domingo, 17 de janeiro de 2010

Boa noite, bons sonhos





Caro

Algo me acontece ao escurecer.
Não, não é medo do escuro, já passamos dessa idade e faz tempo que descobrimos a beleza da noite. É insônia mesmo.
Existe toda uma literatura, médica ou não, sobre o tema. Cházinhos, leite quente, uma barra de chocolate, uma taça de vinho tinto ou mesmo o velho e eficaz Dormonid tem fama de resolverem a parada. Acontece que os primeiros não funcionam e o último provoca aquela " ressaca" terrível de um sono químico (mais ou menos como acordar de um sono que não foi sono, foi coma!).
A coisa é tão complexa que rendeu aquele filme esquisíto, é verdade, com o Al Pacino, que se chama, justamente, Insônia. Aflitivo, exasperante, como o mal que atinge o personagem.
Entre rever os 200 DVDs, que nessa altura da crise já foram devidamente revistos, alguns a ponto de saber diálogos inteiros de cor ou zanzar pela casa como fantasma, optei por conversar.
E conversamos, não por muito tempo, afinal quem tem insônia sou eu, não você.
E falamos sobre bobagens, sobre passado e presente, futuro? Esse segue meio incerto, parece que temos uma espécie de reverência a ele, não ousamos imaginar nada nem traçar grandes planos. Jardins, visitas, tudo muito solto, tudo dito com extremo cuidado. Esse futuro parece de vidro...
Lembro quando falávamos, anos atrás, sobre princesas encantadas por maldições e animais com poderes para libertá-las. Aliás, percebeu uma coisa? Em todos os contos de fadas nunca houve uma princesa com insônia? Elas sempre dormem sonos eternos, sem sonhos, sem despertares, até que surja o amado...Essa falta de dormir realmente não tem charme algum, nem para os Irmãos Grimm!!
Mas voltando, muito bom te ter como interlocutor do outro lado da cidade, do outro lado da Internet, do outro lado da noite. Bom não passar todas as horas que não durmo, sozinha.
Foi possível rir um pouco, fazer graça, abrir um espacinho para micro confidências, segredos de liquidificador, como diria Cazuza e até mesmo começar a marcar um possível encontro para compras inocentes dia desses. Foi bom te mandar Caetano cantando " Nine of Ten" ou Greg Lake ( ah! obrigada Youtube!).
Aí te pergunto, será que a maldição de Ladyhawke me atingiu? Será? Será que agora só assumo a forma humana com todas as sua fraquezas, sonhos e expectativas de pensar, quando escurece? Ou seja, será que o que penso ser insônia seja apenas eu mesma, sem tarefas, obrigações, rotinas, querendo se expressar?
Não sei, caro amigo, mas desconfio. Nessas horas roubadas de dormir estranhamente consigo me nortear um pouco, vislumbrar caminhos, perceber vida na velha " Fênix", pensar textos, rever situações e comentar sobre antigos amores que se perderam por aí.
Ontem foi assim e ontem pude dividir com você tais pensamentos. E foi bem legal.
Te conto: depois que desliguei tudo, subi e me deitei, não dormi, of course, afinal minha insônia é de profissional! Mas do escuro iluminado pela tela da TV te mandei um último e afetivo pensamento : boa noite, bons sonhos. Espero que tenha tido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário