sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Uma família p/ os Mattos e Rubão




Nós amávamos Campos de Jordão, Solemar. Amávamos Poços de Caldas.
Na verdade amávamos estar juntos.
Éramos uma família, mais uma clã, quase com espírito celta, escocês, que se unia e formava sólido bloco contra possíveis ameaças do mundo.
Nos frios intensos, manhãs geladas e hortênsias ou dias de mar, verão escaldante, Vicente de Carvalho sendo declamado e Pensão Balaton, ou hotéis com cara da velha Europa, esse grupo possuía o dom de ser muito feliz e barulhento e até mesmo o de encobrir faltas e pecados de cada um.
Nossa alegria era contagiante, nossas festas, inesquecíveis.
E nossos pecados eram diferentes, pois nossos pecadores eram mais divertidos que os outros.
E fomos assim por anos e anos.
Primos criados entre primos, sob o olhar orgulhoso dos velhos que sempre sonhavam que virássemos uma família só, casando entre si, guardando somente entre nós as nossas dores, os nossos medos e o nosso sucesso e felicidade.
E depois, fomos enterrando nossos mortos com dignidade, com um enorme orgulho de quem dá adeus a guerreiros, vencedores, tratando, a partir dessas perdas, de manter viva a memória e história para os mais jovens que chegavam...
E em todos os invernos, quando ríamos por entre os plátanos e bosques de Campos, na casa da Dulce, do Mota Bicudo e em todos os verões na " casona" ou nos 3 Pinguins, com jogos de cartas noite adentro, maços de cigarro entupindo cinzeiros e bailes de carnaval, forjamos nossa maturidade, hoje quase velhice.
E nossos velhos, aqueles que criaram essa clã, essa quase " famiglia" nos moldes sicilianos, atingiram um estágio incrível, quase como os heróis de Argos: embora mortos, estão vivos para sempre.
Não mais erros, pecados, fugas reais e imaginárias. Tudo foi devidamente entendido por nós como mostra da enorme humanidade e coragem de nossos pais e avós.
Hoje publico fotos dessa quase casa real, atrídica e bela a que pertenço, nas redes sociais. E compartilho com os que não os conhecem, mas principalmente com os que remanescem como guardiães eternos de suas vidas e feitos.
E assim vou eu agora, entrando na derradeira parte de minha vida, sem me sentir só, pois a presença de todos eles circula, leve e em transparências iluminadas, pelos corredores de minha casa, de minha memória, de meu coração.

Para os Mattos. Para Rubão.

Bom final de semana.

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