terça-feira, 1 de junho de 2010

Traição






Ontem pude acompanhar, via Canal Brasil da TV paga, uma entrevista feita pelo Lázaro Ramos, programa Espelho, com o psicanalista e articulista Contardo Calligaris.
Dentre os muitos temas levantados surgiu o da " traição".
Vamos lá, um pequeno exercício ilustrativo.

1- Maria, casada ou comprometida num relaciomento formal, se apaixona por Alberto, ele em igual condição. Paixão de romance, almas gêmeas. O caso rola. Belo dia, por conta da relação anterior estabelecida, marido, esposa, filhos, família, empregos, status quo, etc, etc, um deles, ou os dois, coloca um ponto final.

Onde está a traição aí, segundo o psicoterapeuta? De Maria com seu marido/família/filhos/meio/emprego/etc/etc ? Ou de Alberto idem? Não.
A traição, aquela pela qual irá, ou irão, se " culpar" pela vida afora é aquela cometida contra si mesmo(s)...Essa será a dor, horrível, insuportavelmente inesquecível que ficará como aviso, lembrete da covardia contra seus sentimentos, sonhos e desejos...

Tema polêmico esse, mas, de verdade? Contardo está correto. Nada mais triste do que sabermos que mentimos para nós mesmos...Nada mais trágico nem mais indecoroso seguirmos a vida sabendo que muito do que somos, sentimos, pensamos e queremos foi deixado de lado, para trás, em nome de coisas, externas, que não fazem parte de nossa essência mais particular...
Todos que passaram por situações semlhantes sabem disso. No exato momento dessa escolha infeliz, feita em nome de tudo, menos da pessoa mesma, uma parte do que se chama viver deixa de existir. E pior, tudo aquilo que motivou a optar irá ser objeto, todo o tempo, de comparações, de fantasias e de muito rancor.
No caso de um casamento mantido a esse preço, como será ele dali para frente?
O outro, o amado que abrimos mão, deixamos ir será sempre o melhor, o perfeito, o dono indiscutível da chave de nossa felicidade. E, pergunto, quem pode suportar uma concorrência dessas? Qual companheiro, real, mas já não amado, poderá?
Ok, não é fácil jogar tudo para cima e seguir nosso sonho, mas nada é quando lidamos com nossa humanidade, nossa fraqueza, nosso desejo.
Conheço gente assim, tanto as que não trairam a si mesmas quanto as que não trairam um outro ou situação.
As primeiras podem até ter " quebrado" a cara, mas percebo-as intensas, inteiras, com um olhar de quem acredita na vida, na busca, que não sossegam nunca na tal busca da felicidade. Podem não estar totalmente felizes, mas estão em paz com elas mesmas.
As segundas, estão mais para um " viver por viver", perderam o brilho, a espontaneidade, somatizam mais, são melhores presas de depressões e medos.
Pois é, discussão boa essa, não? Tema de literatura, filmes, teses e bate-bocas apaixonados entre os dois lados.
O que importa? Ser feliz ! E nesse caso sem ser " de verdade" não vale.
Amei, Contardo!

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