quarta-feira, 2 de março de 2011

Alinhavos





Andei quieta esses últimos dias, organizando emoções, sentimentos.
Isso acaba, num primeiro momento, truncando a fluidez dos textos.
Não tenho nada ainda bem alinhavado, peço perdão, portanto, pela não-linearidade desse blog.

Tenho mais uma neta, Helena, nome de mito, de lenda, de mulher capaz de desencadear guerras. Nome de moça bonita.
E essa minha neta, linda aos meus olhos de avó-coruja, o que tem de mais belo é sua serenidade e paz.
É tranquila, dorme muito e só me mostra seus olhos meio amendoados, bem abertos, durante as madrugadas que cuido dela...Deve ser o presente que me dá, compensando minhas dores e cansaço físico pelas horas sem dormir.
Poucos viram a estranha beleza desse olhar ainda sem compreensão do mundo e suas coisas, onde vive uma fragilidade que chega a me fazer querer chorar. Isso é muito tocante nos bebês, a delicadeza, a quase imaterialidade de seus corpos.
Helena me olha durante a madrugada, sussurro palavras que, sinto, ela entende. E aquele olhar me leva a um tempo que não mais estarei aqui, mas que me permite acreditar que viverei para sempre, nela. E depois dorme, sem sustos, sem medos e esquenta meu coração tão machucado, tão trincado.

Noutra tarde, nem sei bem porquê, lembrei da minha viagem à Europa. Aos 15 anos. Presente de meu pai que acreditava mais em livros e viagens que festas de debutantes.
Nossa excursão, organizada pela Stella Barros, tinha o sugestivo nome de " Meus 15 anos na Europa".
Nosso motorista, um português bonachão e bem humorado, permitia que nós, então adolescentes, colocássemos no toca-fitas ( não riam, era moderno na década de 70!) nossas fitas prediletas. Tínhamos 2 que foram, sem mudanças em 50 dias, se revezando: O àlbum do Uriah Heep ( chamado Very heavy, Very humble) e a trilha sonora do lindo filme de Enrico Maria Salerno " Anônimo Veneziano".
A canção titulo do filme, o Adágio para Oboé, está para sempre associada aqueles belos dias, de tantos descobertas e sonhos. Mais do que o rock pesado, datado.
Ouvi nessa tarde, mais uma vez, essa canção e me emocionei como não tivesse passado 40 anos...
Nas notas e na harmonia senti ter 15 anos de novo, e ainda atônita diante da beleza indescritível de um mundo que se abria. E lembrei, claro, de Veneza. Fui feliz de novo por alguns momentos.

Estranhas conexões nesses dias, o passado e o futuro trazidos ao opressivo presente...
Ambos, o antes e o que virá, acenando lembranças, visões e sempre me parecendo mais ricos que os dias de hoje.
Aos 15 anos e um dia apenas como lembrança vaga de uma Helena já moça, assim estou eu.

Boa semana.


http://www.youtube.com/watch?v=Vn0duZ1FCeU