sexta-feira, 16 de abril de 2010

Um dia...




Um dia. Um dia por vez.
Claro que sua mente entendia perfeitamente isso. Quase que como dogma.
Não dava, mesmo que quisesse, viver dois,tres, quatro dias ao mesmo tempo...
Essa idéia fez nascer um sorriso no rosto da mulher.
Nem menina nem velha, uma mulher já conhecedora de muitas coisas do mundo e seus ajustes.
Um dia, não mais que um dia, cantou o poeta. Ela lembrou e sorriu de novo.
Estava só, imersa entre almofadas do sofá. Do lado de fora o dia morria...
Mais um dia...
Faltava um dia para que ela, alheia aos costumes e tradições, encontrasse aquele que tornava os minutos, horas, quase que um vida inteira...
Pensou nas mulheres da família. Seriam como os Atreus? Amaldiçoado clã?
O certo é que todas, ou quase todas elas as mulheres de sua família, amaram homens por quem não podiam se apaixonar...Nada foi fácil para elas...
E todas, essas que sofreram com isso, optaram pela não luta, pelo abandono, por manter as sólidas relações familiares em troca de seus corações dilacerados...
Um dia.
Não, mesmo tendo sido toda uma vida uma pessoa que amava a história e literatura, não fazia sentido acreditar em lendas, maldições ou mitos.Será?
Mas por que tinha que ter se apaixonado por ele?
Homens tinha conhecido muitos, melhores, mais cultos, mais belos, mais preparados para levar a vida ao seu lado. Mas tinha se apaixonado por ele...
Vida, interesses, afinidades, meios e sonhos. Tudo completamente diferente.
Mas ali, diante dos olhos perdidos no amarelo por-do-sol, era a imagem dele, com todos os seus calcanhares de Aquiles, que enchia sua alma e tirava o ar.
Um dia.
No outro dia, no tinha que nascer de qualquer jeito, ele chegaria.
Com todos os seus impedimentos e perigo, mas ainda assim viria.
Não seria livre, como ela não era, não seria público, nem poderia. Ainda assim ele viria, para, em cada momento roubado da atenção de todos, ele fincasse estacas profundas e eternas no coração, disparado, da mulher.
Por mim basta um dia, cantarolou.
Um dia, alguns minutos. E estava feito.
Sabia que, como as mulheres que a antecederam, as da sua família, não haveriam disputas, lutas, confrontos, mas a conformação, a nostalgia, a memória do que foi e não foi vivido.
Não tem importância, pensou.
E sorriu de novo. Sempre haveria ele, num tempo não descoberto, não conhecido, não revelado. Num blog qualquer, num texto, num trecho de segredo de seu coração.

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