terça-feira, 28 de julho de 2009

Anjos


Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.
(A Hora da Estrela-Clarice Lispector)



Acreditava em anjos, em fadas e em espíritos perfumados, aqueles que deixam suave aroma de rosas e jasmins no ar...
E por acreditar, acabou descobrindo um anjo, bem disfarçado, em sua vida.
Ela, o anjo, era bela, imponente, parecia mais uma estrela de cinema, mas era um anjo.
De suas belas, e sempre enfeitadas por anéis, mãos nasciam caldos fumegantes que confortavam nos dias de frio e lindos arranjos de flores que pareciam ter nascido em outro lugar que não a Terra. Nela, nesse lindo anjo, havia alegria, movimento, festas e risos. E música, muita música, tocada e dançada pelas madrugadas.
Havia um quê, entretanto, de inquietação nesse ser, momentos que sua condição parecia se chocar com o resto do mundo: uma verdade e sinceridade de atos e palavras que muitas vezes assustava. Mas era um anjo.
Desde muito cedo a menina soube quem era aquela bela e estranha mulher. E com a alegria dos segredos, pode desfrutar cada momento vivido, cada carinho recebido nos gestos e olhares do anjo.
A menina virou mulher e ainda assim era naquele anjo-mulher que encontrava o colo, o estímulo, a força e o espelho de como queria ser um dia.
Os anos passaram para as duas. Um dia, assim do nada, terminou.
O anjo, talvez percebendo que sua parte estava terminada, resolveu ir...
E partiu, em silêncio, deixando para a mulher desconsolada um lindo olhar, que falou mais que todas as palavras que tinham trocado em tantos anos...
Ela sempre acreditou em anjos, em fadas e em espíritos perfumados, aqueles que deixam suave aroma de rosas e jasmins no ar.
Essa crença a mantém viva, a mantém atenta, pois sabe que existe, em algum lugar e tempo, um encontro marcado com seu anjo.


Para minha mãe, que hoje completaria 80 anos.

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