quarta-feira, 17 de junho de 2009
Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo. (Guimarães Rosa)
O coração andava silencioso fazia tempo.
A vida? Bem, isso seguia acontecendo, numa sucessão meio automática, gente vinha, ela ia, festas aconteciam, comemorações variadas, dias iguais mas, o coração mesmo, esse andava silencioso. Ela até que se habituara a isso, afinal depois de tantos meses conturbados, permeados de ansiedade sem fim, não deixava de ser um alívio essa calmaria.
Claro, por essa tremenda falha típica dos ocidentais, ela associava essa tranquilidade a uma não-vida, uma pasmaceira tediosa, sem acreditar que muitos sobressaltos e paixões são, em geral, mais danosos que felizes. Tinha momentos que, auge da paz, ela se sentia meio morta, vivendo uma vida por viver, sem graça ou colorido. De qualquer modo, considerando tudo isso como um bem ou mal, ela já se habituara ao silêncio do coração.
O fato é que ela parecia ter sido feita de matéria semelhante à dos ventos e furacões e um belo dia sentiu de novo, não sem se espantar, o coração dar um novo salto. Bastou um olhar mais demorado, uma frase não pronunciada mas que, justamente por isso falou mais coisas que todas as outras, para se ver, de novo, envolvida em grandes sensações e sentimentos.
Ela soube então que os dias de harmonia estavam terminados e como marinheiro experiente tratou de realinhar as velas e o leme, dirigindo seu navio, direto e certeiro ao encontro da tempestade.
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