alheia, portanto bem aos poucos, foi se afastando de tudo. Do ruído, dos carros, do trânsito, dos shoppings, de muita gente e da frenética cidade.
Ainda recebia, mas em sua casa. Ali criava, inventava festas, mas dentro do seguro círculo delimitado pelas paredes que a acolhiam e preservavam do resto do mundo. Era feliz ali, entre filmes, livros, passos silenciosos no carpete, textos ou olhando os vasos e a rua pela janela.
Difícil explicar isso.
Alguns bem próximos vez em quando perguntavam se estava deprimida, se estava bem. Estava ótima, mas era difícil entenderem.
Lembrou que sempre fora assim, criança solitária passeando pelo imenso jardim de sua infância, entre fadas e duendes que existiam apenas em sua imaginação.
E agora, tantos anos depois, voltava à sua essência.
Ainda amava as pessoas, muito, mas preferia o silêncio. O pensar, o olhar para o mar, o cochilar no meio da tarde, a música de Caetano e Tom no MP3 e Lana Turner na tela.
Era uma " indoor girl", concluiu sorrindo. E era feliz.
Fez aniversário outro dia. Ganhou lindos presentes, o mais significativo foi o do companheiro, que apesar de energético, cheio de vida e que vivia sempre em movimento, aprendera a amar essa estranha criatura. E entendê-la.
Dele ganhou um lindo pijama e dois filmes de DVD.
No pijama, um vermelho coração aplicado com a palavra LOVE. No filme, ah! que delícia! A amada e sempre bela Lana Turner!

Bom final de semana.

Para Gil e sua incrível e maravilhosa percepção, com amor!

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