quarta-feira, 30 de junho de 2010

Convicções



"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras" ( Nietzsche)


Pensei muito sobre isso e acredito. Infelizmente tenho visto muita briga, problemas, discussões e desarmonias acontecerem por conta dessas tais " convicções".

Vamos ver, segundo o dicionário " convicção" significa: certeza adquirida por fatos ou razões; persuação íntima; convencimento. Cada dia mais e mais percebo que muitas e muitas vezes pessoas acabam esquecendo até mesmo quem são, do que gostam de verdade, por conta de certezas adquiridas. Mais ou menos assim, um dia tais " convicções" fizeram sentido, parte de um momento, de um posicionamento circunstancial e estranhamente elas acabam " colando" em suas personalidades mesmo já não fazendo nenhum sentido. Não sei se por preguiça, hábito ou se pela repetição constante, respostas e conceitos acabam saindo de batepronto. As tais respostas prontas.

O interessante disso é que essas certezas "tão certas" nivelam pessoas de níveis intelectuais diferentes. Não há diferença entre o fanático religioso e o pensador político por exemplo, quando se trata de " defenderem" seus pontos de vista engessados e arraigados. Tanto faz se a defesa é do creacionismo ou do modelo socializante pois a retórica é igual, e há o mesmo tom intolerante, o mesmo olhar solene. Todos acabam parecendo inquisidores.E inevitavelmente surge a raiva, surda, quando o pobre do interlocutor ousa não acreditar nas mesmas coisas.

Tive muitas certezas pela vida e não me lembro de tê-las amado tanto a ponto de continuar " batendo na mesma tecla" se já não me parecessem tão certezas assim. Teve tempo que acreditei no amor-livre, bem 60, hoje não mais, ou pelo menos não com esse nome, acho que deveria chamar sexo livre, nisso até posso ainda acreditar. Já acreditei que o mundo se dividia em " nós " e " eles", o raio é que nunca consegui saber quem era quem, portanto tal conceito me pareceu uma total maluquice. Já acreditei em revoluções, impostas, de cima para baixo, hoje acho que cada um é responsável pela sua, por mudar seu redor, seu meio próximo e quem sabe, alterar alguma coisa se for o caso. Já acreditei em macrobiótica ( hoje me parece um desprezo total ao bem comer), fui vegetariana ( agora escolho livremente o que me faz bem e nisso inclui tudo), já achei que A S Neill com seu " Summerhill" era o caminho correto para se educar crianças ( hoje acho mesmo que boa disciplina, organização e método fazem muito bem, sim senhor). Fora outras tantas coisas que um dia me pareceram tão importantes e hoje, aos 55 anos, acho bem engraçadas. Não sei se por conta de temperamento ou da minha configuração astrológica ( isso, astrologia, é uma das poucas coisas que sigo acreditanto...rs..), não sou capaz de manter uma mesma opinião, fechada, cristalizada e sem possibilidade de revisão, por muito tempo. Logicamente que isso gera uma certa confusão, me obriga a pensar muito e sempre, pois é mais fácil ser sempre igual, falar sempre as mesmas coisas ou defender sempre os mesmos pontos de vista. Todas as pessoas que tem fortes opiniões criam um tipo, são reconhecidas com facilidade e não tem o ar " camaleônico" que tenho. Estou, constantemente, envolvida em muitas divagações, leituras, etc, para encontrar novos argumentos que me apoiem quando mudo de idéia. Mas é divertido. Isso tudo se refletiu na minha promissora carreira profissional: fui vendedora, fiz gerência administrativa, de recursos humanos, de restaurante, desenvolvimento de produto, ativismo político, costuras, artesanato e até toquei linha de produção em indústria textil! Sou uma especialista em nada..rs. Amo a culinária, embora até os 20 anos não soubesse sequer ligar um fogão e tenha passando anos e anos sem gostar de comer, adoro jardins e cães e agora já faz anos que tomei pavor do trabalho que dão, adoro festas e preciso muito ficar só, enfim, nenhuma coerência..rs.

Algumas convicções? Certamente, odeio injustiças, de qualquer tipo, sempre me incomodaram e sei que sempre me sentirei assim. O amor? Sempre, toda a vida, do jeito que surgir. Amigos e filhos? Posso até matar por eles.

De resto, fico com Raul Seixas, " eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.."


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