quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Bolo


Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão.. ( Milton Nascimento- Bola de Meia, Bola de Gude)

E tem momentos assim difíceis, onde a esperança parece ter sumido ou voado pela janela.
E fico com um frio insuportável, o corpo dói, a cabeça explode e o coração aperta.
Não consigo ver saída, portas se fecham com estrondo.
Mesmo sob as cobertas quentes, ainda faz frio.
E acho, com sinceridade, que não vou resistir.

E então a mágica acontece!
Jogo as cobertas para longe de mim, desço as escadas e saio para o sol que brilha, mesmo nessa fria tarde de agosto...
E reencontro, bem devagar, como o calor tímido do sol, a vontade de tudo.
Em minha cozinha tudo cria vida!
Minhas panelas brilham, acenam, a colher de pau gira, com elegância, dentro do pote onde dorme e ouço sons, engraçados, saindo dos livros de receita.
E no começo, com vagar e paciência, primeiro quebrando ovos, depois, velocidade aumentada, picando frutas, molho as mãos nos sucos dos limões e espalho farinha leve e impalpável pela chão...
Agora o ritmo é frenético, tudo se move junto comigo, o fogo, azul e vermelho, enfeita o forno, a tigela desliza para dentro dele. E rio da bagunça, da sujeira, das cascas espalhadas pela pia e das marcas dos meus pés feitas pela farinha no piso.
E é festa, logo o cheiro se espalha, toma tudo, enche de perfume quente, quando ao mesmo tempo a água fervente cai sobre o pó de café e mistura todos os aromas, mil aromas, bons, de casa, de infância, de ser feliz...
E assim, de pijamas, sem pentear os cabelos, corto o bolo recém assado, enfeito de açúcar e debruço meu nariz na xícara de café forte.
E estou sorrindo de novo...
E sou menina de novo, sentindo o gosto bom da manteiga e leite e ovos e tudo, derretendo em minha boca.
E penso, ah..a vida é boa, tão boa...E tão simples...como um pedaço de bolo com café num dia de inverno...

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