quarta-feira, 26 de maio de 2010
Outono
Já havia lido sobre isso e acabou acreditando.
Havia mesmo relação entre a natureza, o universo e as pessoas...
Não fazia muito tempo que percebera, junto com o outono recém chegado ela estava também se recolhendo...
Sentia uma afinidade imensa com essa estação. Tudo fazia sentido, o ar mais cortante, as folhas se vestindo de amarelo, o dia sumindo mais cedo, as manhãs geladas e o sol morno, tudo muito agradável...
Foi no dia em que percebeu, forte e impactante essa similiaridade com o outono, que parou para pensar.
Aconteceram tantas primaveras de uma infância permeada por descobertas, por tantos canteiros floridos e colos amorosos...Tempo de descobrir, de ver cores explodindo em árvores, vida nos dedos que deslizava suaves nos pêlos de cães e gatos, tanto o que surprender, tantas primeiras vezes...
E o verão? Ela lembrava dela mesma animada e cheia de risos como os muitos verões, havia nesse tempo muitos projetos, tantos sonhos, tantos longos dias e longas noites de busca, de corrida atrás de vida, da vida ela mesmo sendo sorvida em grandes goles, despreocupada, inconsequentemente. E amores, que morriam e nasciam sob sol quente, sob águas azuis com a promessa de serem eternos...E esses verões duraram tanto, mas tanto tempo que pareciam estar ali, ainda vizinhos...
Mas hoje sabia-se como o outono. Serena, sem sobressaltos, sem grandes contrastes. Havia uma sabedoria nesses dias, não a calmaria indesejada que atrapalha grandes navegações, mas a do mar ameno, sem ondas, mas ainda com horizontes...
E os amores? Agora, os que a atraiam, eram os feitos através afinidades, vivido mais por longos e delicados silêncios do que por palavras sem sentido. Sabia amar de longe, sabia amar sozinha e por olhares, sem toques, sem excessos, sem nada esperar.
Espera, sim essa era a palavra chave. Não havia mais esperas, nem ansiedade, portanto não havia mais desespero.
Tudo parecia certo e em ordem, tudo parecia longe dos extremos. E era bom estar assim.
A mulher sorriu diante desses pensamentos.
Lentamente ela se levantou do sofá, ajeitou pequenas toras na lareira de tijolos e ateou fogo. Lá fora o dia morria, o sol, sem fúria ainda deixava um halo suave nos galhos das árvores da rua. Um vento mais frio começou a soprar, ela se aninhou no braço reconfortante do sofá e ali permaneceu. Até a noite chegar. Iluminada apenas pela luz que escapava das brasas incandecidas.
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