quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sem volta..

....E eu queria alguém
Bem no fundo
do coração
Ganhar você
E não querer
É porque eu não quero
Que nada aconteça
Deve ser porque eu não ando bem da cabeça
Ou eu já cansei de acreditar.... (Pessoa- Dalto/Claudio Rabelo)



E a decisão não tem volta.
Como a situação anteriormente posta, que também não tem volta.
Maria viveu, anos e anos, um amor sem jeito, sem lugar, sem quê nem porquê. Acontecia, só isso.
Minutos roubados, meia luz, porta entreabertas, sem sons, apenas sussurros. E medo.
Medo? Pior, pavor!
Não era permitido um amor desses, nem se encaixava em rotineiras vidas de nenhum dos dois.
Vidinhas bem estruturadas, com começo, meio e fim, em geral não suportam bem tanta força e transgressão.
Não dá.
Mas ainda assim tinha algo mágico que mantinha essa precária situação ativa.
E essa magia surgia, como se ficasse à espreita, de algum momento de descuido e acabava se realizando.
Até outro dia.
Sem saber como e quando dar um fim nisso, uma vez que já não havia crença alguma de que, algum dia, isso pudesse se realizar na luz do dia, ela deu o golpe.
Fatal e sem volta.
Colocou, assim, do nada, o tema meio desconexo e cheio de reticências, perante quase todo mundo, ou seja, levantou a dúvida e, como imaginou, todos, até então inocentes, passaram a imaginar, a ter dúvidas.
Desse momento em diante Maria soube que mil olhos agora a acompanharia, uns por curiosidade, outros para confirmarem suas até então desconhecidas teorias, e outros para salvaguardar suas dignidades.
Não havia arrependimento nela, apenas certa vergonha, nascida da terrível constatação de sua incapacidade em resolver sozinha tamanha encrenca. Ela mesma, sozinha, não conseguiu dar fim a esse sentimento.
Pronto, pensou, agora está tudo terminado, pois um movimento, um único, em falso, será a destruição. Dos mundos de ambos, das vidas mornas e bem ajeitadas, das famílias envolvidas.
E assim terminou essa farsa moderna, de um grande, enorme afeto que, por ter surgido num momento errado, teve que ser sacrificado diante dos olhos secos e serenos de Maria.
Não há choro, nem desespero.
Memórias, sutis, permanecem. E no lugar do medo imenso, ficou a melancolia e serenidade dos dias sem sobressalto.
Nunca mais o viu, não quer, mas sabe, tem certeza, de que está segura, que está livre.
Agora, Maria tem certeza, é viver o que lhe cabe e resta.

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