sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Amor





Ele estava impaciente.
As horas passavam e nada dela.
Andando pela casa inteira, ia e voltava até a porta de entrada tentando escutar algum ruído que assinalasse sua chegada.
Certo, sabia que era assim, a moça era meio atrapalhada, sem grandes vínculos com a rotina. Essa característica ou traço de personalidade sempre representou fonte de ansiedade e inquietação para alguém como ele, tão rotineiro, tão apegado a hábitos e manias. Mas a amava, muito, apesar disso...
Desde que a conhecera soube era para sempre e nunca haveria mais ninguém.
Essa mulher representava tudo de bom e lindo em sua vida...
Sua voz, quente e rouca, as mãos delicadas que tinham tantos gestos de carinho, seu cheiro, adocicado, que lembrava braçadas de frésias e lírios, tudo o encantava.
Até mesmo suas pequenas traições, pois ela era dada a paixões repentinas e nesses momentos ele discretamente se afastava, pois sabia que tal estado não era para sempre. Não demorava muito e ele a tinha de volta, magoada, triste e chorosa e encontrava em seu amor incondicional o consolo e a felicidade.
Hoje, entretanto, ela estava demorando. Uma angústia imensa o acometeu, e se algo tivesse acontecido? E se tivesse se acidentado? E se tivesse fugido com o namorado do momento, aquele desconhecido que tomava horas de seu tempo ao telefone?E se? E se?
Sua apreensão aumentava a cada nova conjectura, mal podia respirar e em vão tentou se convencer que poderia passar muito bem sem ela. Afinal das contas todos tem sua vida e não tinha sentido viver apenas para um outro ser. Esse pensar, entretanto, não o consolava. Sabia-se refém desse amor e não haveria, sem ela, motivo algum para estar vivo.
Ainda preso nesse estado de desespero ele ouviu o barulho das chaves na porta. Com o coração aos saltos correu e parou, ao ver a imagem tão querida que, cheia de sacolas, bolsa, guarda-chuva, agendas, entrou sala adentro tornando, nesse segundo, todo o aposento iluminado.
Ela sorriu ao vê-lo, ali, parado e com imenso carinho e palavras de amor e de desculpas pelo atraso, o pegou no colo.
Ao sentir o carinho de suas mãos em seu pêlo longo e macio e sentir os sussurros e beijos, ele, com seus imensos olhos de gato, olhou para o rosto da mulher e soube, naquele exato instante, o que era a felicidade.

Um comentário:

  1. aaaahhh que lindo!!!!
    Gato é tudo de bom e vc o descreveu tão lindamente.
    Amei!!!!!

    bjs mil
    Telma

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