Bem no fundo
Ganhar você
E não querer
É porque eu não quero
Que nada aconteça
Deve ser porque eu não ando bem da cabeça
Ou eu já cansei de acreditar.... (Pessoa- Dalto/Claudio Rabelo)
A palavra ética vem do latim ethĭcus e este do grego ἠθικός ou transcrito em nosso alfabeto, "Ética". É necessário diferenciar o "ethos", que significa "caráter" do "ethos", que significa "costume" como "ética", conclui-se nesse sentido, e isso não é Ignorar essa diferença, leva à confusão de "ética" e "moral", já que esta vem do latim "mos", que significa costume, que é o mesmo que "ethos". Enquanto alguns defendem a equivalência das duas doutrinas quanto ao seu objeto, é fundamental saber que são baseados em conceitos muito diferentes.A éticaé um ramo da filosofia que engloba o estudo da moralidade , da virtude , o dever , a felicidade e boa vida. Ética examina o que é moral, como justificar racionalmente um sistema moral, e como ela é, então, aplicada a vários campos da vida social e pessoal. Na vida cotidiana é uma reflexão sobre o fato moral, a justificativa para o uso de um sistema moral ou de outro.
Pois é, usando a definição do Wikipedia ( ok, podem torcer o nariz), está a minha dificuldade.
Dia de vida normal, acontece um fato, duro, triste, complicado, que me coloca perante mim mesma e minhas convicções...
Rôo as unhas, sinto cabelos caindo, pois o que me foi relatado é algo terrível, inacreditável e execrável para meu pessoal código ético-moral...
Primeiro movimento-pensamento é o de revolta, de dor, de quase nojo. Preciso denunciar, alto e bom som, tamanha injustiça e maldade. Ok, perfeito, penso eu lembrando todos os textos lidos, de Platão à Gandhi, passando por muitos outros, de Cristo à Martin Luther King...Estou em boa companhia e me sinto mais segura e preparada para abrir a artilharia, pesada e implacável contra o agressor.
Não é fácil, logo percebo, pois o relato, permeado por medo e insegurança, me dá, num segundo momento menos inflamado, a noção de que, caso o denuncie, vou, possivelmente, acarretar mais dor à vítima.
Passo o dia assim, pesando, pensando, imaginando um meio de sustar essa quase violência, pois é surda, subliminar e sutil, sem aumentar o ônus a quem me contou...
Não encontro resposta. Não há. Estou aqui, apenas eu, agora conhecedora de uma atitude moral e eticamente abaixo da crítica e as conseqüências que virão para quem já sofre, caso a denuncie. O que fazer?
Tudo bem, não é problema meu, diretamente, nada disso vai afetar, minimamente minha vida e seus desdobramentos. Por outro lado minha consciência dói, me aperta, sufoca, exige, diante de tudo que creio e luto, que me posicione!
O que vale mais nesse momento? Alguém que sofre e se cala por saber-se sem voz ou ter quem o defenda? Ou alguém que sabe desse sofrimento e é compelido a se calar para evitar mal maior? O que?
Minha ética, nesse momento único que me vejo, suportará meu silêncio, agora cúmplice do carrasco, em nome de algo mais básico que a sobrevivência imediata da vítima? Sinceramente não sei responder.
Sei apenas que longa e interminável noite me espera. Noite de reflexão. Tudo o que sei, ou acho que sei, ou acredito, minha ética e moral, se contrapondo a valores tão ou mais altos.
Se pudesse não gostaria de ter sido a depositária de uma confissão como a que ouvi e descubro, aterrorizada, que coisas desse tipo estariam acontecendo nesse mundo.
Momento estranho, garanto a vocês. E divido, como quem divide um pesado fardo, uma angústia, a um amigo.
Estou entre o dever e o poder, poder não no sentido de autoridade, mas possibilidade de fazer algo...