quarta-feira, 31 de março de 2010

Renascer...




Penso na " ressurreição" nessa data com final feliz que é a Páscoa.
Segundo o " Aurélio":
s.f. Ato de ressuscitar; retorno de um deus ou pessoa mortos à vida como o mesmo indivíduo.
Penso também nas pequenas "ressurreições" do dia-a-dia ou que posso olhar como isso...
Um dia comentando sobre alguns problemas que passo, certas mágoas, desilusões, chamei de " pequenos assassinatos". Leves, quase imperceptíveis, mas que tem o estranho poder de " matar" a alegria, a tranquilidade e muitas vezes a esperança.
Portanto para cada " morte" dessas, uma " ressurreição".
De um momento para outro fico feliz de novo, com uma frase, uma ligação, um sorriso de um estranho/a no supermercado, na rua, no trânsito, uma lembrança de um sorriso e o milagre está feito! Renasço,estou viva!
Interessante, parece que vivo e morro o tempo todo. Ou resisto, apesar de tudo, de todos, apesar dos pesares.
Retorno a um estado de felicidade que parecia destruído, surge uma reconstrução, após grande cataclisma, de nova casa, novo coração, novas metas.
Essa resistência, quase insana, quase sem nenhuma outra explicação que mera teimosia, me torna quase indestrutível diante da " paixão e crucifixão" diárias...
Minha mãe, com seu traço meio trágico diante das coisas da vida, sempre falava que tomasse cuidado com grandes alegrias. Dizia ela que para o " domingo de ramos", a entrada triunfante do Cristo em Jerusalém, havia a sexta-feira da Paixão. Verdade, mas para nossa sexta-feira de trevas ainda vai existir um domingo de Páscoa, de renascimento.
Adoro histórias com finais felizes, me perdoem os trágico-dramáticos.
Me encantam os heróis que tudo passam, sofrem, superam e ganham o beijo da mocinha no final.
Gosto de imaginar que a " Fênix" existe, que mora em algum lugar secreto, protegido, e que mesmo sendo por mil vezes incinerada, consegue juntar cada pózinho e se fazer de novo, mais bela e brilhante.
Renascer a cada momento, a cada dia, a cada dor. Vestir as cores da esperança, da alegria, do desejo profundo de refazer, fazer de novo, de novo jeito, com novo final. Feliz.
Tem sido assim. Pretendo que continue assim, vivendo uma Páscoa a cada momento.

Feliz Páscoa para todos.

terça-feira, 30 de março de 2010

Aprender português!






Quando tinha 10 anos fui aprender francês na Aliança Francesa da Alameda Tietê.
Acho que nem existe mais!
Desse tempo fiquei, para sempre, com a imagem da " portrait de Pierre Vincent" ( ah..o G. Mauger!)...O inglês aprendi com os Beatles, com discos, com filmes e o " porteño", foi por amor e com meu queridíssimo e paciente amigo Guillermo Ezquerra.
O que queria mesmo, hoje, é apreder português! Sim, português, nosso, humilde, lindo e complexo idioma.
Talvez algumas aulas de gramática caissem bem, mas o que busco é o entendimento perfeito da língua, a fórmula para me fazer entender sem dúvidas nem equívocos.
Poder falar de perdas, de caminhos oblíquos e ser entendida apenas assim, por isso e que nunca, nesses escritos, transpareça uma auto-piedade que não sinto, nem cobranças que não sei fazer ou me interessam.
Se falar de amor, que ele surja intenso, magnífico como pássaro multicor, capaz de abrir portas e janelas para espantar o bolor, o mofo das solidões... Que esse amor que eu retrate, delate, confesse, seja fim em si mesmo, sem condições nem partições. Apenas luz, que reavive, aquece, impulsione e ensine a incrível possibilidade de voar mesmo que sem asas...
E se eu falar de vida, que as palavras tenham cheiro, odor, gosto e temperatura, que cortem e costurem esperanças, medos, sonhos e visões num tecido infinito e sem manchas...Que se sinta o pulsar das veias, o bombar do sangue, o ar que incha e escapa, que faça com que tanta, mas tanta vida seja capaz de destruir até mesmo a morte.
E se eu falar de passado, que ele soe firme como rocha, como farol, como norte, que apontou um dia para o presente, esse tênue e impalpável estado que não existe...
E se eu falar do futuro, que minhas palavras carreguem as mesmas certezas dos heróis de Argos, dos conquistadores do mundo todo, que por ai caminharam um dia, sem medo nem dúvidas.
E se um dia, eu, afinal, aprender português, assim, desse jeito,como quero, que eu possa chorar em cada sílaba, rir em cada frase, viver num pequeno texto cada segundo dessa minha vida, rica, insana, melancólica, obliqua e cheia de sentido.
O poeta Pessoa um dia escreveu " Minha pátria é minha língua", pois minha língua é minha pátria e meu código secreto, caminho do coração, áspero, nem sempre claro, nem sempre compreensível, nem sempre feliz.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Sensações...




Sinto saudades de muitas coisas nessa vida..
Situações, cheiros, momentos, lugares, pessoas.
E sinto falta de instantes fugazes, sensações que nem sei bem explicar.
Finais de tarde na praia, o mar avermelhando, o vento soprando delicado no chapéu-de-sol, o olhar perdido na calma da paisagem. E o cheiro, inesquecível, do pão quente escapando do saco de papel ou o calor vindo de um olhar profundo e apaixonado que por convenções sociais não poderia nunca deixar de ser apenas um olhar...
Penso em tantos perfumes e sensações da vida que tenho vivido.
E se algo, por pura mágica, desperta minha memória olfativa, volto àquele exato momento e o vivo de novo.
Hoje acordei com saudades de Buenos Aires, cidade em que vivi muitos momentos ricos em dores, risos, esperanças e desilusões.
Está aqui, viva e intensa a excitação do aeroporto de Ezeiza, muito colorido, cheio de sons e a lingua dos portenhos soando ao fundo, como eco de outras vidas, de outros tempos. Sinto nos pés o ruido abafado do carpete do quarto de hotel e o gosto das " medialunas" crocantes e quentinhas desfazendo na boca sob o sol ameno do outono argentino.
Vejo, como se não fosse míope tal a clareza, as árvores da Plaza San Martin e ouço meus passos, solitários, ressoando pelas " calles" desertas. Sinto o travesseiro, macio e branco onde afundei meu rosto banhado de lágrimas depois de uma perda afetiva. E ouço o tango, na rua e nos salões, como eco de uma momento ao mesmo tempo próximo e distante...
Sinto falta de algo em mim, dos muitos paradoxos que engendrei, da inquietação por algo que nem sei bem o quê é, mas que tinha que mudar.
Me quero de volta, como fui aos 28, 35, 45 anos. Como há bem pouco, na verdade.
Num tempo que ainda acreditava em sonhos, em situações ideais, em amores e encontros.
Me quero como era, como fui um dia, meio estabanada, irresponsável, aventureira, capaz de sonoras gargalhadas ou de prantos escancarados.
Acordei hoje com saudades. De tudo um pouco. Mas principalmente de mim.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Pés no tempo...





Ontem nós, as meninas aqui de casa(rs) resolvemos ir ao nosso " paraíso" em terra! A saber, uma loja de sapatos!
Não sei bem porquê, mas sapatos são "doença" para grande maioria das mulheres. Nunca temos todos os que queremos, nosso sonho de consumo é, com certeza, entrar num dessas lojas sem limites ou restrições de dinheiro e fazer a festa!!
De Imelda Marcos, passando por Eva Perón, até a minha diarista, todas amamos sapatos!
Rapazes, vai a dica, esse é um presente que sempre agrada mesmo que não nos sirvaou não tenha a nossa cara, pois sempre vão representar uma "oportunidade" imperdível de visitar uma linda loja para trocá-los ( e levar mais 1 ou 2 de quebra!).
Pois bem, como de cada uma de nós, eu, filha e enteada, calça um número diferente, acabamos nos separando, cada qual em seu nicho específico, na complicada tarefa de olhar, provar e escolher dentre os muitos modelos dispostos para nos seduzir...
Mulheres escolhendo sapatos tem a mesma circunspecção e foco de um enólogo provando vinho raro ou de um executivo analisando as opções do mercado de ações! Isso requer atenção,pois muitos itens tem que ser preenchidos: beleza, conforto, preço. Lógico que a decisão não passa por nada disso, ela vem da " paixão". Em sã consciência não precisamos mais de uma par de sapatos pretos, mas " aquele" ali é tãaaaooo maravilhoso que não podemos mais viver sem ele. Ou então aquele par beringela, que não combina com nada, mas, afinal, não temos nenhum dessa cor!!!
Pois é, assim é que funciona.
O que quero contar, entretanto, foi o de um susto que levei, de um momento bastante estranho vivido em poucos minutos.
Com minha objetividade virginiana separei, rapidamente, 4 pares e me sentei para provar. Um mais lindo que o outro, mas um deles, ah...lindo, tão especial. tão maravilhoso...Coloquei esse precioso nos pés e bingo! Perfeito! Confortável, parecia ter sido feito para mim. Levanto e me encaminho para o poderoso espelho de cristal para ver o efeito. Ai vem o susto! O lindo par de sapatos, com tira de gorgurão no peito de pé e o laço, encantador, arrematando a lateral, não combina com a mulher de mais de 50 anos que me olha do espelho!
É um sapato para uma moça, uma jovem mulher...Tudo que não sou mais...
E olhei meus pés e percebi que mesmo não querendo, eles envelheceram comigo...Estava lindo, mas a figura que era sustentada pelos dois pés não " carregaria" mais, nunca mais, sapatos como aqueles..
Tirei correndo com medo de Luiza me flagrar e ter que suportar sua crítica implacável( e pior, justificável!) e me decidi por outro par, belo sim, mas não tão apaixonante...
Sei que sai feliz da loja, mas não tanto como quando entrei.
Essa sutil adaptação ao tempo pode ser, às vezes, bastante melancólica...
Pois é, outros tempos, outros momentos, outra pessoa.
E dou graças a Deus, primeiro por Luiza não visto, depois por não ter perdido a noção do ridiculo.
Nada mais patético do que uma mulher madura metida a menina!
Vi uma, dia desses, loiríssima, de rabo de cavalo, minissaia, salto alto, maquilagem e muito perfumada. Tinha mais de 60 anos! Triste, muito triste.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Dois filmes

Dois filmes

Assisti outro dia dessa semana, final de tarde, vantagens de estar sem trabalho formal, uma reprise no Telecine Cult, do filme Hotel Ruanda. Aliás, reassisti após muitos anos.
Terrível, assustador e estranhamente presente hoje, quando aqui se vive momento de discussões sobre " cotas" para negros, sorry, afro descendentes, em universidades.
Esse assunto já rendeu conversas tensas entre uns e outros, defensores e detratores.
Como sou parecida com Caetano Veloso ( pelo menos nisso...rs..), não consigo manter minha boca fechada, acabo dando opinião e me vejo fazendo parte do grupo que não concorda com isso.
Graças a Deus estou em boa companhia, ao lado de pessoas como o Demétrio Magnolli e Newton Nazaro Júnior, mil vezes mais bem preparados para sustentar e justificar os motivos da não concordância.
O que sei, melhor, sinto, é que começa a surgir aqui, no Brasil, um rancor até então desconhecido. Estamos nos percebendo "diferentes" uns de outros de maneira muito complicada. Agora somos " hutus" e "tutsis" e temo que, a longo prazo, vivamos algo parecido com os acontecimentos em Ruanda.
Brancos viram opressores, escravagistas, usurpadores e maus. Negros são heróis, vítimas oprimidas e bons. Será que o mundo é tão simples e maniqueísta assim?
O pessoal da consciência negra mergulha num viés bastante perigoso, uma vez que, sistematicamente coloca apenas os brancos e europeus como únicos responsáveis pela tragédia da escravidão. Ninguém se lembra, ou melhor quer saber, dos fatos, incontestáveis sob o ponto de vista histórico, de que outros negros, de tribos e regiões rivais, é quem forneciam seus inimigos capturados para serem vendidos ao tráfico negreiro. Isso não conta. Pois é.
O que me assusta são os desdobramentos dessa conversa toda. E ficaria muito chateada se minha filha, mestiça, mas não de afro descendente e sim de oriental ( que tb, teoricamente, poderia reinvindicar uma cota, afinal descende de imigrantes explorados pelo capitalismo), perdesse sua vaga na universidade pelo sistema de cotas.Complicado esse acirrar de ódios, de velhas histórias que não podem mais ser mudadas e onerar futuras gerações com dívidas que não fizeram.

O outro filme, esse delicioso, tema mais leve, mas nem tanto é o que assisti essa semana com a Luiza, minha filha: Coração Louco, que rendeu um Oscar da academia, para o incrível Jeff Bridges!
Aqui o assunto é a decadência, graças ao alcoolismo, de um famoso cantor e compositor country. O tema poderia ter sido tratado com mais profundidade, mas valeu.
O ator, impecável, num papel feito para ele e construído com genialidade, aliado à uma trilha sonora incrível para os que gostam de música, torna o filme bem legal.
O drama do alcoolismo, que tem destruído tantos talentos, vidas e pessoas, é algo igualmente presente em nossas vidas. A dependência emocional do personagem, as perdas que vive, até a de um delicado amor, é coisa para se pensar. O alcool me parece mil vezes mais perigoso que outras drogas, uma vez que é aceito socialmente, tem seu charme, faz parte da rotina de quase todos, até que se torna o começo do fim na vida profissional, emocional e pessoal de muita gente boa.

Bom, é isso por hoje.
Dois temas: racismo (de todos os lados) e alcoolismo. Duas pragas.
Poderíamos muito bem passar sem isso!
Bom final de semana!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Tempo ...



Todos temos um tempo interior, indefinível e nem sempre compreensível aos que olham de fora. Em bom português todos temos um "timing"!
Está até na Biblia, no Eclesiastes 3:

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;


Tem gente que é do batepronto(é assim que se escreve pela nova ortografia?), reage na hora, tem resposta para tudo ( nem sempre a melhor, mas tem!),decide uma vida num piscar de olhos.
Outros não, já são mais " bovinos", lentos, parece que nunca conseguem se decidir, mas belo dia o fazem ( nem sempre do jeito melhor, mas...)
O certo é que eu tenho meu tempo.
Sob grandes pressões, angústias e preocupações puxo o freio de mão. Eu não sei, confesso, externar muito bem as dores que sinto. Falo, falo, brinco mas não entro no " papo sério". Isso causa justamente essa parada, esse não movimento, como se para poupar um pouco minha mente/corpo cansados.
Estou num momento desses.
Quero ficar quieta, de preferência sozinha, sem conversar. Prefiro a companhia de tudo que posso me focar, concentrar e que não traga novos problemas. Fico na Internet, cuido da minha " fazenda" no Facebook, leio matérias de jornal e jogo " bouncing balls"! Ah! também escrevo aqui no blog. E pronto!
Percebo estranheza do povo aqui de casa, veladamente comentam sobre " os benefícios das atividades físicas", ou " não tenho visto você ler mais"...e vai por aí afora...
Sinto muito, gente, mas como diria Zagallo, vocês vão ter que me aguentar!!!

Preciso de um tempo, de um certo recolhimento, de não falar sobre assuntos contundentes nem que decidam os destinos do planeta, preciso ganhar na minha "fazenda do facebook" os pontos que andei perdendo no mundo.
Não, fiquem tranquilos e sem stress, não sou alienada, nem muito menos "viciada" em Internet.
Sou apenas alguém vivendo seu timing, respeitando seu instante de pouco movimento, coisa que levei mais de 50 anos para aprender.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Verdades absolutas.....!?




Verdades absolutas. Todos temos, ou pelo achamos que temos.
São conceitos que vão se acumulando vida afora, colocando tijolinhos, cimentando, erguendo muros enormes. Até um dia que, afinal se percebe, estar cercado pelos tais muros...
Olha que ainda tenho sorte pois nesses muitos anos que vivi, sempre tive "muitas" verdades absolutas que não duraram muito tempo!
Mas tive outras que, qual carretas de 1000 rodas, vim arrastando pelos estradas por onde andei. Não são fáceis de carregar essas tais verdades.
O certo, para mim, obviamente,é me manter atenta, esperta e não deixar que tais pensamentos acabem tomando conta de minha vida e fala assim de batepronto, sem nenhuma reflexão mais profunda.
O que é certo em alguns casos pode totalmente incorreto em outros.
Minha fé, firme como rocha, já passou por crises gigantescas, onde questionei, de forma contundente, tudo que sempre acreditei...Minha visão sobre o mundo passa por constante transformação: o que foi importante deixa de ser e vice versa. Mesmo os amores sem fim, descobri que acabam.
Penso, às vezes, que deve ser fruto da idade eu começar a perder a arrogância de ser dogmática, de achar que tenho uma opinião, absoluta, sobre todas as coisas.
Não tenho, não!
Mesmo o passado, meu material de consulta predileto, muda, ou seja, cada dia que passa o enxergo de muitas e diferentes maneiras. O futuro? Não há espaço para nenhum planejamento fechado. O presente? Vou me adaptando a todo momento, mesmo que isso dê a sensação de ser incoerente!
O que quero dizer com isso? Que as tais " verdades absolutas" acabam sendo um pêso, uma grilhão e faz com que a gente perca ótimas oportunidades de crescimento.
A propósito disso: no momento um assunto tem surgido nas rodas de conversas: o reatamento de uma relação afetiva de uma grande amiga, após 16 anos de separação, com o ex-marido que um dia a magoou de maneira feroz. É bastante interessante ver as pessoas, principalmente as mais jovens ou as que não são bem resolvidas emocionalmente, questionarem, de maneira negativa, esse episódio. Os " conceitos morais", as frases feitas tipo " comigo não aceitaria o marido de volta", não permitem que se perceba a beleza de se estar vivo, de ser gente, de poder, mesmo que através de escolhas anteriores dolorosas, reconstruir vidas, se apaixonar de novo e ser feliz!
Entenderam?
Bom isso, essas surpresas que acontecem com os amigos, bom esse exercício de me fazer pensar que não existem " verdades absolutas"...
Quero mais é mudar de opinião se for o caso, se a minha estiver errada, anacronica, sem sentido e pior, moldada por preconceitos.
Como disse Raul Seixas : eu prefiro ser a metamorfose ambulante!!!

Boa semana.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulheres...



Nenhuma mulher que conheço aguenta mais essa conversa de " parabéns" pelo "Dia Internacional da Mulher"...
Nem eu, mas ao mesmo tempo fico sempre torcendo para ganhar um buquê de rosas (pode ser qualquer flor!) de algum dos homens da minha vida(calma, marido, filhos e enteado)e até mesmo, confesso, o formal " parabéns"!
Minha ótica racional acha essa coisa de " dia" uma droga, um sinal de machismo da pior espécie, disfarçado por um falso reconhecimento, mesmo que por 24hs, de que somos dignas de sermos comemoradas.
Ok, ainda tá valendo, mas meu outro lado, aquele que chora tanto nas páginas de um livro, cena de filme ou capítulo final de novela, fica á espreita, ali, quietinhp num canto, esperando o cumprimento, a atenção e delicadeza.
Meu olhar cresce cada vez que um dos dignos rapazes ( acima citados) liga ou chega em casa...Mas...nada!
E imaginei que assim seria o dia de hoje. Racionalizaria essas ausências e esquecimentos com o verniz do politicamente correto, ou seja, os homens, os daqui, também acham essa coisa de dia uma bobagem! Lógico que esse malabarismo mental me ajudaria a esconder a ponta de mágoa e decepção e a vida seguiria em frente.
Não foi bem assim. Lá pelas 7 e meia de manhã, dia alto para uma senhora como eu que dorme pouco, ouço o bip do meu celular avisando mensagem. Ali, 4 palavrinhas, apenas 4: " Parabéns pelo seu dia" enfeitam todas as horas desse dia. Um sorriso, que nasceu sozinho ao ler as tais palavras, ficará estampado, enfeitando o meu rosto por muito tempo. Um amigo, querido, homem, não se esqueceu.
Depois, um e-mail, um poema, de algum tão querido quanto o amigo, meu poeta primo.
Ah! Que delícia ser mulher, que coisa louca ter um dia só meu, para o bem e para o mal, para os silêncios e as lembranças, para o descaso e a gentileza!
Rubens Jardim e Waldemar Puccini, vocês são dois cavalheiros inesquecíveis!

Compartilho o que disse o poeta:

Toda mulher é uma viagem
ao desconhecido. Igual poesia
avessa ao verso e à trucagem,
mulher é iniciação do dia,

promessa, surpresa, miragem.
De nada adiantam mapas, guias,
cenas ensaiadas ou pilhagens.
Controverso ser, mulher é via

de mão única, abismo, moagem.
É também risco máximo, magia,
caminho íngreme na paisagem.

Simplificando: mulher é linguagem,
palavra nova, imagem que anistia
o ser, o vir a ser e outras bobagens
( Rubens Jardim)

domingo, 7 de março de 2010

Mulher...



Sinto pela mesmice, amanhã, dia 8, Dia Internacional da Mulher, mil postagens, blogs, matérias em jornal, TV, vão falar do assunto e eu, também.
O assunto "mulher" tem sido tratado por especialistas em tudo, do papa ao pop.
Nada, portanto,do que for escrito aqui será novidade.

Vou apenas citar nomes de algumas mulheres. Mulheres de verdade.
Elas são a minha homenagem.

Lia, Nancy, Dina, Neusa, Margareth, Cecília, Ana, Bia,Iara, Tatiana, Fabiane, Natália,Eliane, Dulce, Maria, Andréa, Mary, Sonia, Roberta, Luiza, Deborah, Nuna, Juliana, Carolina, Caru, Thais, Fernanda, Leonilda, Silvia,Regina, Neide, Silvana, Cris, Christine, Bianca, Teddy, Evelyn, Edna,Rose,Flavia, Samantha, Patricia, Cynthia, Elisa, Walkyria, Laísa, Cláudia, Cléo, Viviane, Laura, Sofia...

Essa pequena lista representa todas as mulheres do mundo, cada uma de um jeito, mas sempre mulheres, prontas para lutar e amar. Com o dom de criar, inventar, ensinar, chorar e enxugar lágrimas.
Todas seres de luz, feitas de matéria única, parte gente, parte anjo.

Beijo, meninas!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Uma lembrança



Tenho 6 anos. Sou uma menina solitária, afinal não me deram nenhum irmão para companhia. Mimada, na opinião de muitos. Um pouco doentia, ah! essas amígdalas, sempre encrencando.
Moro numa linda casa, cheia de espaços, jardins, gatos e pessoas. Sei até colher figo da Índia e jabuticabas, subo em muros e adoro procurar animais perdidos pelas ruas.
Faz muito pouco tempo que descobri a noite e seus mistérios e gosto de olhar estrelas e nebulosas, acho que combinam com meu temperamento observador.
Tenho muitas pessoas para cuidar de meu bem estar e necessidades: mãe, pai, babás, tias...e uma avó.
Minha avó é um ser especial e mesmo para meu jovem olhar, sei que não é pessoa como as outras.
Existe nela, com seus cabelos que mais parecem flocos de neve sob o sol de inverno, suas mãos delicadas, finas, feitas de marfim e seu andar silencioso, alguma coisa que me acalma e alegra.
Minha avó Elisa, minha flor nascida na Espanha, tem o mesmo perfume das rosas que coloca no altarzinho de seu quarto e da lavanda, que dorme em suas gavetas. Tudo nela é claro, doce e cristalino, como sua voz de quase soprano que sussurra frases de carinho em meus ouvidos.
Ali, em seu delicado colo até os remédios que me obrigam a tomar tem um gosto suportável, com ela aprendo a amar os canteiros, as sopas quentes e a ter fé em Santa Luzia, cuja gravura, com os olhos num pratinho, me fascina e asssusta ao mesmo tempo.
Ao lado dela sou uma menina feliz, que nem desconfia das dores ou decepções que um dia irão aparecer em minha vida.
Um dia sei que terei 55 anos e, quase uma senhora, avó de netas, como ela, vou sentir muita, muita falta de vó Elisa.
Seu amor e aprovação incondicionais, sua gentileza, sua firmeza diante da vida, sua fé em outros mundos habitados por de espíritos e santos, suas rosas, tudo isso me trará uma delicada tristeza, feita de saudades. Uma tristeza de quem, um dia, viveu perto de um anjo e depois ficou sozinha.

Para minha avó, Elisa, que ontem 28/02, fez mais um aniversário.