segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Salvar ou não salvar?



Li hoje, bem cedo, um texto que me foi enviado por uma linda moça, perplexa e entristecida pelo que chamou de " insensibilidade com o próximo".
O que a chateava era algo que sempre chateou a mim também: o próximo, em geral, é mais uma ideia, uma abstração, conceito filosófico-ideológico do que alguém de " carne e osso e sangue" que está bem próximo das pessoas, geográfica e emocionalmente falando...A moça se sentia, com razão, pouco importante aos olhos do amado..
Fui adolescente nos 70, o mundo em ebulição, tudo mudava, todos se engajavam em alguma coisa, drogas, contracultura, flower power, guerrilhas, revoluções e contra revoluções.
A palavra de ordem era " posicione-se".
Nunca consegui. Amava os hippies e seus novos conceitos, a liberdade, os novos modos e maneiras, mas em nenhum momento pude me " filiar" a qualquer desses movimentos, religiosos, políticos ou não.
O que me acontecia era sempre uma enorme desconfiança em tudo que falasse ( e fale) em nome " de grupos" minoritários ou não.
Não sei bem porquê ocorre isso, mas acaba que os dogmas, verdades, discursos e crenças acabam neutralizando qualquer outra atitude pessoal.
As palavras e, pior, as atitudes, acabam se tornando meio repetitivas e tendo mais importância que o motivo inicial que criava (e cria) tais engajamentos.
Explico: no afã de, por exemplo, se fazer caridade, arrecadar fundos em Ongs, suspeitas ou não, salvar as baleias, os sem teto e os vegetarianos, ou o parque do bairro ou mesmo denunciar governos, ditaduras ou abusos de direitos humanos, etc, a maioria dos " militantes e/ou simpatizantes" acaba desconhecendo as mais simples e delicadas noções de convívio, respeito e solidariedade com aquele " próximo" que tanto pode ser a amada que fica em casa só, administrando filhos e contas (enquanto o marido salva o planeta e não é capaz de salvar seu relacionamento), quanto com o amigo que não compartilha de suas angústias sociais ou cores partidárias e que acaba sendo riscado, sem dó nem piedade, das vidas e corações ( afinal é um alienado)...
É mais ou menos assim, ser politicamente correto não significa, necessariamente, ser ser bacana e maduro com sentimentos, pessoas e assuntos pessoais.
Estranhamente tenho visto muito o seguinte: quanto mais engajado, correto, ativo e antenado, mais egoísta, ausente e emocionalmente relapsa( e chata) a pessoa vai se tornando.
Bem legal salvar o planeta, sentir a dor dos que nada possuem, defender quem não tem voz nem força, mas, por favor, participar um pouco das " bobagens" do dia-a-dia tais como convidar o outro para um cineminha, uma pizza, namorar ou mesmo parar e olhar, por alguns segundos, para os olhos do " próximo" ( aquele comum, sem glamour, tais como amigos, pais, mães, namorados(as)ou colegas de trabalho) e perceber quando estão tristes, carentes e apenas querem atenção ou afeto não vai atrasar tanto as boas ações coletivas.
Não vai IBOPE lamento informar, nem será tópico para publicar nas redes sociais, mas, garanto, vai trazer uma incrível sensação de " ser humano", de sentir, de amar e se entregar e até mesmo sofrer e estar, aí sim, fazendo parte da "humanidade".
Em tempo, os ingleses tem um ditado, bem bacana : Charity begins at home ( Caridade começa em casa), vale a pena pensar, não?
Ótima semana.

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