quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Moda reflete ou reflexões sobre moda.









Pode parecer bobagem, mas não é.
Moda, além de criar e manter uma enorme indústria desde o fio ao produto final, tem a função de " adornar" um tempo, um momento histórico e mesmo um estado de espírito.
Claro que, com todo o " glitter", frufrus, muita frescura e aparente superficialidade fica meio difícil enxergar sua relevância.
Senão vejamos, para se chegar a alguma peça, da C&A ao mais elaborado traje de "haute couture", existe um exército enorme de pessoas, de profissionais: desde o pequeno produtor de algodão na Índia, tinturista, estilista até a senhorinha que prega os botões e passa a roupa antes de colocá-la num cabide é gente que não acaba mais...Moda movimenta dinheiro, criação e muita vaidade..rs.
Porque pensei nesse tema? Muito simples, fui arrumar meu armário dia desses.
E descobri, tirando as roupas do lugar, que mais que me enfeitar ali estava um retrato sutil de quem fui e sou.
As batas indianas de puro algodão (as da Ventura são o máximo!), as saias de retalhos com mil pedacinhos de veludo estampado e os coloridos colares de âmbar e contas são da Nil da década de 70! Nesses dias eu usava maquilagem pesada, olhos negros, cheirava à patchouli e ouvia Hendrix no último volume...Lembro que em 1970 estava em Londres e comprei sapatos de boneca de salto alto, roxos, pinks e azuis royal! Um escândalo!
Depois encontrei com estampas florais, meio inglesas, meus vestidos camponesas, do tempo que criava meus meninos...Passava tardes no Ibirapuera e cheirava à jasmim...Ouvia Carole King e Tom Jobim...
Encontrei então, entre os cabides, o que chamo dos " anos negros"..Não, não imaginem coisas bizarras ou trágicas, mas foram anos de roupa preta, meio existencialista, muitas transparências ao meio-dia..rs..rendas, camisas alvíssimas de babados para deixar o visual ainda mais dramático e o perfume era Opium, aliás isso mantenho até hoje! Tempos de Coltrane, de bares mal iluminados, de B52´s...
Encontrei os saltos altíssimos que usava para trabalhar ( com moda, lógico) e me espanto em pensar como conseguia usar aquilo, 10, 12hs ao dia sem me estabacar no chão!
Aí vieram os anos jeans, bags, semibags horrendos, depois os lavados, os super lavados, os skinnies que me deixavam mais esquelética que sou e até chegar aos normais, bom e velho jeans, que amo até hoje. E uso e usarei pra sempre!
Sapatos altos, coloridos, Chanéis, rasteirinhas, Keds, Havaianas, botas de moicano, de montaria e chinelos de estampa de onça, com strass. Tá tudo lá, retratando a trajetória visual que refletia e reflete quem fui naquele exato momento.
É, moda é coisa séria. Acompanha o tempo externo e interno.
Hoje, nesse momento, aos 56 anos, com netas e não tão ativa, penso muito em quem sou.
Tenho dúvidas.
Adoro a sobriedade dos tons cinzas, os casaquinhos de tricô bem de velhinha, os colares de pérolas, o jeans na cintura, sem abusos de nenhuma espécie, os sapatos sem salto. Mas igualmente acordo, às vezes, querendo ser Viva Maria ( filme de Malle, com Bardot) e coloco minhas camisas de renda de ombros caídos, com saias rodadas e sapatilhas de lona amarradas nos tornozelos. Outra hora me encanta um paletó quase masculino, azul marinho por cima da Hering branca. Ou os echarpes de tigre, zebra, onça, os lenços palestinos e muito dourado nos pés!
E cada vez que me visto penso na enormidade de símbolos que estou colocando, de uma ou outra era, para sinalizar o que sou naquele instante.
Não consegui definir estilo fechado, nunca conseguirei, sei disso.
Uso tudo, evidente que ajustado às limitações impostas pela passagem dos anos: tangas, biquínis, barrigas de fora e mini saias nem pensar, já usei isso tudo, com charme e graça, mas passou!
Mas ainda uso a moda como forma de expressão, de mensagem, divertida e emblemática e me permito brincar com tudo isso, ora de forma engraçada, ora transpirando seriedade.
Tenho uma filha, Luiza, que tem estilo definido e isso me encanta, acho que nasceu sabendo quem é, suas roupas são a cara dela e posso identificá-la em cada escolha.
Ela, que acompanhou de perto todos os meus anos trabalhando nessa indústria, escreveu outro dia, no seu blog, sobre o tema. Com acerto e bom senso. Não é uma " vítima da moda", mas um ser consciente, ligado e que entendeu que atrás disso tudo está sempre uma pessoa, um ser em busca de identidade e que merece respeito e informação.


Fig 1- Estilo Hippie
Fig 2- Clássico dos clássicos: Escarpin Chanel
Fig 3-Eterno masculino de Yves Saint Laurent
Fig 4- Vestido Emilio Pucci



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