sexta-feira, 30 de abril de 2010

Preciso dizer que te amo.




Lindo final de semana! com os versos do poeta.


Preciso Dizer Que Eu Te Amo

Composição: Bebel Gilberto / Cazuza / Dé

Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo, que medo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo tanto

E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo tanto

Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando em cada riso teu
Qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira

Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto

http://www.youtube.com/watch?v=o6SRkS-tTvU

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A Arte do Mosaico





Ok, vou fazer um mosaico.
Feito de pequenos pedaços, cacos, pequeninas pecinhas, vou montar mais um...
Dessa vez não será nem uma mesa, nem a libélula que, um dia, coloquei na parede de entrada da casa. Esse será outro
Talvez fique igualmente belo, mas será outro.
Os pedacinhos serão os dos sonhos da juventude, os dos tão grandiosos sonhos não realizados...Cada palavra dura, cada silêncio denso e carregado de mágoas, cada distância e abandono criaram esses mil pedacinhos...
Em cada um, um momento, um rápido instante de delicada alegria...Um suspiro de amor, um beijo roubado, um projeto de vida, um sentimento tão intenso que chegava a doer, uma entrega, confiante e cheia de luz, uma confiança no que não era para ser confiável...
Pena que não dá mais para ver assim quebradinho, mas havia tanta cor, tantas formas, tantas belas e únicas imagens quando eram inteiros...Pena...
Estou sentada aqui, juntando os pedaços, pensando no que vai conseguir juntá-los num desenho simétrico e harmonioso de se olhar..
Será que é a teimosia em buscar novos e impossíveis encaixes? Será a louca esperança de que tudo pode se transformar, mesmo coisas quebradas, em algo belo? Será a vida, essa vida doida e tão sem sentido que, implacável, traz essa obrigação de se catar, juntar e arranjar todas as coisas? Será o hábito de se estar vivo mesmo não estando?
Ou será o chamado distante, em todos aqueles pedacinhos, de que o amor, de verdade, vence tudo, pode tudo? Pode até mesmo fazer um novo coração, de mosaico, ainda bater forte e pleno de felicidade?
Não sei.
Sei que junto meus pedaços, com paciência, com esperança, com cuidado e atenção.
Um dia ficará pronto. Novo, de novo e, quem sabe? Possa mais uma vez ser preenchido pelo amor e pela felicidade...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Fio da Navalha




A Medicina, assim com M maiúsculo, aquela que é de verdade, que pesquisa e não é mercantilista, fala de doenças de difícil diagnóstico: Lúpus, Doença de Crohn, Mal de Addison, Porfiria, cisticercose, câncer de pâncreas, entre outras.
São diagnósticos muito complicados de se chegar e acabam dando verdadeiros bailes nos pobres clínicos, às vezes por apresentarem sintomas de outras tantas e mais comuns moléstias, noutras pela falta dos mesmos até que surja algum devastador...

Existem também outras doenças, comuns, descomplicadas em relação aos sintomas, conhecida por muitos, mas de diagnóstico igualmente difícil.
O alcoolismo.

Ninguém se assombra, nem fica em estado de alerta, ao ver alguém tomar seu aperitivo de final do dia, sua caipirinha junto com a feijoada ou o chopp entre amigos. Mesmo que os tais aperitivos sejam mais que 1, 2, ou a tal caipirinha vire 2,3...Ninguém se espanta.
Nossa atitude é de enorme tolerância mesmo diante de alguns excessos cometidos entre amigos, pileques, discussões, vozes alteradas e uma nitida incapacidade para falar, andar ou mesmo dirigir um carro. Ou ficamos bravos quando a coisa é chata, mas logo perdoamos o " bebum saliente" ou achamos graça se for um bebum bem humorado.
Vamos incorporando, sem perceber, as tais bebedeiras e acabamos catalogando como personalidades polêmicas, folclóricas ou ainda justificando as mudanças como " cansaço", baixo astral, semana ruim, momento difícil, etc...
Parece palavrão falar em Alcoolismo...Para quem sofre dele e para quem suporta ao lado.
Segundo pesquisa na Internet:

O alcoolismo é o conjunto de problemas relacionados ao consumo excessivo e prolongado do álcool; é entendido como o vício de ingestão excessiva e regular de bebidas alcoólicas, e todas as conseqüências decorrentes. O alcoolismo é, portanto, um conjunto de diagnósticos.



Fazem parte dessa quadro a Tolerância e a Dependência.
Não preciso falar disso, todos, de alguma maneira, sabem do que se trata.
O que quero falar aqui é da enorme, enorme dificuldade que percebo em se olhar assim, cara a cara, o problema, sem mecanismos intelectuais que criem uma argumentação poderosa como justificativa.
Como perceber que o inocente prazer de um aperitivinho num sábado na praia deixou de ser só isso, pois a pessoa cai de bêbada, fica agressiva, inconveniente e depois nem se lembra da presepada que aprontou? Como enquadrar aquela pessoa bela, culta, inteligente, que admiramos, que conversamos, que temos tanto em comum num quadro de dependência, mesmo que ela não passe um único dia sem tomar algumas doses e jure que consegue párar quando quiser?

É mais fácil se lidar com um diagnóstico de doença terminal do que com alcoolismo...
Será que nossos preconceitos, nossa aparente conivência ( afinal a gente também gosta de uma biritinha de vez em quando...), nos impede de ver, de enxergar e, lógico, lutar contra?
O alcoolismo estigmatiza. Quando pensamos nele logo criamos a imagem do farrapo humano jogado nas calçadas, embaixo das pontes, enrolado em trapos!
Não é verdade, ou é apenas parte dela, pois esse certamente poderá ser o caminho de quem sofre com isso e não busca ajuda ( uma total deterioração social, moral, física e mental).
Conheço e conheci ex-alcoólicos médicos, artistas, músicos, homens de fortuna e educação, mulheres bacanas, belas, cultas, em todas as classes sociais, enfim...
Com alguns casos em minha família posso dizer, me perdoem se vou soar piegas ou com alguma conotação religiosa, viver próxima ao alcoólico é um inferno e o efeito é igualmente destruidor...E não há força nenhuma do mundo que os faça buscar a saída se não quiserem, se não assumirem, para si mesmos, que tem um problema.
É como caminhar no fio da navalha. Todo o tempo.

Nunca, mesmo tendo uma vivência próxima ( com minha mãe, que bebeu muito por anos e anos e um dia, quase no fundo do poço, foi buscar terapia e saiu dessa) fiz parte da liga anti-alcoólica, Não sou estraga-prazeres, nem fico pregando sobre os malefícios do mesmo, aliás adoro minha cerveja gelada, uma caipirinha bem feita e um bom vinho siciliano.Mas não tenho problema algum com isso pois não dependo de bebida para ser feliz, cantar, rir ou enfrentar perrengues. Aliás de cara "limpa" é mais produtivo pelo menos no meu caso!
Hoje vejo que não tenho, também, nenhuma dificuldade em " perceber" quando alguém está passando dos limites.
Mas observo, apenas para maior reforço e reflexão, que é muito complicado para a grande maioria das pessoas ou enxergar quem precisa de ajuda ou olhar para si mesma e descobrir que algo não vai bem, pois está buscando escape, alegria ou diversão num estado químico.
Falando, outro dia, com grande amigo que viveu e superou o terror do alcoolismo, me dizia ele que a pior parte é essa, a aceitação de que era um alcoólico, pois, ao contrário até mesmo de outros dependentes químicos ( drogas, analgésicos, etc), não havia nenhum glamour ou charme nisso, era feio, era baixo, se sentia quase um desclassificado.
Pois é, gente, assunto chato para uma segunda-feira, mas a vida tem disso, coisas chatas, desagradáveis.
E não vai adiantar a gente fingir que não existem.
O negócio é ficar atento e dar uma parada para pensar quando por acaso a perspectiva de abrir mão do whiskie do happyhour vire uma idéia insuportável, ou se não se conseguir mais curtir uma festa na base da Coca-cola. Ai, pessoal, sinto muito, me parece que é a hora de ligar o sinal amarelo.

ps- site pesquisado nesse blog: psicosite:
http://www.psicosite.com.br/tra/drg/alcoolismo.htm

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Áries e Libra/ Cancer e Capricórnio...Espaço e Tempo





Espaço e Tempo.
Sem isso não se faz nada, nem se chega a lugar algum...
Nos estudos de Astrologia temos o Zodíaco, dividindo em 12 partes iguais a banda terrestre, sobre o qual cruzam as trajetórias do Sol, Lua, planetas que avançam em cada setor.
Àries, o primeiro signo do Zodíaco, muitas vezes relacionado com o Mito do Herói, mais precisamente Jasão e os Argonautas em sua busca ao Velocino de ouro ( esse mesmo simbolizado por um carneiro) representa o princípio criador, o impulso que move e tem sede de vida. É a expressão da força que rompe barreiras, muitas vezes com violência, como quase sempre é todo o nascimento.É a consciência de existir.
Áries é o " EU".
Libra, sétimo signo do Zodíaco, representa a harmonia diante das polaridades. Está ligado à deusa da Pureza, Astréia, que ao se retirar do convívio com homens, deixou uma balança para que as coisas pudessem ser medidas, pesadas e julgadas. É a lei das normas, das condutas e não a lei do universo. Libra representa a aceitação de renúncia do "eu" em favor da justiça. É o entendimento da necessidade de "tolerância" como virtude, criando um canal entre o homem e o universo.
Libra é " O OUTRO".
Temos ai o primeiro "braço" do grande eixo do Zodíaco e da vida: O ESPAÇO.

Na quarta casa do Zodíaco temos Cancer.
O símbolo de Cancer é o Mito do caranguejo, da luta entre Hércules e a Hidra de Lerna. Ao enfrentar o monstro o herói, mordido pelo caranguejo, o esmaga. Hera, que havia enviado o caranguejo, junta os seus pedaços e o envia aos céus, criando nova constelação. Câncer representa a fecundidade, a ovulação, o lar da família que ampara e protege, a mãe, a memória que será sempre preservada. O mundo esmaga e desfigura nossa imagem, mas ainda assim "juntamos" os pedaços como enorme quebra-cabeças, salvando-a da perda total.
Câncer é "O PASSADO", o guardião de nossa história, do que herdamos.
Capricórnio, décima casa do Zodíaco é simbolizado pelo mito da cabra Amaltéia, que teria amamentado o deus Júpiter.Ela escondeu e protegeu o deus recém nascido da fúria de Saturno, seu pai. Quando menino, Jupiter numa brincadeira quebrou um dos seus chifres, mas para compensá-la prometeu que desse chifre, a " cornucópia", sempre brotariam riquezas e abundância. Capricórnio está associado á subida lenta, persistente em direção às nossas metas. A vontade firme e fria para não desistirmos diante dos obstáculos que se interpôem entre nós e nossos projetos.
Capricórnio é " O FUTURO", o que vai ter sempre que enfrentar o grande senhor do tempo, Saturno.
Aqui temos o segundo "braço" astrológico,O TEMPO.

Nesses eixos está o entendimento de muito do que somos, numa carta astrológica.
Quem sou eu? Como me enxergo, qual a imagem que tenho e mostro ao mundo? O que pretendo, de onde venho, para onde vou? Como me relaciono com tudo?

No meu caso a coisa é bastante dúbia. Tenho Gêmeos na casa 1, na casa de Àries, portanto sempre me comunico muito, falo demais, tenho movimentos contraditórias, mudo de idéia, aliás, tenho sempre muitas idéias..rs.

Não vou analisar meu mapa aqui, mas digo, tive a sorte de ter um terapeuta junguiano, que olhou com muito cuidado e carinho isso tudo e tentou me ajudar.
Tenho configurações estranhas, uma enorme dificuldade em ser " eu mesma", de falar " não", de colocar minhas necessidades antes das dos outros...
Em meu mapa astral Àries está na CASA 10, o que isso quer dizer?
Minha meta, meu grande projeto é me descobrir, aprender a ser EU mesma, sem concessões bobas, sem passar a vida me deixando prá trás.
Tenho tentado, juro que tenho, mas não é fácil. O povo acostumou comigo sempre tolerante e condescendente e toda vez que meu Áries surge é um deus nos acuda!
Não há de ser nada, vou, aos trancos e barrancos, aprendendo minha lição, em busca de maior equilíbrio e harmonia, em busca de mim mesma, com todas as dores e delicías que isso possa representar.
Bom final de semana.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Encanto...



Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto.( Guimarães Rosa)

Para Marta seria bom que fosse assim. Acordar de algum encanto.
O problema era que não conseguia...
Complicadores: um temperamento dado à fantasia, à imaginação e um tédio enorme pelo que chamavam de " realidade".
De menina, tinha amigos imaginários, aos quais dedicava quase todo o tempo que lhe permitiam sumir das vistas dos adultos. Adultos... Para a menina eram seres limitados, sem graça ou capazes de despertar interesse.
Cresceu assim, acreditando em fadas e encontros do destino. Cada pequena coisa era sinal interpretado de mudanças.
Via o tempo, os ventos, as chuvas e tempestades como linguagem. Amava o mar e suas ressacas e o escuro de antes do amanhecer. Amava Mozart, Chopin e poetas parnasianos.
Teve vida rica em amores, pois encontrou muitos príncipes disfarçados, muitos cavaleiros arturianos pelo caminho. Em todos fora feliz, pelo menos até que o cruel cotidiano não invadisse seu mundo diáfano e dourado.
Marta sonhava de olhos abertos. Escrevia versos, pintava tecidos e plantava girassóis.
Suas incursões pelo mundo real, sim haviam, eram as de alguém de passagem, de alguém que estava sempre de malas prontas, indo para algum lugar. Essa sensação fazia com que amasse aeroportos e aviões, símbolos do seu constante estado de espírito.
Teve casa, teve filhos, tinha história. Tinha, entretanto, outra vida que não dividia, rica e instigante, mas por medo, tinha medo sim, de passar por doida, mantinha em segredo.
Marta se equilibrava em dois mundos.
Os anos passavam e ainda assim ela parecia viver num paradoxo de tempo e razão.
Nos últimos anos que se soube dela gostou de alguém uma vez mais.
Não um príncipe dessa vez, mas uma pessoa com todos os elementos para faze-la amar de novo: alguém impossível, fora do alcance de suas mãos e coração. E para piorar a estória, era correspondida. Foi um amor de livros,de romance de cavalaria! Um tempo feito de olhares e bilhetes escondidos, de palavras sussurradas e de segredo.
Marta passou dias enchendo páginas e páginas de muitos cadernos, que nunca mostrou a ninguém, tratando desse afeto feito de ilusão e fantasia.
Mas foi só. O amado, menos afeito a tais divagações, logo cansou de tantas impossibilidades e retornou ao mundo normal e previsível que vivera até então.
Houve dor e sofrimento, mas não desespero, sempre fora assim, ela concluiu serenamente.
Um dia Marta sumiu. Saiu de casa, bateu a porta atrás de si e seguiu pela rua arborizada carregando uma pequena valise.
Nunca foi encontrada, nem poderia, pois Marta sabia que só são encontradas as pessoas que querem ser encontradas, o que não era o seu caso.
Dizem que foi morar à beira-mar, numa praia distante, numa casinha arranjada com pescadores.
Contam que passa os dias escrevendo e olhando o mar á espera das tempestades.
Dizem que se apaixonou pelo próprio Netuno e que esse, também apaixonado vem, nas noites escuras, visitá-la...

domingo, 18 de abril de 2010

Viver e morrer.






O assunto não é agradável dia nenhum, muito menos num domingo ensolarado. Mas está aí, aliás passa pela cabeça de todo mundo de vez em quando ( ou de vez em sempre...).
A morte.
Andei lendo sobre as alterações no Código de Ética Médica que agora veta os tratamentos inúteis e dolorosos para doentes sem esperança. Reproduzo "Em vez de ações “inúteis ou obstinadas”, como diz o texto, é aconselhada a adoção de cuidados paliativos, que reduzem o sofrimento do doente".

Esse tema já deu muita discussão e ainda vai dar.
Convenhamos, é realmente um crueldade certos procedimentos invasivos e terrivelmente dolorosos, quando o corpo já não tem como reagir a qualquer coisa.
E sempre achei que o paciente tem o direito de decidir o encaminhamento de tudo que será feito com ele.
Infelizmente passei por alguns momentos em que essa discussão esteve presente.Com meus pais.
Papai padeceu com Mal de Parkinson por muitos anos, doença cruel, progressiva, sem cura e que ao mesmo tempo não mata. Não ela em si, mas vai minando todos os outros sistemas por conta das limitações que vai impondo ao doente. Papai, em seus momentos de lucidez, pedia que não o levasse ao hospital durante as crises respiratórios que tinha, pois a experiência de dias numa UTI fora pavorosa. Solidão, luz em excesso todo o tempo, fios e aparelhos por todos os lados, enfim, o Inferno de Dante.
Numa manhã de uma segunda-feira, após o final de semana todo em crise, assistido em casa e cercado pelo carinho de todos nós e seu enfermeiro, papai partiu. Fizemos a sua vontade.
Com minha mãe a coisa foi mais complicada. Ela, sofrendo horrores com um câncer de pâncreas, teve que ser levada ao hospital.Público. Lá, ao ser confirmada a gravidade do seu estado, os maravilhosos médicos, no caso, um jovem residente, nos chamou e com muita delicadeza, escolhendo bem as palavras, sugeriu que somente amenizassemos o sofrimento e dores terríveis, sem nenhum outro procedimento além desse. Disse ele que minha mãe, uma senhora de 78 anos, merecia todo conforto e dignidade. Também nos alertou que a morfina, fenergan e outros medicamentos que seriam ministrados via soro, acabariam por deprimir o corpo já cansado e sem resposta, levando-a a partir serenamente.
Me despedi dela minutos antes do começo do soro e fiquei ao seu lado até que ela adormeceu para sempre.
Viver é uma escolha.
Como enxergamos nossa vida, as escolhas que fazemos, tudo, de alimentação à amores. Podemos optar por viver intensamente, amando, desamando, ganhando, perdendo ou passar em brancas nuvens, mas a escolha é nossa.
Temos que ter o direito de escolher como morrer. Com luta, com tentativas de todos os tipos, com tratamentos experimentais, dolorosos, ou passar os últimos momentos em paz, com nossos amigos, livros, músicas e sem dor.
Não é um assunto fácil, nem bacana, mas não podemos escapar disso.
Já avisei o povo aqui: nada de terror, nada de desgastes inúteis que acabam torturando todo mundo, o doente e os que o cercam. Não quero sentir dor, só isso.
Quero a vida e a morte assim.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Um dia...




Um dia. Um dia por vez.
Claro que sua mente entendia perfeitamente isso. Quase que como dogma.
Não dava, mesmo que quisesse, viver dois,tres, quatro dias ao mesmo tempo...
Essa idéia fez nascer um sorriso no rosto da mulher.
Nem menina nem velha, uma mulher já conhecedora de muitas coisas do mundo e seus ajustes.
Um dia, não mais que um dia, cantou o poeta. Ela lembrou e sorriu de novo.
Estava só, imersa entre almofadas do sofá. Do lado de fora o dia morria...
Mais um dia...
Faltava um dia para que ela, alheia aos costumes e tradições, encontrasse aquele que tornava os minutos, horas, quase que um vida inteira...
Pensou nas mulheres da família. Seriam como os Atreus? Amaldiçoado clã?
O certo é que todas, ou quase todas elas as mulheres de sua família, amaram homens por quem não podiam se apaixonar...Nada foi fácil para elas...
E todas, essas que sofreram com isso, optaram pela não luta, pelo abandono, por manter as sólidas relações familiares em troca de seus corações dilacerados...
Um dia.
Não, mesmo tendo sido toda uma vida uma pessoa que amava a história e literatura, não fazia sentido acreditar em lendas, maldições ou mitos.Será?
Mas por que tinha que ter se apaixonado por ele?
Homens tinha conhecido muitos, melhores, mais cultos, mais belos, mais preparados para levar a vida ao seu lado. Mas tinha se apaixonado por ele...
Vida, interesses, afinidades, meios e sonhos. Tudo completamente diferente.
Mas ali, diante dos olhos perdidos no amarelo por-do-sol, era a imagem dele, com todos os seus calcanhares de Aquiles, que enchia sua alma e tirava o ar.
Um dia.
No outro dia, no tinha que nascer de qualquer jeito, ele chegaria.
Com todos os seus impedimentos e perigo, mas ainda assim viria.
Não seria livre, como ela não era, não seria público, nem poderia. Ainda assim ele viria, para, em cada momento roubado da atenção de todos, ele fincasse estacas profundas e eternas no coração, disparado, da mulher.
Por mim basta um dia, cantarolou.
Um dia, alguns minutos. E estava feito.
Sabia que, como as mulheres que a antecederam, as da sua família, não haveriam disputas, lutas, confrontos, mas a conformação, a nostalgia, a memória do que foi e não foi vivido.
Não tem importância, pensou.
E sorriu de novo. Sempre haveria ele, num tempo não descoberto, não conhecido, não revelado. Num blog qualquer, num texto, num trecho de segredo de seu coração.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Ah..Esse Luiz....

Meu queridíssimo amigo e paciente leitor, Luiz Cicala, " botou reparo" na minha última postagem " Ah! Essas mulheres"...
Como sua admiradora, amigo querido, resolvi "blogar" não minha defesa, uma vez que esse não é tribunal..rs..mas te contar sobre alguns pensamentos que me ocorreram ao te ler.
Vamos lá.
Sobre meu comentário diante da decalaração da Dilma sobre os exilados, você me apontou:
Mas eu falava de fatos e versões e, de fato, se lermos e relermos a transcrição do que a mulher disse, seremos forçados a esta decepcionante conclusão: ela não disse nada daquilo que lhe foi atribuído, nada, rigorosamente nada. Em nenhum momento pronunciou as palavras ‘exílio’, ‘exilado’ ou ‘ex-exilado’ e muito menos ‘fujão’.
Palavras ou parole, parole, parole...lembra dessa canção!? Uma delícia, né?
Voltando, palavras são perigosas, aliás a linguagem o é.
Será que seria preciso Dona Dilma colocar essas palavras que você citou? Citação dela "Eu não fujo da luta".
Ora, quem fugiu? E no caso de alguém(!) ter fugido,quem foge chama-se, chama-se....."fujão"...Ou não?
Dona Marina Silva corrobora esse meu raciocínio (e de muitos que leram)...Não são fujões. Todos aqueles que saíram do Brasil não fugiram.
Penso que nossa desavença de opiniões é semântica.
Aliás, pelo que me lembro, em todos os documentos, mesmo os internos do Partido, Nazista, nunca foram usadas palavras como " extermínio", "câmaras de gás", "genocídio"...as palavras eram " solução final", " despiolhamento" e " limpeza racial"...O fato é que com ou sem eufemismos, com essas ou aquelas palavras a coisa toda andou.
O dito pelo não dito não muda o coração, a intenção...( ou o não dito pelo dito)
Comparação meio pesada, mesmo para a nossa " panzer" Dilma, mas vale como ilustração.

Meu querido e paciente amigo,a Dona Eugênia do " manjericão",de Buenos Aires, de tantos sentimentos delicados e cheios de visões irreais sou eu, mas também ela também pode ser pentelha, chata e com o estranho hábito de falar o que sente e pensa. Não poderia ser diferente aqui, nesse blog.
Como disse o poeta, nuns dias bate chuva, noutros sai o sol. Né, não?(risos)

O interessante é que essa postagem deu uma repercussão, positiva, danada, principalmente de mulheres que me lêem...Já as da Dona Romântica Eugenia, muito pouca...Vai entender...(risos).

Agora, podemos falar mais e mais sobre isso, mas tem uma coisa que não vai mudar: cá entre nós, essas donas sobre quem escrevi são umas chatas!
E, honestamente, continuo não me sentindo representada por nenhuma delas.
beijo enorme, com carinho

Dona Eugênia/Nil/Ventura

terça-feira, 13 de abril de 2010

Ah!.. Essas mulheres.





Ah! Essas mulheres...
No jornal de hoje, Folha( ou "Falha", se preferirem)de São Paulo, li sobre ações e declarações de 3 mulheres envolvidas com política.
A primeira da ex-ministra e candidata à presidência, Dilma Roussef, que em São Bernardo do Campo-SP, tascou uma declaração na qual classificou os exilados ou que se exilaram durante a ditadura militar, de " fujôes".
Reproduzo a declaração: "Eu não fujo da situação quando ela fica difícil. Eu posso apanhar, ser maltrada, como eu já fui, mas não fujo da luta. Em cada época da minha vida, eu fiz o que fiz porque acreditava naquilo. Eu mudei quando o Brasil mudou. Eu não fujo da luta. Nunca abandonei o barco" .
Certo, Dona Dilma, no intuito de atingir o seu opositor José Serra, que se exilou no Chile, acabou acertando muito gente mais séria que você, a saber: Juscelino, Miguel Arraes, Julião, FHC, Luis Carlos Prestes, Betinho, Gregório Bezerra, Chico Buarque, Gil, Caetano etc,etc, e tóim! Alguns de seus pares de partido:José Dirceu.
A ex-ministra, sempre uma jóia de simpatia, mostrou, mais uma vez, além de seu temperamento e personalidade pautados para "conciliação e diplomacia", uma terrível " falta de noção" diante de fatos e momentos históricos indiscutíveis.
Essa senhora optou pela luta armada. Certo, mas se esqueceu de avaliar os resultados, inclusive de ações que ela mesma praticou...Antes tivesse " fugido"
A segunda mulher sobre quem li é da também candidata Marina Silva, do PV: Não são fujões. Todos aqueles que saíram do Brasil não fugiram. Fizeram um ato de legítima defesa de sua vida, porque é assim que cada pessoa faz quando se sente ameaçada". Concordo, Marina, ponto para você!
Tenho simpatia por Marina, essa uma senhora delicada, sonhadora e com biografia de superação, mas, sinceramente? Esse ar meio evangélico demais me incomoda um pouco. Tratar questões ambientais me parece que ela faz bem, tem conhecimento, tem respaldo e credibilidade mas, e as grandes questões do mundo moderno? Aborto, drogas, violência, admistração dos bens públicos, obras gigantescas de infra, enfim. Será que sua visão, mesclada aos seus ideais religiosos não vai atrapalhar um pouco?
Arrematando minha manhã de " leitura feminina" veio a sempre chata Marta Suplicy. Falava ela sobre sua possível disputa a uma vaga no Senado ( não pode ser, ninguém merece!). Isso e aquilo, aquelas sua frases de sempre que falam, falam e não falam nada. Aliás, semana passada a loira espevitada e casadoira ( não, não é a Ana Maria Braga, mas Marta mesmo!) andou pedindo desculpas ao Kassab, pelo comportamento preconceituoso que teve durante a campanha que o elegeu. As perguntas capciosas que dirigiu ao então candidato nitidamente destilavam uma inexplicável homofobia para o curriculum de " sexológa" da moça.
Pois bem, hoje, dentre outras coisas, ela dizia se espantar com a dificuldade das mulheres na política: Tem gente que não vota em mulher, e não podemos perder a oportunidade de fazer pesquisas e saber o porquê. Isso vai deixar um histórico muito importante para as mulheres, para nossas filhas e nossas netas que quiserem entrar na política. Temos uma chance única com a Dilma e com a Marina. .
Madame, vou tentar explicar. Olha só o que está sendo proposto: Ou Dilma ou Marina e a senhora no Senado. Não dá.
Que tal deixar de lado esse tom feminista e tratar de buscar as razões em outros campos? Percepção, preparo real, competência e real envolvimento e dedicação já seriam um bom começo. Em homens e mulheres.
Eu, como mulher, sinceramente não me sinto representada por nenhuma dessas moças/senhoras. Nem por uma Ideli Salvatti, nem por Soninha, nem pela Dra Havanir, Yeda Crusius, Roseana Sarney ou Heloísa Helena. Sorry, mas não me sinto mesmo!
Só sei que pelo andar da carruagem cada vez mais será complicado termos, de verdade, alguém no nosso( meu) sexo, nos representando no cenário político. Alguém sem caras e bocas, sem estereótipos de " mulher-macho", que agregue o que temos de melhor em nosso gênero: mente e coração trabalhando juntos.
Somos hoje excelentes mães, empresárias, mestras, cientistas, médicas, pesquisadoras, artistas, pensadoras, diretoras de cinema, tudo ao mesmo tempo, mas ainda não aprendemos a lidar com mundo da política. Por que será?
Ah! Essas mulheres.

domingo, 11 de abril de 2010

A arte de jogar Mahjong


Jogar Mahjong...
Adoro.
Antigo jogo chinês, parece que foi criado 500 anos antes da Era cristã, nos tempos do Imperador Wu e é também chamado de Mah-Jong.
Um jogo aparentemente simples, de encontrar pares entre as peças, ele exerce sobre mim o estranho poder de me manter concentrada e fazer com que meus pensamentos fluam melhor.
Sempre que estou com alguma questão mais complicada, abro o jogo e em alguns minutos, não, não acontece a mágica da solução surgir, mas consigo organizar as idéias, controlar minha ansiedade, dominar meu medo.
Fico assim, jogando, ganhando, perdendo e aos poucos minha aflição parece dimunuir.
Li, tempos atrás, numa revista ou jornal, artigo falando de " ginástica para a mente", explicando que, como se fosse um músculo o qual fortalecemos através de exercícios, nosso cérebro também se beneficia com certas práticas: palavras cruzadas, sudoku, alternar os movimentos de pernas e braços enquanto caminhamos, fazer contas, jogar paciência, jogos de memória, etc.
Sabe que acho que isso pode ser verdade?
Nossa memória, lucidez, acuidade, podem ser treinadas.
Tentar lembrar números de telefone ao invés de clicar na lista de telefones do celular, escrever sempre, ler muito, fazer cálculos sem máquinas, acho que essas coisas refrescam nossa cabeça. A minha, pelo menos, refresca.
O mahjong, entretanto, traz, além dos benefícios que sinto, uma delicada lembrança: minha querida e saudosa sogra, Nancy, ou Shum Nga Yee, avó da Luiza, que invariavelmente jogava todos os finais de semana com o marido e um grupinho de velhinos chineses...Eu ficava fascinada com a rapidez e agilidade com que eles jogavam...
Não sei onde está o jogo, de pedras, que era dela.
Jogar mahjong, disciplinar a mente, a paciência, a destreza visual, não parece legal?
Pois tente, compre um ou baixe o programa no computador.
Sente tranquilamente e se delicie com as flores, dragões, ideogramas, simbolos tão antigos e conhecidos de nossa alma.Vai descobrir que o efeito é bom, relaxante e que enquanto joga a mente voa, os pensamentos fluem.
Bom domingo para todos!

sábado, 10 de abril de 2010

Conquistador







Cada momento é sempre uma conquista. Sobre o Tempo, sobre nós mesmos.
Claro, falar em conquistas nos remete a atos heróicos, aos grandes conquistadores, de Genghis Khan à Julio Cesar, passando por Pizón, Vespuccio, Alexandre, Vercingetórix, Napoleão e por aí vai.
Mas não, falo de nós mesmos, de mim mesma, em minhas pequenas conquistas, discretas, sem registros históricos, de cada dia.
Conquistar o direito de ser eu mesma, de falar "não" ou mesmo a resolução após muitas tentativas, de um " majhong" mais complicado...São conquistas, que pediram muito esforço, muita dedicação e vontade, sem os quais me manteria estagnada num sentimento terrível de derrota.
É bom isso, conquistar. E é bom ser conquistada! Por um olhar, uma frase, um recadinho, e-mail ou torpedo de celular. Descobrir que algo, alguém, descobriu o caminho do meu coração, dos meus sentimentos, das minhas mais escondidas necessidades.
Todos dias conquisto algo, se não nada aparente, conquistei mais um dia nessa vida doida, 24hs, minutos e segundos preciosos que me permitem aprender mais e mais sobre mim, sobre quase tudo.
Triste é quando se desiste disso, de conquistar, de um lugar ao sol ou um lugarzinho na praia para tomar sol, pouco importa. Aí morremos, deixamos de existir, de crescer e passamos o enxergar o tempo, ou Tempo, como carrasco.
Tenho espírito de conquistador, já fui, reconheço, mais aventureira, mais ousada, mas sei que ainda vive em mim esse estado de " buscar sempre", de não me submeter nunca, de pensar todo tempo em saídas para situações que me atormentam.
Como os grandes conquistadores da História tenho certeza de que o munda não pára por aqui, que existe muito a se fazer e encontrar, que limites, fronteiras, margens, estão aí para nos desafiar a cruzá-los. E que do outro lado podemos nos tornar melhores, mais sábios, mais verdadeiros.
É isso aí, na luta, quebrando marcas, resistindo, tratando de alterar, buscando, sem cansaço ou desânimo, a minha felicidade.

Ótimo sábado.