Os afetos que se encerram...

Afetos que se encerram...

São os afetos que posso usar com o verbo “encerrar” em dois sentidos.

Encerra, fica guardado, com cuidado e apreço, no coração.

Encerra, termina, deixa de existir e de fazer sentido...

Tenho afetos assim.

Uns que me tomam de assalto, que me deixam perplexa diante de sua força e grandeza. Que me fazem mais e melhor. Que dão sentido ao sem sentido total da vida e suas consequências. Tornam os dias mais coloridos, já que podem corar o tempo mais cinzento... Na verdade esses afetos, os desse tipo, me fazem não temer o dia que amanhece.

Esses afetos, feitos de entrega, de certezas, de cumplicidade e generosidade, tenho de algumas pessoas. Como faróis, nortes fixos, e como me valem quando tudo o mais treme, quando buracos se abrem e a noite chega sem avisar! Ali, em meio ao caos e medos, eles me acenam, como minúsculos pontos de luz a iluminar a mais densa das escuridões.

O colo, o olhar, a palavra, articulada ou não, o leve encostar de ombros, a mão nos braços e mesmo uma presença silenciosa, mas firme e dinâmica, fazem com que, em muda linguagem, tudo chegue ao meu coração destroçado.

O afeto que se encerra.

Outros, já não vivem mais. Prazo de validade vencido, tempo esgotado. Um dia, sem quê nem por quê vão embora, dão as costas, deixam de fazer parte.

E mesmo assim, mesmo com todo e imenso vazio que deixam, ainda são um tipo de afeto, outro tipo. Agora vivem apenas nas memórias, pois são feitos de saudades e certa melancolia.

Esses, encerrados, também tenho com algumas pessoas. São baixas no coração. Nos perdemos em algum momento. Nunca soube se retornam algum dia, nunca me aconteceu.

A palavra que não chegou, a mão subitamente retirada, o abandono, o silêncio, a impossibilidade de uma linguagem agora desconhecida ferem o coração, matam a esperança, escurecem o dia.

O afeto que se encerra.

Agora não mais no meu peito juvenil, mas no meu peito cheio de cicatrizes, cheio de enigmas e algumas histórias para contar...