domingo, 1 de maio de 2011

Sobreviver às utilidades





Tenho pensando nisso desde ontem.
Há um episódio da série dos filmes, Star Trek, em que Sr. Spock coloca justamente isso, será que em determinado momento não sobrevivemos às nossas utilidades? Ou seja, será que não nos tornamos, com nossos conceitos, pensamentos, ações e metas que não mudaram, obsoletos?
Passei semana difícil, enfrentando questões e problemas que me remeteram, justamente, a isso.
Me sinto realmente sem utilidade.
Não, não é discurso de depressivo, de quem está para baixo, ou coisa que o valha, mas de fato a sensação é de que os códigos mudaram, que as prioridades são outras e a realidade bastante diversa da até então conhecida.
Avalio quem sou, o que sei fazer, o que fiz até agora e, sinceridade? Não há mais espaço para muitas dessas coisas: exemplo bobo, costurar, bordar, fazer patchwork, cozinhar, ajeitar móveis e enfeites, escrever, tem algum valor, real, de mercado? E ainda mais pra alguém, direto da década de 70, que não sabe capitalizar isso... E ler Kant, Hesse, estudos de ocultismo e astrologia, ler tarot, inventar coisas, tem? Não, a menos que crie um e-commerce...
Meus valores mais básicos, vamos lá, uma certa sensibilidade no trato, delicadeza, não cobrança com o outro, uma sempre busca do bem comum em detrimento do meu pessoal, faz algum sentido? Nenhum, posso assegurar.
Essa semana em particular, fui colocada, frente a frente com a minha " não utilidade".
Sou antiga, os valores nos quais fundamentei toda a estrutura de minha vida e trajetória, não tem relevância, meus " dedos" em não criar situações constrangedoras são vistos como omissão, como fraqueza, como, sorry a palavra, babaquice.
Aí penso e me entristeço, todos, hoje, somos medidos e avaliados na mesma medida em que " geramos dinheiro", os meios pouco importam, mas o respeito alheio que conseguirei algum dia será proporcional ao que " vou trazer" para o grupo. A pergunta é: como trazer e em quais bases....
Ok, posso ser contraventor, comercializar armas, drogas, jogo, safadezas, mas ganharei a admiração dos meus pares. Posso ter empregos públicos, esses de cabides e ainda assim tudo estará bem.
Não há mais lugar no mundo para gente como eu. Estou, como diria Sr. Spock, sem utilidade.
Me contento então em ser vista como algo que está na moda, sou uma pessoa " retrô".
O interessante é que, em breves momentos que pude, de alguma maneira, colocar grana na parada, todas essas características, execráveis, viraram " charme e criatividade", vai entender!
Por hora sigo na minha inglória missão de cuidar, de arrumar, de alimentar, de criar bons momentos e tranqüilidade à turma que " produz", mesmo sabendo que nada disso é reconhecido.
Infelizmente não dá prá mudar, terei de " desler" tudo o que li, esquecer as lições de infância, de educação, de ética e gentileza. Creio que não consigo fazer isso.
Meu querido primo Ruy Fernando Barbosa compôs uma canção muito divertida, que cai bem nesse assunto, pois tem a seguinte frase " o mundo mundou, e não foi para melhor".
Bom domingo, dessa obsoleta blogueira.




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