segunda-feira, 14 de junho de 2010

Re encontros Re começos

Vou procurar um amor bom para mim - no qual me reconheço e me reencontro, me refaço e me amplio, me exploro, me descubro - se minha imagem interior me levar a isso. O amor mais que tudo nos revela: manifesta nossas tendências, o que preferimos e escolhemos para nós. (Lya Luft)


Fim de amor é complicado.
Ainda mais quando tempo se passou, dores foram sutilmente curadas, emendas delicadas foram urdidas num tecido roto...
Dos angustiantes dias de um amor-hábito perdido, ficou toda uma agenda livre, disponível para um até então não-disponível coração.
E o que fazer com o coração, nesses dias, que de tanto doer parece que vai parar? O que fazer com os planos, não adiados mas, isso sim, cancelados, sem aviso nem preparação? E os sonhos, como tirar tantas imagens plasmadas na mente e alma, assim, de uma hora para outra?
Depois o sábio deslizar do tempo que mais que o próprio amor tudo cura, tudo torna distante e seguro...
Estou bem, imune, foi melhor. Não era para ser. Não era bom o suficiente, nem tão prazeroso assim.
A dor passa a circular em ondas suaves, a melancolia supera o desespero. O arrastar dos dias e horas já começa a fazer efeito...
Em seguida coisas até então importantes, momentos, palavras, gestos, sussurros começam a empalidecer e perder o contorno na memória.
Como foi mesmo aquele dia? Qual era mesmo a frase, inesquecível, que não estou me lembrando? Será que tudo isso aconteceu ou eu imaginei?
Estou mais forte, estou de volta, posso muito bem estar só comigo. Não sinto falta, nem me falta pedaço.
Tudo começa a fazer parte de uma his-estória que começa a virar antiga, guardada no passado, lá trás, longe de meu pequeno cotidiano de viver e ter sobrevivido à perda de um grande amor.
Ah! Esse grande amor, penso já com um sorriso, não era tão grande assim.
Um belo dia a prova final desse processo todo.
Um reencontro.
Sem lugar, dia nem data marcados. Assim, aleatório. Pode ser na rua, na festa, no bar, numa casa de alguém.
O coração, num primeiro minuto, meio que por hábito, por reação a estímulo anteriormente conhecido, quer saltar do peito. O ar some, tudo some e tudo volta. E de repente vejo que também estou aqui, não lá, naquele tempo já vivido.
Isso leva o tempo do batimento.
Dai, daquele momento em diante apenas a certeza, clara e cristalina de que acabou, de que essa criatura em quem um dia amarrei meu passo, finquei minhas amarras e supus única em todo o universo é apenas uma pessoa. Como qualquer outra. Nem mais nem menos.
E ai, instante seguinte, dou um jeito de disfarçar, para mim mesma, a fragilidade de um tão grande e sofrido amor. Busco motivos, vasculho o que restou na memória e encontro, mágica das mágicas, justificativas para um dia ter amado assim...
Mas sei que estou mentindo. Não era forte, nem possivel, nem havia chance alguma de se viver, juntos, algum sonho. Somos diferentes, quase estranhos, quase excludentes.
Sempre fomos.
Nenhum encantamento teria como resolver isso. Questão de tempo, durou o que foi possível durar.
Fico bem, serena, sem agonia.
Restam os relatos dos dias bons. E ruins.
E a consciência de minha exagerada humanidade em sentir com o corpo inteiro, com a cara e peito abertos, sem boas medidas nem acurados julgamentos.
E saber, isso com certeza, de que quebrar a cara não é nada, recomeçar, do zero, do nada, isso sim é tudo.


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