domingo, 21 de julho de 2013

De volta...





Pois então, foi assim:
Esse blog criei anos atrás.
Chamei de "Lost in Space, sometimes".
O nome, uma homenagem ao seriado de TV "Perdidos no Espaço" (Lost in Space, da 20th Century Fox), inesquecível para os que como eu o acompanharam na década de 60, acabou gerando apelidos entre nós: meu amigo Newton Nazaro me chama de "Madame" , relembrando a personagem de June Lockhart "Maureen Robinson", matriarca da expedição que se perdeu no espaço e eu, em troca chamo o amigo de "Major", personagem de Mark Goddard, "Major  Don West", eterno perseguidor do maravilhoso ícone do mau-caratismo Dr Zachary Smith (criado pelo saudoso Jonathan Harris).
Não, não tem, portanto, nenhuma conotação com existencialismo ou outra corrente do pensamento/filosófico/psicanalítico, o "perdido/lost" do título do meu blog, acho que já passei dessa fase de me sentir assim e penso tê-la superado numa boa.
Verdade que andei meio muda, não sem assunto, mas com preguiça monumental de escrever e somente depois desses últimos dias, passados em Curitiba/Paraná, me animei.
O tema "perdido" só que agora no ao invés de  "espaço" é no " tempo" foi a sensação que me chegou desses dias.
Dado, Curitiba é o lar da minha velha sogra, matriarca empedernida dona de sangue árabe, sírio-libanesa, senhora, portanto, aferrada às antigas tradições de "mandonices" sem fim e especialista em "pitacos" sobre a vida dos que a rodeiam. Genético isso, não tem como discordar não. Garanto.
O fato é que nesses dias que acompanhei o marido (meu) nesse périplo mais de consciência que afeto, embora no meu caso seja afeto, pois consciência mesmo não sei se ando tendo, calhou de eu acompanhá-la ao médico para exames.
E percebi, perplexa, a não menos perplexidade e tristeza dela, que se transformou em poucos minutos numa grande depressão, diante do fato de o médico não ter encontrado nada de realmente "grave" nas imagens dos exames ali feitos. Diagnóstico: idade, disse ele, em outras e mais delicadas palavras.
A velha sogra não gostou, não aceitou e não engoliu.
Como não aceitou e nem nunca aceitará ter 83 anos, disse e repetiu para a nora, eu, com cara de paisagem, inútil, claro. Não aceitou nem aceitará as limitações,  a bengala, uma acompanhante. 
Prefere se "auto-aprisionar" (palavras dela) dentro de casa a ser vista tendo alguém para segurar em seu braço. Como se fosse crime ou vergonhoso. Tantos nãos, nãos, nãos...
Uma velhice feita de nãos... E nos últimos dois dias, dos quatro que passamos com ela foi assim. Cara fechada, sem conversa, sem perguntas, sem trocar, sem olhar de verdade. 
Falei sozinha, das minhas limitações enquanto cultivadora de "osteoporose" que não me permite mais salto alto, grandes caminhadas em terrenos acidentados, subir escadas, uma enorme falta de força nas mãos que não me deixa abrir tampas de vidros e garrafas pet, dores constantes. Não me ouviu,  nem me olhou mais. Acho que não me levou a sério pois conto sobre essas mazelas com certo humor e sem pêso. Sem contar que são mazelas de outra pessoa e não dela...
Pensei e acho que, olhando para trás, raramente a vi sorrir ou rir, de verdade, nesses 15 anos que convivemos.
Nem mesmo em nenhuma de nossas chegadas lá para ficarmos com ela mereceu um sorriso.
E só agora percebi.
Não sei se um dia ficarei assim, tão dura e amarga, por hora não estou perdida no tempo (rs), apenas no espaço e isso tem suas vantagens: posso ir e vir nas minhas lembranças quando tiver vontade e escolher com quais ficar. 
Tenho escolhido ficar com as boas...

Para Roberto Elias Salomão, Andrea Caldas, Gil e Ruy, meu primo.







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