terça-feira, 30 de novembro de 2010

El tiempo





El tiempo pasa y nos vamos poniendo viejos y el amor no lo reflejo como ayer. Y en cada conversación, cada beso, cada abrazo, se impone siempre un pedazo de razón. ( El Tiempo pasa- Pablo Milanés)

E agora o amor tem mesmo outra cara. Ou outro jeito. Antes fundamentado em paixões intensas, em sensações físicas e muita expectativa, agora vive de pequenos gestos, quase imperceptíveis...

Delicados, quase invisíveis.
Não há espaço para ostensivas demonstrações de carinho ou afeto, mas a cumplicidade, o reconhecimento do outro, com suas virtudes e defeitos.
E amamos até mesmo os defeitos. Tudo que antes incomodava agora aprendemos a conviver e relevar e isso nos dá um bom parâmetro.
Não é mais o príncipe num cavalo branco, nem o salvador da pátria que espero.
Quero o braço e o colo, a palavra, mesmo não dita, melhor sentida, quero o olhar de compreensão.
E nesses anos, longos anos, de tantos amores e buscas, quero alguém ao meu lado que tenha a paciência de me suportar, de me animar, de me roubar da terrível sensação de ser só.
É um amor feito mais de longos silêncios do que de declarações enfáticas.
De movimentos sutis, não de arroubos espetaculares.
O tempo passa, disse o poeta Milanés, passa mesmo, como tudo, mas nesse caso o ganho é enorme, incalculável, pois desonera o outro de ser o fiel depositário da minha felicidade.
Somos dois e somos um, o tempo todo.
Somos dois, com identidades ( que já conhecemos), com gostos ( nem sempre parecidos), com opiniões ( muitas vezes opostas), com manias ( que achamos graça e fazemos piadas),
somos duas pessoas.
E somos um quando algo nos ameaça, quando algo busca interferir ou quando sonhamos nossos sonhos.
E quem olha de fora pensa que algo não vai bem, pois atingimos o direito de ficarmos sós, em nossas coisas, textos, livros e filmes.
E é justamente isso que nos torna tão próximos, tão incrivelmente unidos.
Shakespeare tem uma frase que me agrada : " o que o tempo te tira, eu te acrescento"
É isso.
Nesse incrível relacionamento que vivo estou sempre sendo " acrescentada" em algo por esse amor, por esse afeto, simples e direto, sem frescuras, sem romances tropicais nem desfechos de novela.
Tudo faz sentido, mesmo com o tempo passando e nos " poniendo viejos".

Para Gil, sem maiores explicações.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Chegamos!





There are places I remember all my life,
Though some have changed,
Some forever, not for better,
Some have gone and some remain.

All these places had their moments
With lovers and friends I still can recall.
Some are dead and some are living.
In my life I've loved them all. ( In My Life- Lennon/McCartney)


Chegamos, minha querida!
E não foi fácil, você sabe.
Quis te contar ainda ontem, mas cheguei tarde, a emoção era muita, tive que ter um tempo para organizar meu coração.
Você se lembra do começo, não? Todo mundo pensava que seria mais um menino, menos você! Tinha como liquida e certa a chegada de uma garota. Você sabia, sempre me conheceu bem, que eu queria uma filha para completar a vida depois dos 2 lindos garotos que já tinha...
E os primeiros anos? Aquela criaturinha tão diferente de nós, com seus olhos e jeito oriental e ao mesmo tempo tão parecida com as mulheres de nossa família, com você: teimosa, cheia de opinião, temperamento forte e festeira!
O amor entre vocês foi desde sempre. Uma conhecia a outra, uma mimava a outra e ambas se uniam para me arreliar!
E tanta coisa aconteceu, os anos se passaram, dias bons e ruins, tantas dores, perdas, separações e nossa menina enfrentando com valentia e coragem os altos e baixos. Dias de tudo e outros de muito pouco...
Mas você estava ali, tal como fizera com os meninos, ajudando, aparando os golpes, acolhendo e nos fazendo acreditar que tudo passa.
O tempo só as uniu. E depois, quando o teu tempo estava para terminar, foi a nossa garota que ajudou a te cuidar, a te enfeitar, a ler prá você. E me ajudou a me preparar para a tua partida.
E ela foi forte, mais do que nós duas juntas. Enfrentou a morte, a tua morte , com dignidade, com coragem e não fugiu de situações que eu mesma não poderia suportar.
Chegamos, minha mãe.
Graças a tudo, à vida, ao destino, àquele que tudo sabe e enxerga dentro de nossos corações. chegamos aqui!
E graças à você que a amou, que acreditou, que pagou anos de faculdade para manter nossa menina estudando. E que ensinou a ela, depois de ter me ensinado, que a vida é isso, é luta, é sonho, é foco, é beleza e bondade. E que o conhecimento é a maior herança que se pode juntar!
Luiza está formada, pronta para alçar voos que um dia, eu e você, imaginamos!
E sei, nesse voar ela te levará junto e te mostrará novos caminhos, novos sonhos e projetos e mais uma vez, um dia, quem sabe, ela poderá passar tudo que recebeu de você para alguém...
Sei que está feliz, minha mãe. Sei que, como eu, sente o peito leve e o coração sem susto.
Você viverá para sempre na nossa Luiza, pois muito do que é dela é seu, veio de você.
O teu amor, sempre incondicional, que deu a todos nós, nos trouxe até aqui. Mesmo sem tua presença física, mesmo com tantas saudades, mesmo com a aparente distância, te sentimos em nós.
E vim correndo te contar, mãe, que estou feliz e sei que você também!

Para minha mãe e Luiza, mulheres da minha vida.









sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Carta ao Paul





Querídissimo Paul

Não, eu não vou ao seu show no próximo domingo...
Uma pena, fiquei muito triste com isso.
São aquelas coisas da vida que não temos como controlar e nem muito menos alterar.
Esperei por você por mais de 40 anos e na hora H não rolou...
A vida tem dessas ironias mesmo e acabo me conformando.
Quero te dizer, embora sinta que já sabe, que meu afeto e admiração são os mesmos dos primeiros tempos. Sua voz, sua presença e beleza, seu talento e suas canções serão sempre a trilha sonora da minha vida.
Lembro quando o ouvi , acho que em 64 ou 65 e ali, naquelas músicas incríveis, estava a chave de minha futura rebeldia, minha busca, meus sonhos mais particulares!
A aprendi a dançar twist e rock com você, rodopiar no Twist and Shout, no I´m Down, no Please, Please me e no I want to hold your hand...
E a paixão estava selada para sempre.
Namorei com Hey Jude e chorei muito com Michelle...
Depois do final dos Beatles você continuou me emocionando com My Love, com Mull of Kentire, com Hope of Delivrance e mais recentemente com o maravilhoso àlbum Chaos and Criation in the Backyard que tem duas canções inesquecíveis : A Certain Softness e Too Much Rain...
Paul, não deu para ir ao seu show. Ando meio pobre, ando meio sem pique físico para enfrentar um estádio lotado para te aclamar.
Saiba, entretanto, que estarei lá de um outro jeito. Como estive no programa do Eddie Sullivan em 1964, no Budokan, Japão, em 1966, no Royal Albert Hall, nos estúdios da Abbey Road...
Com você sou sempre jovem, sempre menina, sempre adolescente querendo mudar o mundo...
E isso nem a falta de grana ou de preparo físico foram capazes de me tirar.
Me sinto muito orgulhosa de uma coisa e te conto aqui, meio em segredo.
A paixão que sinto por você compartilho com outra pessoa.
Tenho uma filha, Luiza, linda de viver. Essa garota de 22 anos é sua fã tão ou mais apaixonada que eu. Virou mundos e fundos e estará lá, no Morumbi, levando alegria e emoção. .
Minha filha foi gerada e criada te ouvindo. Estudou inglês por obra sua, aprendeu a amar tudo que foi lindo em décadas tão distantes dela, por você.
Não é fantástico?
Querido Paul, obrigada por tantas e tão belas canções. Por dar sentido a toda uma geração, única e inimitável. Fizemos todo o trajeto com você ao nosso lado. Fomos felizes e sofremos. Desafiamos, lutamos, quebramos paradigmas, viramos o mundo de cabeça pra baixo. E perdemos tanta gente querida nesse caminho, inclusive George e John.
Saiba, meu amado beatle, que te devemos muito, muito além da tua música: a magia encantadora de sermos jovens para sempre.

Te desejo um maravilhoso show. Nesse horário vou fazer um brinde à vida e à arte que nos deu você, Paul McCartney, para sempre.

de sua fã

Nil


http://www.youtube.com/watch?v=LvSAlQ4cPgs ( lindo...lindo...)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Gosto muito...





Gosto muito de inúmeras coisas, quando gosto, gosto assim, muito.
Já odiar não sei bem como...Aliás sei, mas dura tão pouco que acabo me esquecendo como é.
Existe hoje, nesse enorme planeta, uma única pessoa que não gosto nada. Ser desprezível, arrogante, hipócrita, mas não chego a odiar, afinal já tá tão judiado, quase caquético que deleguei à vida a justa punição que ele merece.
Dentre as muitas coisas que gosto muito, além do rock, o blues, macarronada, saladas, sapatos, perfumes, livros, amigos, bichos, plantas, jazz, ópera, escrever,está a minha cidade.
Alimentei, anos e anos, a fantasia de ir-me embora dela.
Ah! muito caótica, barulhenta, insegura, suja, congestionada, dura e implacável. Bastavam, entretanto, 2,3 dias, por exemplo em Curitiba, limpa, organizada, serena, para perceber o quanto amava Sampa.
Curitiba, Buenos Aires, Granja Viana, Santos, não importa qual, nem o tamanho, não dá. Não dá para viver sem SP.
Nasci em Pinheiros, fui adolescente nos Jardins e mulher madura no Brooklin.
Cada dia aqui é uma nova vivência, uma surpresa. Sabiam que aqui, ao lado de uma das maiores avenidas da cidade, a Roberto Marinho, antro de crackeiros, um dos meus vizinhos tem um galo? Sim, galo! E ele canta, trazendo no começo e final dos dias, a sensação incrível de se estar num sítio!?Pois é, Sampa...
E onde ter o tanto que tenho aqui? O MASP, a Benedito Calixto, av. Paulista, a Ponte Estaiada, o Mercadão, Viaduto do Chá, o Centro Velho, o Mosteiro de São Bento, os centros de compras específicos: Ceagesp, 25 de Março, São Caetano, Bom Retiro, Brás, Largo 13, Pari?
Onde compro flores ou tomo um ótimo café com pãozinho quente as 3 da manhã??
Qual lugar tem revistas inteiras dentro dos jornais apenas com os roteiros do programas culturais e gastronomicos para todos os bolsos?
Onde encontraria um descendente de italianos, depois um de chineses e agora um de árabes para me casar e formar família?
Pois é, somos mix, somos tudo, somos de todo mundo. Sampa é grande mãe, a maior capital nordestina do Brasil e agora, graças a certas jogadas marqueteiras, querem nos transformar em racistas, elitistas e outras " istas" que nem vale a pena citar.
Não é verdade. Não aqui.
São Paulo carrega esse ônus por ser moderna, por ser poderosa, por ser rebelde e conto que já fui maltratada em algumas cidades desse Brasil pelo fato de ser paulista(na).
O preconceito de verdade que existe é contra nós, mas reafirmo sem medo de errar, nenhuma outra cidade acolhe e dá tantas oportunidades para quem a adota e briga por ela.
Coreanos,bolivianos, nigerianos, além das velhas e enormes colonias ( japoneses, chineses, judeus, árabes, espanhóis, italianos, portugueses) que ajudaram a construir essa cidade, todos encontram aqui trabalho e dignidade, todos acabam virando paulistas.
Gosto muito da minha cidade, tenho orgulho dela. É sofrido, a concorrência é grande, as coisas não são fáceis, mas são possíveis.
Não gostaria de ver um abismo ser criado, por conta de politicagem rastaquera, entres todos os brasileiros.
Por outro lado estou tranquila, sempre amarei Sampa de todo o coração e contarei para as netas o quanto são privilegiadas por terem nascido aqui.

Bom final de semana.

http://www.youtube.com/watch?v=btn7E8yYvaM
Sampa, por Caetano, o mais paulista dos nordestinos!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Abrindo velas !




Algumas pessoas nascem com algumas " marcas". Ou sinas, se preferirem.
Tenho uma tia que foi, a vida toda, " perseguida" por àguas. Sim, estouros de encanamentos, de caixas d àgua, todos os tipos de vazamentoe até ressaca de mar em seu apartamento da praia, enfim, qualquer que fosse o lugar que morasse sempre acontecia algo desse tipo. Ela, após muitas vivências acabou se acostumando e se tornou meio " expert" nesse tipo de problema.
Comigo são as mudanças. Não, não falo aqui das mudanças interiores, mas daquela básica mesmo, de catar as coisas e mudar de casa.
Andei fazendo as contas e cheguei a esse dado: em 55 anos já me mudei 16 vezes! Só dentro de meu bairro 8!
Tenho, modéstia a parte, enorme " expertise" nisso.
Sei a logística ideal, por onde começar e terminar e a estranha capacidade de em muito pouco tempo deixar o lugar que moro com a minha " cara". Já fui de lugares menores para maiores, delícia, e vice-versa, terror puro!
Já me mudei sozinha, com os 2 filhos e uma cachorra pastor, gravidíssima (e mais os 2 filhos), empregada com família e além da pastor, outro cão enorme, com marido e sem marido.
Já mudei com caríssimas trasportadoras e com caminhão de aluguel, com Kombi, enfim, desse riscado eu conheço.
Há em mim um paradoxo. Amo, como boa virginiana, meu " chão" firme, a estabilidade, o certo e o conhecido, mas também, graças ao meu Gêmeos no ascendente e Lua em aquário adoro a novidade, achar novos espaços e descobrir como ocupá-los. Amo chegar onde moro e saber onde está tudo, mas também me encanta reorganizar tudo, novas paredes, novas janelas com nova vista!
Agora nesse ano da Graça de Nosso Senhor de 2010, coisa que imaginava ser de outra maneira, devo me mudar de novo. Um lugar menor (olha aí o terror de novo) com menos espaço, mas dentro do que nossa realidade anda permitindo.
Ainda não sei direito, mas sinto, como Mary Poppins, que o vento está mudando e logo, logo deve surgir um novo lugar...
Fico angustiada? Sem dúvida, já não sou a mesma, fisicamente, das mudanças anteriores, dessa vez sei que vou precisar de mais ajuda. Mas esse parece ser o meu destino, minha " marca".
Vai haver tensão, isso é certo, moro com 2 taurinos e um leonino que odeiam mudar, qualquer coisa. Eles optam pelo certo, pelo conhecido, pelo menor distúrbio possível. Coitados, pois tem o karma de viver comigo!
Não há de ser nada.
Minha cabeça já começa a traçar a logística, o como, o por onde e, como sempre acaba dando certo.
Aí me pergunto, será que realmente eu é quem gosto de mudar e acabo provocando isso ou a vida, justamente por saber o que iria me acontecer, me deu essa qualidade? O ovo ou a galinha?
Como estudiosa de astrologia tendo a achar que nascemos com as " ferramentas" necessárias para nossas vivências.
E me agrada muito a idéia da reencarnação.
Vai ver que em outra vida fui cigana, ou melhor ainda, pirata, sem porto definitivo, apenas navegando pelo prazer de navegar e poder descobrir tantas e tão diferentes coisas mundo afora!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Gentileza gera gentileza !





Anda " rolando" pelo Facebook, ou feissebuque..rs..a frase acima: " Gentileza gera gentileza".
Impressionante! Em minutos ela é compartilhada por muitas, muitas pessoas!
Acho que todos sentimos falta disso.
E são tantas as formas de se ser gentil e também de não se ser...
Um bom dia, um por favor, um me desculpe, uma xícara de café que chega às nossas mãos, a atenção de alguém ao escutar nossas estórias, lamúrias, opiniões, mesmo sendo chatas, o ceder a vez no trânsito, o retornar uma ligação em nossa secretária eletronica ou e-mail pessoal, evitar temas polêmicos com gente idem, estender a mão aos estranhos, olhar no rosto de todos que nos servem, de frentistas de posto de gasolina, caixas de supermercado a garçons e policiais, sorrir, sorrir muito, tudo isso é muito gentil.
Não adianta ter rapidez para tecer comentários mordazes, usar a ironia, as respostas cortantes e na bucha ou alusões sobre fatos desagradáveis que todos querem esquecer, apenas para não " perder a piada"...Essas atitudes podem até mostrar uma mente ágil, um intelecto privilegiado, mas passam bem longe da gentileza e delicadeza.
Isso se cultiva, se aprende, se treina e é preciso usar, o tempo todo.
Já vivi situações quase extremas, salvas no último segundo por um pequeno gesto, uma atitude sutil ou um sorriso ou olhar ameno. Em contrapartida já passei também pelo horror das discussões, grossuras, malcriaçãos e brigas iniciadas por motivos tolos. Indelicados.
Todos temos nossas opiniões, certezas, gostos, times, fés, enfim, todos nos achamos, em alguns momentos, sábios e donos da verdade. Mas isso tem cura com uma atitude de respeito e carinho pelo outro. Ou outros.
Durante muitos anos foi moda esse negócio de " sermos nós mesmos ", falarmos o que nos dava na cabeça, um tempo de mega inflação de egos.Os terapeutas de então estimulavam essas " sinceridades". Ser malcriado ou grosso era sinônimo de ser " bem resolvido". Péssimo resultado.
Isso sem contar aquele pessoal que vem com a esfarrapada conversa de " temperamento", de " gênio", esses então se vêem no " direito" de passar por cima de qualquer outro que não tenha tido a sorte de ser do mesmo jeito.
Fico pensando, concordo que não é fácil aguentar a cara enfezada do gerente do banco, do segurança do shopping, os xingamentos no trânsito, do amigo ou filho ou namorado que está de mau humor, mas garanto que é mais desarmar essas caras feias com uma palavra delicada, com um sorriso do que revidar na mesma moeda.
Gentileza gera gentileza. Tenho certeza disso.
E se não formos gentis acabaremos nos transformando em " pessoas gangorras", conhecem?
São aquelas que quando chegam em algum lugar todo mundo se levanta e sai de fininho.
Muito chato, não?

Boa semana.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Herrar



Tá aí, acho que descobri o óbvio. Ululante.
Como é difícil esse negócio de " pedir desculpas"...
Não só o abrir a boca e soltar a frase feita " me desculpe", tem que ser de verdade, de dentro do coração, tem que acreditar...
Primeira dificuldade: achar que errou.
Quem gosta de dar o braço a torcer? Quem quer se perceber sem razão? Até onde suportamos o arranhão causado em nossa imagem tão bem construída e cuidada ao assumir um engano? Duro isso...
Esse olhar para dentro, necessário para nos descobrirmos em erro, requer muita humildade, muito despudor em relação a nós mesmos. Olhar de frente nossa teimosia, nosso mal gênio, nossos impulsos desembestados, nossa arrogância. E dói. E volta a cena, o exato momento ou fato e podemos ver e rever nossa intolerância, nossa grossura, nossa bestialidade como num filme, desagradável, que somos obrigados a assistir mesmo querendo sair correndo. Deletar não dá.
Passado esse processo inicial começa o outro, tão ou mais doloroso.
A retratação.
Com que cara? A de paisagem?Quais palavras iremos usar, como abordar o tema? Como soar verdadeiro nesse pedido de perdão? Com lidar até mesmo com o direito do outro em não quer nos perdoar?
Ah...complicado, hein?
Meu queridíssimo primo Rubens Jardim, o Rubão, poeta de mão cheia, bolou com uma frase conhecida a seguinte imagem : HERRAR É UMANO.
Verdade, e continuando a frase, perdoar é divino. E o caminho para esse estado de divindade passa pelo coração, pela enorme humildade em se reconhecer em erro, em pedir desculpas com o olhar verdadeiro. Mesmo sem obter a redenção, mesmo que aqueles que magoamos demorem um pouco a acreditar em nós.
E vou descobrindo muitas coisas, uma delas bem importante, que ouvi anos atrás do querido e saudoso professor de ocultismo e astrologia Hélio Amorim: o perdão é fundamental, com a gente e com o outro. Somente o dia em que verdadeiramente entendermos o sentido disso começaremos a real evolução espiritual.

Bom final de semana.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sorry






Há dias que eu não sei o que me passa
Eu abro o meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
E acabo discutindo futebol
( Cotidiano nº2- Vinicius/Toquinho)


Pois é, amigos, vai aqui um pedido de desculpas.
Pela tristeza, pelo cansaço, por ficarmos sem música. Ou pelo menos a música que fazemos juntos.
Comentava outro dia, com Nancy, que o repuxo da maré anda forte, nos mantermos em pé cada vez mais difícil!
São fases, eu sei, embora sempre que falo assim me lembro do meu caro amigo Xyko: quando a gente dizia que a solução de determinado problema era apenas " uma questão de dias" ele respondi " sim, uns 2, 3 mil dias...".rs
Momentos de incertezas profundas, chão tremendo, saúde sentindo.
Essa postagem não é sobre o que me aflige, mas, de verdade, um pedido de desculpas.

Paramos as festas, ando fugindo dos encontros e quase não respondo e-mails.
A sensação é a de uma enorme ressaca, física, mental e emocional.

Em especial quero me desculpar com a Lia, Margareth e Dema pelos canos e por desmarcar tantas vezes nossos encontros. Andréa e Rô, pelos atrasos em escrever e em saldar velhas contas.
Com Nancy e Bianca, pelo silêncio no surdo e no violão. Com Newton por não poder falar tanto quanto gostaria sobre esperanças.

Vai passar, pois sempre passa, essa é a única garantia.

Dia desses a gente acorda animado, as nuvens se dissipam, os caminhos se abrem e toca a comemorar! E aí é " party on"!

beijo enorme

Nil

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Morte




"A morte torna a vida maravilhosa.Porque vamos morrer precisamos poder dizer hoje que amamos, fazer hoje o que desejamos tanto, abraçar o filho ou o amigo, temos que ser decentes hoje, generosos hoje, felizes hoje. (Lya Luft)"


Estavam sentados lado a lado. Cada qual numa poltrona, essas forradas com um tecido nobre mas meio puído, ficavam de frente para um antigo aparelho de televisão e eram separadas por pequena mesa de centro de pés de palito.
O televisor ligado num desses barulhentos programas dominicais num volume muitos decibéis acima do agradável, sugeria a quem olhasse os dois personagens que esses acompanhavam os dissabores e humilhações inflingidos aos pobres calouros que se sucediam num palco perante platéia cruel.
Isso porque os dois, homem e mulher, tinham, aparentemente, os olhares voltados para as cenas grotescas.
Mas de verdade eles conversavam e havia um tom de segredo e cumplicidade nessa conversa.
Ele, mais velho, aparência nobre e altiva, usava um solene terno, com colete, azul marinho. Os cabelos, lisos, negros como seus olhos, mostravam já os fios brancos do tempo. Mesmo com o aprumo e elegância era perceptível o desgaste em seu traje, meio velho, meio brilhante pelo uso excessivo. Mas havia naquele homem um inegável traço régio, mesmo decadente, que provava sua origem ancestral de alguma nobreza italiana do norte.
Ela, jovem, muito jovem, quase parecia menina pela pequenez de seu físico, inquieta, usava rabo de cavalo e muitas pulseiras coloridas e cheias de guizos que produziam sons delicados com o movimento de seus braços.
Ela acreditava em signos do zodíaco, em espíritos que deslizam com perfume de lírios, em vidas sucessivas, em livros e poetas. Ele, pensador, acreditava em muito pouco e em tudo ao mesmo tempo, criara teorias evolucionistas, mantinha correspondência com sábios, jornalistas e antigos presidentes.
Ali, naquele dia, ele contava à moça que fora marcado pela morte.
A morte tinha sido, desde sempre, sua companheira. Nascido num Finados, dia 2 de novembro, sofrera, ainda menino, um ataque de catalepsia, chegou mesmo a ser velado na cama dos pais e procurara a vida toda, explicação plausível para tudo isso. Restou uma enorme afinidade com o assunto.
Ela se surpreendia com os relatos desse senhor de escorpião, signo tão ligado com transmutações, mistérios, com o morrer em todos os níveis numa carta astral.
Nesse dia ele, num tom de mestre para discípula, lhe pedia para nunca temer a morte, pois, mesmo sabendo o quanto isso era complicado para alguém tão jovem, ela viveria muitas mortes durante sua existência.
Pequenas, aparentemente insignificantes, mas mortes, de sonhos, projetos e ilusões que teriam de ser sacrificados diante da vida e suas exigências. E que mesmo em tais momentos, que certamente seriam de profundo desencanto e até desespero, nunca pedisse a morte, a morte final. Afinal, completava ele sorrindo, ela vem mesmo para todo mundo, no tempo certo.
Nesse dia ele a fez prometer, solenemente, que seria sempre assim.
E durante muitos e muitos domingos, ele e ela puderam falar sobre tudo a morte. E sobre muitas outras coisas da vida.
O homem velho foi, enquanto viveu, uma espécie de guru, de mentor para a moça. Ele lhe trouxe os filósofos, os cientistas, os escritores e Beethoven e Mozart.
Puderam juntos, ver duas crianças nascerem e crescerem, ver casamentos terminarem, começarem, pessoas virem e irem, mas o afeto que os uniu jamais foi quebrado.
Essa foi uma morte que nunca aconteceu.

E todos os anos, num dia de Finados, a moça, hoje quase um senhora idosa, coloca num vaso pequena flor para ele, não como homenagem respeitosa aos mortos, mas como um pequeno gesto de " feliz aniversário".

Para Rosino Zacchi, sogro, pai, avô de meus filhos, amigo e filósofo, com imenso carinho e admiração.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Last Famous Words





Deu o esperado, não o desejado. Pelo menos prá mim.
Não deixa de ser alívio, pois acabou, de vez, essa chatice que tomou conta dos assuntos nessas últimas semanas. Agora é, literalmente, fim de papo.
A Dona Dilma está eleita, pela escolha de mais de 55 milhões de pessoas.
Alguns dados, entretanto, coloco aqui, para reflexão, como minhas " famosas últimas palavras" sobre o assunto:

- Simplesmente mais de 29 milhões, sim 29 milhões!!!!!! resolveram que essa eleição " não era com eles"...Sorry, minha opinião, sei que vai gerar alguma polêmica, acho uma tristeza, afinal vamos todos viver aqui, nesse Brasil, sil, sil e todos vamos estar aí sim com isso! E afinal a gente lutou tanto para poder votar...

-Quase 7 milhões anularam ou votaram em branco. Ok, tem gente que errou, não sabe ler, não entendeu como vota, mas teve muita gente que protestou ou errando de propósito ou dando " carta branca" a quem quer que ganhasse. De doer!

-O candidato de oposição, José Serra, recebeu mais de 43 milhões de votos. Isso, portanto, passa bem longe do discurso de alguns setores mais sectários do PT de que os tucanos recebem votos de uma " minoria" privilegiada. Se for assim devemos ter a maior Zelite do mundo!

-Dos votos totais, mais de 135 milhões, Dona Dilma recebeu, 55. Se a matemática não foi alterada pelo politicamente correto nem metade do país escolheu essa dona.

- Dos governadores a oposição do PSDB governará 8 estados ( 64, 2 milhões de brasileiros), ou seja, 47,5 do eleitorado. São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Tocantis, Alagoas, Pará, Roraima e Goiás. O DEM, Santa Catarina e o Rio Grande do Norte. Muita gente, portanto.

-A vitória do atual governo, entretanto, fez com agora tenham controle sobre o Senado. Roça, pessoal, agora a coisa ficou mais feia ainda!

Esses números são para que todos, principalmente o governo, pensem um pouco, se não for pedir o impossível.
Graças a Deus não existe unanimidade, ela é sempre burra como dizia Nélson Rodrigues e o PT vai ter que continuar convivendo com gente que não vota nele, sequer os apoia e que certamente tem alguma voz nesse país.
Lamento, entretanto, demais, o "guia" ter escolhido uma pessoa tão antipática, tão sem experiência, tão chata, sem carisma, sem perfil, ou com um meio arrevezado, para sucede-lo. Por outro lado, fiquei pensando, se escolhesse alguém mais competente e experimentado não conseguiria " mexer os fios" do boneco com tanta facilidade para fazê-lo se mover.

Dona Dilma não representa " as mulheres " no poder. Não para mim. Sua figura grosseira, seus modos de sargento, seu cenho carregado, sua notória grosseria e prepotência no trato com os subalternos passa longe do que é ser feminina e mulher. Ela é o estereótipo de mulheres com poder, quase um jagunço.

Registro aqui meu eterno orgulho aos paulistas e paulistanos pela enorme votação que deram ao candidato da oposição José Serra.
Tenho imenso orgulho de ter nascido aqui, somos duros na queda, somos firmes em nossa vocação para o progresso, para a competência, para continuarmos sendo o que sempre fomos: a vanguarda desse país.
Não é de graça que São Paulo é a capital cultural do Brasil. Biodiversa, eclética, inquieta, terrível e maravilhosa.
Nossa história sempre foi de luta, de rebeldia e é preciso um pouco mais para nos convencer.
Políticas marqueteiras, discursos inflamados e ameaças não surtem efeito por esses lados.

O lema de nossa cidade continua o mesmo " NON DUCOR, DUCO"! ( Não sou conduzido, conduzo)
Parabéns São Paulo! Sou imensamente feliz vivendo aqui.